sábado, 24 de dezembro de 2005

Já começou

E está aí mais uma vez o zeitgeist de final de ano. Apreciação culinária é meu forte nessa época. Época apressada e ruidosa. Papai Noel, Rudolph do Nariz Vermelho, menino Jesus, Mr. Hanky, presépio, guirlanda, pinheiros enfeitados, artesanato de papel crepom, cordéis de luzes pisca-pisca com 100 mini-lâmpadas, centros de compras lotados, povo das antigas talvez recorde a propaganda do Banco Nacional (a vinheta da TV Globo continua ("O futuro já começou", bla bla bla)), cartões, abraços bregamente efusivos e hipócritas, hora de acalentar esperanças e descontos de 20%, filmes de ocasião, CDs e DVDs de ocasião, solidariedade de ocasião (aquele agitator aidético, tsc, tsc), a trilha sonora que impregna: [Jingle Bells, Deck The Halls, Noite Feliz, Adeste Fideles, melodias de harpa, releitura de Lennon pela Simone], especial do Roberto Carlos, desenhos animados adaptando a história de Charles Dickens sobre os 3 fantasmas, insuportáveis garotos(as)-enxaqueca lembrando-nos a cada 5 minutos de que tudo não passa de invenção do comércio, música do Vangelis no anúncio televisivo da corrida São Silvestre, Milagre Na Rua 34, A Felicidade Não Se Compra, sisudos balconistas de loja usando gorrinhos encarnados, caixinha de funcionários, roupa branca, Sidra Cereser, as taças afuniladas sempre repletas e com a meia rodela de limão na borda, bacalhau da promoção, panetone, lasanha gratinada, torta de pêssego, noz, avelã, votos (no estilo Coxinha) de felicidade e de prosperidade, o espocar de carabina da tampa do champanhe - a espuma escorrendo, a garrafa um vulcão lambuzado de lava a pingar no chão da sala gotas de basalto fermentado -, pular onda na praia, programas de retrospectiva, o caos das explosões de fogos de artifício, metas - candidatas a negligências - para os próximos doze meses.

Mas invocado mesmo é aqui, agora, esse cheiro de peru ou de chester, sei lá, assando. E a casa cheia de gente mais ou menos civilizada. Vejo nessas festividades domésticas de dezembro algo simultaneamente cafona e irresistível. É uma excelente desculpa para nos entupirmos das iguarias típicas do período e reunir pessoas gradas, parentes ou não, que moram longe e/ou dificilmente têm tempo durante o resto do ano.

Presentinhos são bem-vindos, é lógico.

E como diria Joey Ramone, seus bastardos: Merry Christmas, I don't want to fight tonight.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Morte súbita

Registro de morte súbita no futebol do Ceará. Não o esquema para desempatar partida. Morte súbita de fato. O sujeito de repente desfalece e pof, morre.

Um jogador do Ferroviário Atlético Clube - F.A.C. (vulgo Ferrim) faleceu depois de um treinamento físico na Vila Olímpica Elzir Cabral. Parada cardíaca, dizem. Tinha 23 anos de idade.

Nesse momento é que gosto de pensar na minha condição de detentor vitalício do troféu Bola Quadrada e do título Canela de Pinóquio. Meu recorde de embaixadinhas pode ser contado nos dedos da mão mutilada do Lula, e chego ao cúmulo de não torcer por um time. Eu simpatizava era com o International Superstar Soccer, do Super Nintendo. Pontos fortes desse antigo game: sem voz do Galvão Bueno, nem reportagem do Victor Hannover, nem goleiro chamando técnico de "professor". Decorei uns nomes acolá. Chelsea, Milan, Boca Juniors, Kashima Antlers, Real Madrid, Paysandu, Icasa.

Lembro quando eu batia perna pelas cercanias do Elzir Cabral. Costumava ficar umas manhãs dedicadas ao ócio nos bancos de uma praça que havia ali por perto. Não se viam craques marcando presença num Pajero cheio de loiras flamantes. Alguns caras vinham para o treino era de Paranjana 1 ou 2.

Mas voltando ao assunto. Futebol para mim sempre foi que nem guerra. Nada de participar. Os lances decisivos e as mortes, cabeçadas e carrinhos na zona do agrião, só pelo noticiário. Os sedentários cervejeiros e pançudos que cultuam seus rachas do santo fim de semana que se cuidem.

Um pouco mais sobre bola, beligerância e óbitos: acompanhando um desses edificantes programas mundo cão, vi um quebra-pau de grandes proporções, digno de filme tipo O Senhor Dos Anéis, em que sobrou chibata até para policiais, durante um campeonato de futebol amador no interior. E houve também aqueles torcedores do Fortaleza agraciados com uma chuva de tiros no RJ. Todos ligados na mesma emoção. Que bonito é.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Sayonara

O Sr. Miyagi - muitos insistem em chamá-lo de Pat Morita - morreu.

Foi-se o simpático semblante impassível que parecia com uma eterna expressão de quem atingiu o nirvana. Para este momento, recomendo uma daquelas pílulas de sutileza oriental em forma de frase conhecidas como koan (enigma sem solução):

Para onde vai a luz da lâmpada quando ela queima?

* 1932      + 2005

quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Sin City

Não sou de engolir tudo que sai em jornal igual a punhados de farinha seca depois do almoço, aliás, sei nem por que cargas d'água de açude continuo a ler essas besteiras. Mas, perambulando os olhos por uma reportagem de segunda-feira (28 de novembro), vi que lá constava que nosso vilarejo de Fortaleza foi considerado, "segundo dados do Ministério da Saúde, a oitava cidade mais violenta do Brasil. Somente em 2004, a cidade alcançou a marca de 551 homicídios, 124 suicídios e 425 acidentes em transportes terrestres. Em 2003, a capital do Ceará figurou na sexta posição do ranking. [...] Entre os critérios utilizados estão dados sobre agressões físicas, violência familiar e doméstica, exploração sexual de crianças e adolescentes, além da violência institucional."

Deve ser um barato para mim, que nasci e resido na província contemplada com o prêmio de a 8ª mais sanguinolenta das redondezas, prato cheio para o trio parada dura Gil Gomes, Homem do Sapato Branco & Ely Aguiar. É caminhar pelas ruas decadentistas do Centro e sentir o odor de tensão e de perigo iminente hollywoodianos. O orgulho de andar entre os folclóricos cabras-macho, dispostos a fazer o caldo vermelho jorrar das veias alheias pelo mais banal e improvável dos motivos. Isso além dos assaltantes, dos pontos de venda de crack, da gangue Missão Impossível do Banco Central, da polícia banda podre, dos pistoleiros, dos deputados coiteiros de pistoleiros, dos seqüestros-relâmpago. Daria até um belo título para um daqueles folhetinhos de cordel escritos por plantadores de mandioca ou por sanfoneiros de zona: É o diabo dos estrupícios marmotosos fazendo malvadeza e presepada pelo mêi do mundo.

"Procurada pelo [jornal] para comentar o assunto, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) mandou dizer pela assessoria de imprensa que discorda da pesquisa. Segundo a secretaria, uma outra pesquisa, realizada pelo Ministério da Justiça, apontaria a capital do Ceará como uma das mais tranqüilas do Brasil."

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

O que fazer

Acabou a paralisação na Universidade Federal do Ceará (UFC). Encerrado o forrobodó rela-bucho dos afetados pela síndrome Sassá Mutema de salvador da pátria.

Os (ex-)líderes grevistas representantes comerciais dos partidecos com ampla infiltração no mundinho das faculdades, para garantir suas fontes de fama, terão de ir à caça de outros ardis para magnetizar a simpatia de iludidos úteis e os holofotes dos midiotas da imprensa cantada durante o iminente período de entressafra de rebeliões.

Aliás, todos nós, cidadãos de bem católicos macumbólicos romanos que votamos no Eymael democrata cristão ou no José Serra mordomo da família Addams, sabemos que neste momento a choldra de pivetes cabeça-de-bagre do Comitê Revolucionário Ultrajovem deve é estar comentando:

Camaradas, que fazer? É osso, o jeito foi parar o lance da greve. Ao contrário do previsto e expressamente combinado com os chefes do alto escalão mundial, o financiamento oriundo de prostituição de Havana, de cocaína de Cali, de mísseis de Bagdá, de glocks do Rio de Janeiro, de tráfico de vodka de Moscou, de gotinhas de petróleo de Caracas, de trabalho escravo de Pyongyang, de caraminguás que sobraram do Prêmio Nobel do Saramago, do leilão de um uniforme do Che, e (porra, exceto pela saudosa C
ortina, ninguém é de ferro!) de cents de lavagem de dinheiro de Wall Street, por algum estranho motivo não chegou até nós, o que nos forçou a declarar suspensas as atividades para nosso verdadeiro objetivo, que era provocar a eclosão nacional do movimento, derrubar esse desgoverno direitista do traidor sapo barbudo e transformar nosso querido Brasil em país modelo da revolução.

Oh-oh. Whitney Houston, temos um problema. Meninos & meninas, acho que a corriola de vocês foi mais uma vítima títere nas garras das múmias comedoras de criancinha que controlam das sombras a lucrativa máquina contra a máquina. Melhor sorte da próxima vez. Greve is in the heart.

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Textículo

A CACHAÇA

A cachaça faz mal? Pfff, palhaçada. Sagaz, já a par, manja a façanha da malvada: alcançar as altas alas da alma. Garapa danada. Santa a amada cachaça, altar: bar; cada talagada, sagrada. Mas calma! Mar da cana atasca na lama, acaba famas, avacalha as castas damas, atrapalha trabalhar, mancha lar, capaz matar. Caras há: tantas mamam, (fatal!), acabam na tranca; azar da cambada, babacas. Largar? "Nã nã nã nã". Falta fará. Abrasar a garganta, nada mal, mas passar da taxa cavalar, arrasa, rasga. A calçada balança, as palavras faltam, andar cansa, assaz passar-mal; abalada, a fala trava. Falta nada para acabar na grama das praças, nas cagadas da pardalzada, a cantar mantras. Carnaval da bagaça. Passada a farra banal, vasta carga: achar, a zanzar, a casa. Já Cabral traçava altas garrafas. Haja tanta cana. Da brava.

OBS: No textículo (pequeno texto) acima, o exercício (bobinho, verdade seja escrita) foi: a única vogal que deveria aparecer seria a letra a.

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Ferinados

Ferinados = feriado + finados.

Dia dedicado a quem foi dessa para melhor, bateu as botas, papocou com linha e tudo, rumou para a cidade dos pés juntos, migrou às cucuias, despachado para o beleléu, vestiu o paletó de madeira, está comendo grama pela raiz, parou o relógio, virou presunto, reduziu-se a fantasma, pifou a biela, queimou o fusível, fechou a conta. E que motivo maior para comemorações hoje que o fato de eu não ser um dos homenageados?

Para incrementar, com uma parca contribuição, a festança em torno da Grande M., mando aí uma performance-devaneio do mestre de cerimônias José Mojica "Zé do Caixão" Marins. Também em versão áudio.

E boa mor, ops, bom feriado a todos.

PRENUNCIO

Quem sou eu
Não interessa
Como também não interessa
Quem é você
Interessa é saber o que somos:
A Vida ou a Morte?
Coragem ou Medo?
Em resumo, o que procuras?
O Paraíso ou
O Inferno?
O que é mais violento:
Os animais?
A força da Natureza?
NÃÃÃO!
É o aprisionamento
Da liberdade de expressão
Sentir, ouvir
E não poder falar
De que servem as regras,
Burocracia, sistemas e leis
Se o Carrasco no Poder
Degola a nossa cultura?
Ah, você não se importa
Com o destino do mundo
És corajoso demais
Então por que tremes
Diante do caixão?
Seu melhor amigo
Evita a sepultura,
Sua certa e última morada
Ah-haha, temes a Batalha do Armagedon?
A Ira do Leviatã?
O Apocalipse Final?
Mas por que esse temor?
Se passaste por todos os prazeres terrenos,
Os Sete Pecados Capitais
E todas as aberrações sexuais
Hummm, porque está ciente de que não existe o Terror
No entanto, o Terror o aprisiona
Mas o que é o Terror?
HAHAHA...!
Não aceita o Terror
Porque o Terror
É VOCÊÊÊ

Para ouvir:

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Bang Bang

Pelo curso de Computação circula uma piada que acho bem oportuna para esses dias próximos ao refedendo, ops, referendo.

O sujeito está no lab, enrolado com uma tarefa de programação. Um bug que não resolve de jeito maneira. Aproximo-me furtivamente e observo a cena, o noob olhando desconsolado para o monitor e zanzando a vista pelas linhas do algoritmo à caça de erro, praticamente vivendo um momento onde-está-Wally. Seguem-se modificações e compilações. A falha aparentemente fantasma insiste em assombrar a tela. É quando digo, com uma voz de Geraaaaldo: "O erro aí está entre a cadeira e o teclado."

Problema sobre esse papo de armas de fogo no Brasil: o grande equívoco está logo ali, trapaça escondendo-se atrás do cano fumegante do trabuco Smith & Wesson, brincando de Travis Bickle versus espelho, pressionando o gatilho, afagando a culatra ou dando cordinha no tambor de balas.

É só lembrar também a anedota do corno e do sofá. Um de nossos talentos é desviar o foco da conversa.

Diga sim à proibição? E lá vem a velha cambada de bundões pacifistóides radicais apresentar sua artilharia de idéias levianas.

Serei mesário. Podem rir.

Gimme back my bullets. Put 'em back where they belong.

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Piva

Não manjo de poesia. Googleando o nome do poeta Roberto Piva - a seguir, vejam o motivo -, pelo que entendi, a obra dele tem como principais características imagens oníricas, simbolismo, surrealismo, fragmentação, xamanismo. Mas parece que em política (argh) esse doido do estilo é de uma invulgar lucidez. Trecho de entrevista com ele que saiu ontem em jornaleco aqui da cidade e que me fez buscar mais informações sobre o dito cujo:

O Povo - Como vê a atual crise política?
Piva - Nunca votei no PT, acho que é um caudatário do totalitarismo de Fidel Castro. Eles são cúmplices da criminalidade castrista. Sempre achei o marxismo, para quem gosta de natureza-morta, um prato cheio. Adverti que estávamos lidando com uma quadrilha leninista. Para os jovens do futuro, a melhor definição do governo Lula é esta: foi um atentado à democracia e à gramática. Foi boa a queda, é o nosso Muro de Berlim caindo, com algum atraso. Agora só pode pintar uma outra coisa. Como na Itália. O Partido Socialista, de Bettino Craxi, afundou na corrupção, mas a Itália está lá, inteira.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

¬¬

Imaginem o seguinte: escorregar num tobogã de navalhas, cair numa piscina olímpica de álcool, ter que ir nadando até o outro lado e, quando sair, ser jogado dentro de uma bacia de sal.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

Rabichos

A quem estiver solteiro e, quiçá em conseqüência disso, de humor azedado, meu desdém a vocês nessa data querida. E haja carros de telemensagem - da série de grandes ganhadores do troféu Abacaxi das idéias de jerico - detonando Careless Whisper e Dancing Queen em versões forrozeadas, lojas com anúncios fofinhos por todos os lados, operadoras de telemarketing carregando buquês de lisases na volta do trabalho e casais inebriados desfilando aleatórios pela cidade hoje.

Dia dos rabichos.

Acho que é do tempo da minha avó o uso comum da palavra "rabicho" para designar o que atualmente é indicado por nomes serelepes como "paixão" (eita), "paquera" (eita)², "namorado".

Oportunista que também sou, envio minha reles contribuição, bem ao estilo do semi-árido, para o $entimental junho-12. Os versos a seguir, conheci-os por intermédio de um colega que é muito interessado em extravagâncias regionalistas. O autor foi um tal de Zé da Luz. E foi mal essa frescurada de versinho, mas sabem como é, love is in the air, every sight and every sound, a patacoada de sempre. Dêem um desconto aí, é até engraçadinha a composição:

AI SE SÊSSE

Ai se sêsse.
Se um dia nós se gostasse.
Se um dia nós se queresse.
Se nós dois s'impareasse.
Se juntinho nós dois vivesse.
Se juntinho nós dois morasse.
Se juntinho nós dois drumisse.
Se juntinho nós dois morresse.
Se pro céu nós assubisse.
Mas porém se acontecesse
São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse
dizer qualquer tolice.
E se eu me arriminasse
E tu com eu insistisse
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o buxo do céu furasse.
Tarvez que nós dois ficasse.
Tarvez que nós dois caísse.
E o céu furado arreasse
E as virgens todas fugisse.

O quê? Fale mais alto, Sábio Nihil Misantropo do Castelo da Montanha, não consigo escutá-lo. Não suporta essas datas comemorativas comerciais e capitalistas? O que namoro tem a ver com amor? Aaah, mulek, dê cá a patinha. Garoto esperto, vai ganhar um biscoitinho por essa.

sexta-feira, 10 de junho de 2005

Computeiros - 4.0

Indagação deveras pertinente de um colega lá na universidade, ele, estudante do curso de Química Industrial:

"Esse povo da Computação sabe o que é mulher?!"

Para vislumbrar uma resposta sinceramente afirmativa à questão, basta ter um conceito não-ortodoxo sobre a palavra "mulher": Lara Croft, Chun-Li, Cammy, Sonya Blade, Mai Shiranui, Eve, Samus Aran, Webbie Tookay...

(Essa foi a dose final e letal. Encerro aqui a série sobre esse incompreendido e árduo mister que é lidar com seres tão instáveis e neurastênicos como os computadores.)

sexta-feira, 3 de junho de 2005

Computeiros - 3.0

Gosto da área de programação (já ouço os ursinhos Fozzy: "Curte fazer programa!").

Ada Lovelace, rogai por nós.

Da série estilo auto-ajuda: como perder amigos e irritar pessoas.

Apoio: Departamento de Computação - Núcleo SIP (Serviços de Inutilidade Pública).

Requisitos Mínimos: um computador pessoal, um compilador DEV-C++.

Iniciar o DEV-C++. Teclar CTRL+N. Digitar o código:

int main( )
{
  char c;
  printf( "\nSEJA SINCERO, VOCÒ TENDE PARA A VIADAGEM?\nTECLE 0 PARA NÇO, 1 PARA SIM: " );
  while ( ( c = getche( ) ) != '1' )
        printf( "\n\n\aSEJA SINCERO, VOCÒ TENDE PARA A VIADAGEM?\nTECLE 0 PARA NÇO, 1 PARA SIM: " );
  printf( "\n\nOBRIGADO PELA SINCERIDADE!" );
  getch( );
}

Teclar CTRL+S e salvar o arquivo como teste.c. Teclar CTRL+F9. Em seguida, teclar CTRL+F10.

Enviar o programa teste.exe via e-mail a colegas estúpidos o bastante para abrir um anexo executável. E não perco essa piada: viadagem é escrever vEadagem.

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Computeiros - 2.0

Recebi a imagem ali do lado por e-mail.

O Computador Popular, dizia. Sim, porque todos sabemos da importância crucial de temas ligados à computação tais como inclusão digital, software livre, sociedade da informação, aldeia digital, informatização X desemprego, bla bla bla pocotó... Que nada, estou é frescando, esse papo todo é muito xarope, sinto até urticária só de ouvir, credo...!

Mas a foto é realmente muito boa, merecedora de aparecer em filme daquele tal Luis Buñuel. Faço minhas as palavras de Silvio Santos na hora do elogio-padrão ao quadro da câmera escondida: "Bem bolada, bem bolada".

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Computeiros - 1.0

Cursar Ciência da Computação não é tão urtiguento quanto os mistificadores de plantão inculcam por aí sertão afora. Tirando a quantidade patologicamente alta de adoradores de Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco), o resto dá para levar com esportividade. Matemática Discreta, Lógica, C.An.A. e escassa presença de alunas são alguns dos pontos preocupantes. Assim como os bichos de outras jaulas, também temos, pasmem, um acervo de anedotas sobre nosso ofício. A seguinte historinha, manjada mas eficiente:

COMPUTADORA

Conversando com um amigo boliviano muito inteligente, levantei a seguinte questão:
 

- Por que "computador" em espanhol é feminino, ou seja, vira "computadora"?

Ao que ele me respondeu categoricamente:
 

- É porque está comprovado que os computadores são do sexo feminino mesmo, sem qualquer sombra de dúvidas.

Aí eu pedi:
 

- Cite uma razão.

Ele me deu várias...


Eis aqui algumas razões que atestam, cientificamente, que os computadores são fêmeas:

1) Assim que se arranja um, aparece outro melhor na esquina.

2) Ninguém, além do criador, é capaz de entender a sua lógica interna.

3) Mesmo os menores errinhos que você comete são guardados na memória para futura referência.

4) A linguagem nativa usada na comunicação entre computadores é incompreensível para qualquer outra espécie.

5) A mensagem "bad command or file name" é tão informativa quanto, digamos, "Se você não sabe porque estou com raiva, não sou eu quem vai explicar!"

6) Assim que você opta por um computador, qualquer que seja, logo você estará gastando tudo o que ganha com acessórios para ele.

7) O computador processa informações com muita rapidez, mas não pensa.

8) O computador do seu amigo, vizinho, ou do seu escritório sempre é melhor do que o que você tem em casa.

9) O computador não faz absolutamente nada sozinho, a não ser que você dê o comando.

10) O computador sempre trava na melhor hora.

segunda-feira, 9 de maio de 2005

Bichos

Poucos são os que se lembram dos gremlins, dos bonsai cats, dos mafagafos, dos lango langos, dos kikos marinhos, dos chocobos ou dos diabinhos na garrafa. Entre os bichos extravagantes protagonistas de modas recentes, como tamagotchis, pokemons, digimons, mamíferos da Parmalat, Dogão É Mau e a filha do Sarney, os fãs dessas tranqueiras é que acabam sendo o grande destaque, mostrando-se uma fauna mais exótica que ornitorrincos e aqueles macacos de traseiro vermelho. Com esses vertebrados de natureza quase humana ocorre o seguinte: assim como os peixes das regiões abissais ficam cada vez mais estranhos à medida que a profundidade aumenta, quanto mais idade cronológica têm os seres dessa espécie, mais grotescos parecem.

A seguir, dicas para cuidar bem de um gremlin (ou mogwai) e evitar transtornos:

1) Não alimentá-lo depois da meia-noite.

2) Não expô-lo à luz.

3) Não deixá-lo ter contato com água.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Rei morto, rei posto

Comunicado urbi et orbi:

Momento histórico. Venho informar que, aqui perto de casa, o botequim Recanto da Quixabeira está Sob Nova Direção. O patrão agora é o estimado Josepftfzerkw Hotdogheilführer, descendente bastardo de alemães, de 78 anos. Conhecido no bairro por suas quatro filhas barangas e enxeridas, por suas ziquiziras e quizilas, por intrigas com vizinhos e por sua Pampa 4x4 com um paredão de som detonando guitarradas do Pará e Horst Wessel Lied, esta singular figura foi contemplada com o cargo máximo em nossa rua depois de um pacífico conclave entre os batuqueiros de caixa de fósforo e de garrafa de pinga, jogadores de sinuca dominó carteado, quitandeiros, vendedores de churrasco de gato e papudinhos das redondezas, sendo eleito de maneira unânime, tal sua popularidade e afinidade com o ofício. Entre as mais gradas lembranças de sua terra natal, ele menciona sempre, mordendo um picles e com um raminho de manjericão na orelha esquerda, o período 1939-1945. Lamentáveis incidentes compeliram-no a evadir-se às pressas de seu país, embarcando em um cargueiro da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, disfarçado de mulher e alegando ser fugitiva judia de Buchenwald. Foi assim, novelescamente, que o próximo mestre bodegueiro trouxe sua carcaça até nossas hospitaleiras plagas. O processo de votação gerou trepidante expectativa. É com pesar que registro o passamento do antigo proprietário do estabelecimento. Manco e um tanto surdo, ele atravessava incautamente a linha do trem, quando, segundo testemunhas, percebeu vagamente o estrondo do apito, mas já era tarde demais. Rest in peace/piece(s).

De tendência ultraconservadora, Josepftfzerkw promete endurecer ainda mais o regime que outrora vigorava no antro. Permanecerão valendo o Fiado só amanhã, Ao entrar Deus te abençoe ao sair Deus te acompanhe, Proibido som de carro (menos o dele, suponho), Proibido jogar lixo e Não aceitamos cartão de crédito. Continuam no cardápio o mocotó, a galinha à cabidela, o munguzá.

Haverá solenidades para marcar a ascensão desse líder carismático e asmático. Estão convidados todos os povos cristãos, do Pirambu ao Montese, para saudar o prócer e celebrar esta posse, com lugar preeminente garantido nos anais da crônica municipal. Para as festividades, temos presenças confirmadas de: Deodoro da Fonseca with lasers, general Stroessner, Tommaso Buscetta, Sinhozinho Malta, Betty Guzzo, Markinhos Moura, Soró Sereno, Barná, Simpato Yamazaki, Toninho do Diabo, R.R. Zôoares, Trio Los Angeles e Patch Adams. A Xuxa Cearense apresentará um cover de Like A Prayer, da Madonna. Será feita cobertura da TV Diário, a tevê que fala a língua da gente.

Josepftfzerkw Hotdogheilführer - frases já antológicas:

"Na minha choça mando eu. Aqui não é democracia."

"Esse negócio de gayzice é coisa de baitola. Não aceito."

"Sou católico apostólico romano. Saravá a Deus."

"Eu bebo porque é líquido."

"Ganhei? Ai vai, e tinha concorrente?!"

"Chifre e dente só dói quando nasce. E cuidado, que adultério é pecado."

"Não roubarás. Só acharás."

“Passo logo é pros Meus o que é de Deus. Sou nem besta.”

"Minha bodega über alles."

"O trabalho liberta."

sábado, 9 de abril de 2005

Trindade, Triângulo

Ontem. Notícia que chegou a meus ouvidos vinda de emanações da sala até a cozinha onde eu jantava garoupa e berinjela à milanesa com suco de maracujá, cuspida pelos alto-falantes da tevê, por sua vez vomitada pela boca flácida e desdentada do comediante Boris Casoy em um telejornal picareta e britadeira.

Um ex-padre ia a um motel com uma ex-noviça. No meio do caminho, foi assassinado, dizem as investigações, provavelmente pelo ex-marido da ex-noviça. Da Santíssima Trindade a um Triângulo Amoroso. Depois de tanto "ex-coisa-qualquer", realizar-se-ão ex-équias (sim, essa foi podre). O morto, quando vivo e quando padre, foi acusado de ter participado da morte por envenenamento de um outro padre. Esse segundo padre morto, por sua vez, já havia sido acusado de ter matado a tiros um terceiro padre. Calma, a história parou por aí. O terceiro padreco é inocente até que se prove o contrário e apareçam adultos com traumas da época em que eram coroinhas.

Engraçado é que isso passava no canal Record, mais um brinquedo nas mãos da lucrativa Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), a qual em seus programas religiosos adora queimar o filme de credos rivais. Catolicismo, espiritismo e macumba são as que mais levam peia. Comédia é ver alguns deles, IURD-istas, a comemorar fatos desse naipe, casos constrangedores envolvendo membros (ex-membros, vejam bem) da instituição concorrente. Ainda mais que a Igreja Católica anda em evidência midiática desde o falecimento do grande Karol Wojtyla.

Quem assistia ao seriado Arquivo X sabe como é: "The truth is out there."

O (ex-)padre que passeava com a (ex-)noviça deixa um filho órfão. O (ex-)seriado Arquivo X era exibido na Record e deixou na orfandade uma legião de telespectadores que não tinham TV por assinatura. Grato pela atenção. Deus lhes pague.

terça-feira, 5 de abril de 2005

Matou a família e foi ao cinema

Dias atrás, fiz uma faxina de ocasião no meu quarto-esconderijo-escritório-carapaça. Entre tanta incúria, não deu outra, tome-lhe poeira, himalaias de papéis, restos mortais de um exemplar de Tribuna Do Ceará, a cópia autografada de uma crônica do Barão de Itararé sobre viagem à antiga Tchecoslováquia, barata cascuda, pergaminhos, papiros, um guia Baedeker 1996 de San Francisco, revistas Fluir e Ação Games, teias de aranha e suas respectivas tecelãs. Quando chegou a hora de revirar as gavetas, não resisti. Puxei uma cadeira para perto e, em meio à limpeza, comecei a folhear e a ler vagamente muito do que havia dentro delas. Para surpresa minha, uma gaveta esquecida, após soprar na minha cara um hálito de mofo de sarcófago, exibiu-me recortes amarelecidos de notícias de jornal, tralhas que eu colecionava com dedicação até há bem pouco tempo. Eram de fatos curiosos, beirando o inverossímil, algo tipo Matou a família e foi ao cinema. Reproduzo quatro das jóias encontradas:

(1)

SEJA VIVO!

RUIM É QUANDO MORRE E NÃO SE ENTERRA!

NÃO COMPRE JAZIGO PELA HORA DA MORTE. NO [nome do estabelecimento] VOCÊ TEM 120 MESES, SEM JUROS, SEM CORREÇÕES, SEM TRANSTORNOS DE ÚLTIMA HORA.

É um ato de grandeza do ser humano estar consciente de que não é eterno. A compra antecipada do jazigo é importante para a família. Seja vivo, não caia nas garras do Zé do Caixão. Só o maior e mais moderno cemitério pode oferecer mais pelo menor preço.

PLANO FUNERÁRIO SEM FRONTEIRAS

* O [nome do estabelecimento] só cobra a taxa de manutenção após o uso ou numeração do jazigo.

CREMAÇÃO

- A cremação dispensa a compra ou aluguel de jazigos, não altera o ritual do funeral, que continua o mesmo. A cremação não contraria nenhum preceito religioso.

- SHOW-ROOM URNAS CINERÁRIAS

- JAZIGOS EM CONCRETO COM 3 GAVETAS

- CASTIÇAIS ELÉTRICOS E JARROS PADRONIZADOS

- PLACA DE MÁRMORE E PLAQUETAS DE BRONZE

- 2 TEMPLOS ECUMÊNICOS (COM AR REFRIGERADO)

- 10 CAPELAS (AR, TELEFONE, SOM, FRIGOBAR)

- ESTACIONAMENTO PARA ATÉ 1.000 VEÍCULOS

- LOJA DE FLORES

- RESTAURANTE E BAR

- SERVIÇO 24 HORAS

- USO: PAGAMENTO DE 30%/COMPRA ANTECIPADA

- SERVIÇO FUNERÁRIO 24 HORAS

Nossos clientes nunca voltaram para reclamar!

(2)

Amarrado a uma cadeira elétrica e conectado a eletrodos, o boneco fica com os olhos vermelhos e estremece com a descarga de eletricidade: ele é Death Row Marv (Marv Corredor da Morte), a última criação da McFarlane Toys, recomendada para "maiores de 13 anos". Com a mandíbula trincada e os nós dos dedos brancos, a figura de plástico cinzento, de apenas 15 centímetros, agita-se em sua cadeira enquanto recebe a "descarga" e grita desafiante: "Isso é o melhor que podem fazer, seus frustrados?" Ao preço de 24 dólares, as crianças americanas experimentam os horrores da câmara da morte, desta vez no papel de executoras.

Marv (diminutivo de Marvelous, Maravilhoso), em parte um herói, em parte um predador, saiu diretamente das páginas da história em quadrinhos de Frank Miller "Sin City" (Cidade Pecado) e de sua galeria de anormais e personagens raros. Nos quadrinhos, Marv é condenado à morte por ter matado um psicopata canibal que comeu a namorada, uma prostituta chamada Goldie. Death Row Marv enfrenta as críticas da Organização Nacional de Pais de Crianças Assassinadas, para a qual o brinquedo vai além dos limites do permissível. "O que virá depois, bonecas violáveis com uma garrafa de sangue? E que tal uma boneca para a prática de incesto?", se escandaliza.

Richard Dieter, diretor executivo do centro de informação sobre Penas de Morte, um grupo Independente que monitora as penas capitais, disse que Marv era "totalmente inadequado". "Volta-se para desumanizar as pessoas, fazendo com que a vida humana, que o verdadeiro valor a ser dado à vida humana, seja transformado em assunto banal, em brinquedo," opinou. Os EUA são um dos países com mais alto índice de execuções de condenados no mundo.

(3)

BRASILEIRO PODE TER NOME DE BIN LADEN

Um motorista brasileiro desempregado iniciou uma penosa luta na Justiça civil em Embu, periferia de São Paulo, para batizar seu sexto filho, nascido em 8 de setembro, com o nome de Osama bin Laden Feliciano de Oliveira Soares, o qual já está sendo chamado carinhosamente de "Osaminha".

(4)

NÃO SEI

Não sei falar Inglês nem Espanhol, não tenho curso superior, não sei puxar saco de gerente, diretor, etc. Não gosto de usar paletó e gravata, nunca dei "bola" para comprador, sei ligar e desligar um micro. Tenho 44 anos, fumo, gosto de jogar e assistir futebol, só leio jornal, sou separado (dois filhos, as coisas mais lindas do mundo), apto, veículo, tel. Fixo e cel. próprios.

Trabalhei os últimos sete anos em uma empresa multinacional vendendo (sólidos conhecimentos) Far. de Trigo, Gord. Hidrog, Lactinas, Prot. Texturizadas, Gritz e derivados de milho, atendendo as maiores indústrias de massas e biscoitos do PR, SC e Sul de SP, chegando a vender mais de U$ 1 milhão (isso mesmo, dólares) por mês. Se a sua empresa tem produtos de qualidade, uma boa logística, condições de me oferecer um salário superior a 2 mil + prêmios + despesas, queira, por favor, marcar uma entrevista através do fone (41) 296-3341.

As empresas que não atendam os requisitos básicos, não percam o seu e o meu tempo. Grato.

sexta-feira, 11 de março de 2005

Uma ficção alheia - 2ª Parte

- Agora eu tô lascado. Tu viu o que foi que tu fez? Por tua causa e da tua amiguinha, o tio Haroldo tá pensando que eu sou gay. Agora ele não vai mais emprestar dinheiro pro papai.

- Mas tu não é gay.

- Eu sei, mas o tio Haroldo não sabe.

- E se tu levasse a tua namorada no churrasco amanhã à tarde?

- Mas eu não tenho uma namorada!

- Pode fingir que tem!

- Ei, nem venha, que eu não vou fingir que namoro aquela tua amiga, não. Prefiro que pensem que eu sou gay do que passar por namorado daquilo!

- Relaxa! Tu vai fingir me que namora!

- Agora lascou de vez! Tu tem namorado, inteligência.

- A gente vai só fingir! Eu já bolei o plano todinho na minha cabeça! A gente vai ser um casal moderno. Sabe um desses casais esotéricos que nem se encostam, pois é! Ó, tu faz o seguinte: Quando o teu tio chegar, tu diz pra ele que foi um engano, explica tudinho, que foi uma amiga duma amiga tua na praia e tal e que amanhã tu vai levar a tua namorada pro churrasco. De noite eu ligo pra tua mãe pra gente combinar!

- Combinar o quê?

- Não se preocupe, não. Deixe comigo!

- Ai, meu Deus. Por que é que tu só me mete em roubada?

- Deixa de ser reclamão! Eu vou agora alugar minhas roupas esotéricas!

x x x

No domingo:

- Que diabo de roupa é essa, Cassi?

- É roupa de iluminado! Não tá massa?

- Tá parecendo um carro de carnaval. Ai, meu Deus, lá vem o tio. Vamos lá. Vou te apresentar a ele. Mas vê se não vai fazer besteira, hein!

- ’Xá comigo!

- Oi, tio, essa daqui é a minha namorada, a Cassi.

- Auhm auhm.

- Ah, então é essa a nossa criaturinha iluminada. A Clara me falou de você ontem. Mas o que é isso que ela fica repetindo?

- É um mantra de saudação ao novo parente do Noni que estou conhecendo. É para trazer boas vibrações.

- Aaah...

- Num liga pra ela não, tio. Ela tem esse jeitinho assim, mas é gente boa.

- Eu vou aproveitar que ela foi lá dentro buscar mais refrigerante e ajudar a trazer.

- Pra que foi que tu fez aquilo? Aquele negócio de mantra?

- Eu só tava tentando convencer ele!

- Mas como é que você faz uma coisa dessas? Você é doida! Assim ele vai desconfiar! Ninguém pode ser tão abestado a esse ponto! O que é você me diz disso, Cassi?

- Tct tct.

- Cassi? Cassi?

- Ai, eu tô adorando esses enfeites dessa fantasia. Quando a gente se mexe bem rápido pra lá e pra cá, eles fazem um barulhinho só a massa, que nem aqueles chocalhos de cabra!

- Eu mereço! Eu devo ter rebolado pedra na Cruz. E mais devo ter rebolado faca também e cortado todinha. E ainda devo ter levado os pedacinhos que sobraram pra casa pra jogar porrinha, só pode!

x x x

- Noni, meu sobrinho, estou tão contente por saber que você não é um "rapaz alegre", apesar de que essa sua namorada... Mas não se preocupe, não, que tem jeito.

x x x

- E aí? Funcionou? O que foi que ele disse?

- Ele disse que tu é uma abestada!

- Mas ele acreditou?

- Acreditou. Não fez mais do que sua obrigação...

- Mal agradecido! Ei, ainda tem churrasco? Eu ainda tô com fome. Eu não comi nada com esse negócio de que, pra iluminado, animal é sagrado...

- Nan... (E fala sem olhar para ela). Tem mais carne, não. Na geladeira tem umas graviolas, se tu quiser... Mas toma cuidado que tem umas maduras demais. Cuidado pra nã...!

Enquanto Noni falava, Cassi ouvia atenciosamente os conselhos para ela tomar quando fosse comer a graviola... Devorando uma graviola.

E Clara entra pela sala.

- Oi, meu anjo, tá boa a graviola?

- Ai, meu Deus.

- Quer um pedaço? Aproveita enquanto ainda tem...

quinta-feira, 10 de março de 2005

Uma ficção alheia - 1ª Parte

Lá na universidade, há uma colega que de quando em vez rabisca idéias também, e me repassa algumas via e-mail. No causo a seguir, quaisquer semelhanças com fatos e pessoas (vivas, em coma induzido ou mortas) não serão mera coincidência.

6ª à noite:

Trimmm, trimmm

- Alô.

- Adivinha quem é?!

- Ai, meu Deus.

- Que tu tava fazendo?

- Tava mostrando a 9ª sinfonia de Beethoven pro meu tio Haroldo, que tá visitando a gente.

- Mas eu tô precisando da tua ajuda. Sabe aquela minha amiga, a Camila? Pois é, ela tá precisando de um namorado!

- E o que que eu tenho a ver com isso?

- Tu tem namorada?

- Ei, nem inventa. Por que tem que ser eu?

- Por que tu é o único amigo culto que eu tenho. E ela quer namorar um homem culto. Vai, diz que sim, diz que sim, siiim? Não vai nem arrancar pedaço, é só pra conhecer. Se tu não gostar...

- Já vi que é roubada. Também, sendo amiga de quem é.

- Ah! Só mais uma coisinha... Tu tem algum dente quebrado? É que ela tem esse fetiche, sabe? Ela adora homens com um ou mais dentes quebrados. Mas também serve se for torto. Hein, tu tem?

- Nem acredito que tô ouvindo isso.

- Tem não? A gente pode dar um jeito.

- Ei, ninguém vai quebrar meus dentes, não!

- Depois a gente vê isso. Me encontra daqui a uma hora no Beco da Poeira pra gente combinar como tu vai fazer pra conquistar ela, quer dizer, conhecer ela melhor no picnic de amanhã.

- E onde é que vai ser esse troço?

- Lá no Caça e Pesca.

- Mas domingo tem um churrasco aqui em casa. Pra comemorar o empréstimo que o tio Haroldo vai fazer pro papai.

- Não tem problema. O picnic é amanhã, e domingo tu vai pro churrasco.

x x x

- Ó, seguinte, ela é mui meiga, carinhosa, blá, blá, blá... O único defeito dela é que ela é meio fútil. É por isso que ela tem que namorar um cara intelectual. Ela quer ficar bem na fita com a família dela.

- Tô fora! Patricinha nem pensar.

- Mas é só pra conhecer. Ela não vai te morder. Vamos combinar assim. Amanhã de manhã eu passo na tua casa e a gente vai pro picnic. Tu conversa com ela na boa, sem compromisso e domingo tu vai bem bonitinho pro churrasco do tio Haroldo. Aliás, tu pode até levar ela pro churrasco. Ele vai amar!

- Tu é doida! O tio Haroldo é super conservador. Ele só decidiu emprestar esse dinheiro depois que o papai inventou que ia botar a Natália em colégio de freira.

- Mas tu vai, né?

- Já vi que isso não vai prestar. Mas vamos, né...

- Ó, qualquer coisa , já que a gente vai tá na praia, tu segura ela no vento. É que ela tá meio magra. Acho que ela tá pesando uns 42 quilos.

x x x

Sábado, no picnic:

- Mila, esse daqui é um grande amigo, Noni. Ele é tão culto!

- Senta aí.

E Cassi deixa os dois a sós.

- Ai, esse sol tá derretendo toda a minha maquiagem, que horror! Cê tá me achando gorda? Ai, eu tô um monstro de gorda! Quanto cê acha que eu tenho que perder?

- Que é isso? Cê tá ótima!

- Ai, a minha revista 'Meninos Gatos', edição especial com Rodrigo Santoro tá voando no vento. Cê pode guardar ela nas suas coisas, por favor? Mais tarde cê me dá. Blá, blá, blá, blá, blá, blá...

x x x

E Cassi volta.

- Oi, gente!

- Gente, com licença que eu vou ao banheiro retocar minha maquiagem!

- Cassi, que diabéisso? De onde é que tu tirou que eu ia namorar um negócio desse?

- Mas ela é bonitinha, né?

- Vou fingir que nem ouvi isso!

E nisso passou-se toda a manhã.

- Ô Cassi, já deu, né? Bora pra casa, pelo amor de Alá!

- Tá, seu chato! Bora, eu vou te deixar lá. Pelo menos vou conhecer o tio Haroldo...

- Ei, nem inventa, você não vai falar com o tio Haroldo!

- Tá, resmungão! Vai pelo menos se despedir da Mila.

x x x

No Jardim Tabapuá:

- Noni, posso ir até a cozinha beber um copo d'água?

Enquanto isso, Haroldo desce as escadas da sala e dá boa tarde a Noni. Cassi vinha voltando da cozinha e se escondeu atrás da cortina para só sair depois do tio Haroldo.

- Oi, meu sobrinho preferido.

- Oi, tio. Tô voltando da praia.

Natália:

- Noni, cê comprou a pulseira de hippie que eu pedi?

- Comprei. Pega aí na minha mochila.

- Noni, o que essa revista de fotos de meninos tá fazendo na tua mochila?

Tio Haroldo:

- Oh! A desgraça se abateu sobre esta família. Noni, você é gay!

- Não, tio, isso foi um engano.

- Clara, como você explica isso?

- Haroldo, deve ter sido um engano.

- Tomara que seja mesmo. Porque se não for, serei obrigado a não fazer o empréstimo ao Carlos. Não posso compactuar com um lamaçal desses. Vou sair agora e dar uma volta pra esfriar a cabeça.

Enquanto isso, Cassi via tudinho por trás da cortina.

sexta-feira, 4 de março de 2005

Elogio da diferença

Por um mundo melhor (não, não é o Rock In Rio).

Por um gângster da TUF e outro da CearAmor discutindo amigavelmente sentados numa birosca, entre tapinhas nas costas e goles de Colonial, sobre maneiras eficientes de esmagar uma cabeça humana.

Por um juiz e um vigia sobralenses (casal gay) andando de mãozinhas dadas.

Por um PM e um assaltante largados numa calçada dividindo amistosamente um baseado.

Por um pastor evangélico e uma marafona abraçados embriagados no carnaval.

Por um carioca e um paulista unidos espancando um argentino.

Por brasileiros e portugueses rebolando ao som de Fatamorgana versão Roberto Leal.

Por um carcereiro ajudando um presidiário a cavar um túnel no IPPS (sem suborno).

Por dois vizinhos, um judeu e outro muçulmano, trocando receitas de bomba caseira.

Por um punk ensinando um neonazi a andar de skate.

Por um neonazi dando aulas grátis de alemão a um punk.

Por um favelado e uma patricinha (casal de namorados) passeando numa carroça de catar lixo.

Por um congresso de espionagem e contra-espionagem organizado conjuntamente pelo FBI e pela Al-Qaeda.

Por um baile funk proibidão bombando todas da Tati Quebra-Barraco e muita dança da cadeira e confraternizando os membros do Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos Dos Amigos, com direito a armistício entre o lado B e o lado A.

Por um guarda municipal ninando um trombadinha cheira-benzina no relento da Praça do Carmo à noite.

Por hindus e muçulmanos dançando Macarena na Caxemira.

Por um CDF escrevendo uma dissertação encomiástica sobre a final da Casa Dos Artistas.

Por um bando de pagodeiros diarréia cerebral abraçados a um magote de nerds cocainômanos metidos a rockeiro cult, todos pulando adoidado numa micareta technopop.

Por um Lula e um FHC tomando uma juntos.

Por um surfista pernambucano passeando com seu tubarão de estimação.

Por um monitor da Febem ensinando pacientemente um menor infrator a fabricar um cossoco.

Por um boiola e um homofóbico posando para uma anúncio de cigarro, ambos com camiseta do triângulo rosa.

Por um cardeal acariciando sensualmente um jovem comunista.

Por um presidente que diga que fumou e tragou.

Por água e óleo se misturando.

Por um traficante do CV ensinando um PM carioca a surfar.

Por uma dupla sertaneja Jesus & Judas.

Por um soldado israelense e um membro do Hamas trocando dicas de tortura.

Por Inri Cristo e Toninho do Diabo fazendo um dueto e lançando um CD de vaneirão.

Por um padre Marcelo Rossi pregando o amor livre e engravidando a bispa Sônia.

Por uma guerra pacífica e com moderação entre as marcas de cervejas.

Um outro mundo é possível. Nós podemos.

domingo, 27 de fevereiro de 2005

Viva la muerte

A filha de uma amiga da minha mãe já tentou suicídio.

Ingeriu uma dose de raticida.

Falhou.

De acordo com a Central Leão Lobo de Notícias, a garota havia sido dispensada pelo namorado.

Ficou deprimida.

Quando mãe me contou, achei engraçado.

¿Quién es esa niña? Who's that girl? Não sei até onde foi a sinceridade do procedimento da fútil garota mimada, mas sei isso: o quase-crime contra si põe a pirralha 3,5 centímetros acima de sua habitual mediocridade de fêmea púbere da classe emergente, concede-lhe por 15 minutos uma aura de pseudo-Ofélia (a da peça de Shakespeare, não a da Cozinha Maravilhosa, óbvio) cearense, além de presentear blogueiros e as vizinhas gordas e varizentas e de cabeças enxameadas de bobs com uma excitante ruptura na pasmaceira do bairro. Digna de drama de novela das 8 e logo ali na outra calçada. Emoçãozinha barata, de R$ 1,99, para nossas alminhas suburbanas. Há também uma efêmera e duvidosa celebridade que aposto como até a autora sobrevivente da travessura, no momento oportuno vai apreciar ou mesmo envaidecer-se de.

Essa tragédia abortada é o Sazon que transforma a insípida jovenzinha em questão numa spice girl, é uma façanha de baixa ordem, é merecedora de nota de 6 linhas curtas em jornal local, é uma turbulência com máscaras caindo do teto da rotina, chega a ser charme para uma parcela do público. É, enfim, um tchanananan na ausência do qual eu dificilmente sequer saberia da existência dessa menina, que seria apenas mais uma deficiente de prendas num ecossistema onde abundam lambisgóias exibindo minissaia, camiseta da Avril Lavigne e imaturidade.

Brotinhos passionais e instáveis à parte, a galera ishperta e pragmática de plantão, essa sim entende do riscado e sabe como extrair dividendos de flertes com a indesejada das gentes. É fácil. Você aí, que toca numa banda de pop. Quer uma boa jogada marketeira para quando seu grupo, por um desses insondáveis mistérios tipo neutrinos e mãe virgem de messias, for selecionado para tocar no palco secundário ou terciário do megafestival que reúne todas as tribos? Na véspera do show, enforque-se no quarto com uma corda fuleira, ou engula também uma quantia light de chumbinho, ou beba mililitros de água sanitária, ou corte os pulsos com borda de papel ofício, ou tenha uma overdose meio fake, ou arme um circo midiático de horas ao ameaçar pular do viaduto da Mister Hull. É garantido, tudo pronto para sua sonoridade (híbrida de Jota Quest com Kelly Key) tomar de assalto, tal qual blitzkrieg, o top hits das rádios, as manchetes de jornais e a parada de clipes da versão regional da MTV. Que passaria em brancas nuvens se você teimasse em permanecer enfadonhamente ileso.

sábado, 19 de fevereiro de 2005

Uma conversa

Aconteceu-me um caso curioso. A imagem do meu profile no Orkut incomodou um jovem muçulmano que por ali passava. O califa tá de olho no decote dela e no avatar dele. Como bom protótipo de carinha super duper legal preocupado com o bem-estar do próximo e do distante, tratou de advertir-me. Percebi que aquilo poderia ser o prenúncio de algo engraçado e, de fato, travamos o seguinte colóquio absurdo via scrapbook (é sério; a quem interessar, aqui e aqui):

Guilherme: pq vc usa uma figura de um mujahidin islâmico? vc deveria trocar...tem muita gente q não acha isso certo

Salaam

(OBS: Em "tem muita gente q não acha isso certo", leia-se "eu não acho isso certo, mas vou enrustir".)

Silvio: hehehe
aí é que está a graça...
eu tinha várias opções de avatar:
- um traveco fantasiado de hitler
- jesus cristo com uma máscara de jason
- o osama comendo o rabo do w. bush
Mas acabei escolhendo essa, sem nenhum motivo especial. O importante era ter um aspecto lúdico e politicamente incorreto.

Guilherme: troque irmão...não é bom brincar com a religião alheia...use outro...mas cuidado... Jesus é um dos profetas sagrados do Islam...E vc não deve brincar com terroristas como Laden...

Melhor seria vc usar sua própria foto...o que acha?

(OBS: Viram o que eu disse, haréns do meu Brasil? Como sempre, desejando o melhor ao próximo. Lindo.)

Silvio: aí é q tá: eu não tenho nenhuma!

(OBS: Mentira. Sou mais manhoso que a Sherazade.)

Guilherme: lembre-se, essa foto de um mujahidin não é motivo para risos...ele luta pela glória da religião que ele acredita...respeite-o...

a comunidade muçulmana brasileira agradeçe

Allahu Akbar

(OBS: "agradeçe". Abdullah, meu filho, favor dar um descanso para o Corão e consultar livrinhos com dicas ortográficas do Itamar Filgueiras ou do Napoleão Mendes de Almeida.)

Guilherme: use outra irmão...vc certamente tem alguma outra opção...

Que a Paz esteja com você e que Allah te ilunine para que você siga o caminho reto

(OBS: Promoção: as 50 primeiras pessoas que ligarem ganharão um mapa do caminho reto e um cinturão de TNT. Tem como você vender para mim um par daqueles sapatinhos de bicos extravagantes?)

Silvio: não sei, não sei, vou pensar...
valeu! gostei da conversa! abraços!
só lembrando: BUSH IS STUPID

(OBS: Falsidade comanda. Tática "fale o que acha que a platéia gostaria de ouvir". Sou hipnotizador de naja.)

Guilherme: vou acompanhá-lo irmão...

desejo que vc entenda que não deve usar imagens de irmãos na jihad para uso cômico...

acima de tudo...

Em nome de Allah, O Clemente, O Misericordioso

(OBS: "Cômico" é o novo, viu, moço da esfiha. Conheço um forró de duplo sentido que é assim: "eu sou o cômi-cuh/eu sou o cômi-cuh/eu sou o cômi-cuh da televisão".)

Silvio: Pronto! Q tal agora?!
Esse aí é o Jason Vorhees da série Sexta-Feira 13. Sem a máscara!

(OBS: Pronto, Alladin. Fiz minha boa ação do dia. Tudo pela deferência à comunidade Mussum-mana. É nóis na fita e no tapete voador. Quero um troféu Leila Khaled e uma medalha Amin al-Husseini de pacificador.)

E esse foi meu momento Theo van Gogh. Salam 'Alaik.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Uma vitória

Agradeço a meu pai e a minha mãe por terem me educado tão bem e ainda assim eu ter sucumbido a esse ótimo vício desgraçado. Agradeço à Michele da comunidade DKC do Orkut, que me ajudou a encontrar o diacho do bônus com moeda DK que estava me tirando o sono. Agradeço a meus amigos, sem exceção, que solenemente ignoraram essa minha empreitada e não me deram qualquer tipo de apoio. Agradeço às férias, coitadas, que já estão se finando, sem vocês eu nada seria. Agradeço à Nintendo por ter criado um jogo tão bom. Agradeço ao King K. Rool, que foi o grande responsável por toda a loucura. Agradeço ao Mario - que vocês já conhecem - e ao Yoshi pelas ilustres participações. Foi difícil a odisséia, mas valeu a pena. Agradeço ao W. Bush por ter livrado o mundo daquele ditador malvadão. Agradeço, in memoriam, ao japa que morreu de tanto jogar Diablo, um mártir, exemplo de vida. Dedico essa vitória a todas as espécies de sedentários, obesos ou magricelos, devoradores de pizza calabresa com refrigerante, odiadores de academia, ratos de locadora, fugitivos da escola, fãs do Homem-Aranha e dos X-Men, de seriados japoneses com monstros gigantes, de RPG e fracassados no sexo em geral, aos disformes, esquizofrênicos que se relacionam melhor com macacos virtuais que com pessoas de verdade, que tanto veneram nossa tão incompreendida arte. A luta continua. E mando um alô também para a caravana dos(as) masturbadores(as). Sim, é, masturbadores(as). Que semelhantes a nós, gamemaníacos, sabem cultivar um prazer solitário ao alcance das mãos. Foi bom estar com vocês, brincar com vocês.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

O reino que não é deste mundo

Voltei a jogar um dos clássicos do Super Nintendo, Donkey Kong Country. Ainda me empolgo e fundo uma seita para os que cultuam jogos eletrônicos. Acho que não é tão difícil. É um nicho de mercado que nunca satura. O de seitas, não o de jogos.

Começando por um mito de criação do universo, da vida. No início eram as trevas. Mais duas barras brancas, uma linha demarcatória central, um rústico placar e uma bola quadrada. O Jardim Pong.

Também seria interessante um Messias. Deixem-me ver, adotaria o japa que morreu de tanto jogar Diablo, sem se alimentar nem nada. "Ó irmãos, em breve ele voltará (será o dia do arrebatamento) e guiará os eleitos para a terra de onde mana PS2 e outros consoles."

Pregações aos urros em terminais de ônibus, nas praças, de porta em porta. Braços abertos, olhar transfigurado, na mão direita um livro sagrado, na esquerda, um símbolo idem. Os sacerdotes teriam uma dieta à base de trinta menininhas virgens por mês. Nada de menininhos, para diferenciar-nos dos procedimentos da Igreja Católica Apostólica Romana. Tamanha atividade copular justificar-se-ia pelos escritos do importantíssimo livro Sega Sutra, no qual é explicado que isso serve para manter-nos em sintonia com o reino espiritual, o reino que não é deste mundo.

Contribuições, lógico. Voluntárias, por favor, só de boa vontade.

Para depois do inexorável game over que há de cair sobre todos nós, a promessa de uma eternidade paradisíaca como recompensa para os que forem exemplo de retidão. Um dogma de metempsicose. Muitas vidas. E muitos continues (credits). Além de um código de conduta, códigos secretos.

Nos suntuosos templos, altares e pedestais para serem adorados consoles, cartuchos e joysticks de todas as eras. Venda, por preços módicos, de passwords para os que almejam alcançar mais rápido o Céu. O lucro seria investido em obras da santa congregação.

Orar e vigiar para defender-se dos seres iníquos e diabólicos da geração Paulo Cintura. A súcia do quarteto soja, granola, aspartame & açaí. Súcubos a tentar seduzir-nos com a heresia das vitaminas e das proteínas. Com sua influência deletéria e blasfema, afastando-nos do correto caminho, empurrando-nos para a acadimia, para a prática de esportes, para o suco de cenoura e para comidas com gosto de isopor.

Praticar a caridade e sempre convidar desafortunados amigos menos providos para uma partida de King Of Fighters.

Nosso credo teria sofrido um cisma tempos atrás, devido a membros, provavelmente possuídos por espíritos das sombras, que fundaram uma nova denominação. Cuidado com o que eles pregam. Eles não passam de farsantes. Aquilo em que eles crêem absolutamente non ecziste.

Realizaria um megaculto no Rancho Pixel, reunindo centenas de seguidores de vários rincões. Berraríamos de modo ensandecido cânticos de louvor. Às seis horas da tarde, a grande hora mística, cada um tomaria uma cuia do chá da erva Cannabis sativa e cometeríamos suicídio coletivo jogando o game do Sapo Xulé até a exaustão completa do organismo e da sanidade. Despojando-nos dos vãos corpos materiais, nossas almas, agarradas ao asteróide NGC666, pegariam carona para a morada cósmica, conhecida por nós como Castle Of Illusion.

Antes disso, recomendaria que comprassem o CD (só original) dos nossos grandes popstars e mascotes, divulgadores da doutrina entre a sociedade, o reverendo Marcelo Tetris e sua filhinha Eva, a menina pregadora precoce, cantando hinos de louvor. 20% do dinheiro arrecadado seria doado à Associação de Pais e Amigos das Vítimas de Minas Terrestres e Tsunamis de Baturité. Amém.

Acredito que seria divertido.