domingo, 6 de março de 2011

Entrevista com o vampiro

Na edição de julho de 1997, a extinta revista Bizz (à época, Showbizz) publicou uma entrevista com Ozzy Osbourne. O título dizia Besteirozzy.

Ozzy Osbourne é assim: 47 anos com corpinho de 30. "Duas horas de bicicleta e 500 abdominais todo dia", gaba-se ele, bem à vontade na varanda do quarto do Ritz Carlton Hotel, um dos mais caros em West Palm Beach, Flórida. Ozzy folheia uma revista com mãos trêmulas, resultado “de muitos anos de álcool e cocaína”, segundo o próprio, e os pés pra cima, antes de iniciar a entrevista. O ar blasé desaparece assim que o papo besteirol começa. “Quem bolou aquela entrevista com a princesa Diana, onde você aparece com um pênis na mão?”, pergunto, mencionando um dos famosos vídeos-sátira exibidos antes dos shows de Ozzy. "Ah, isso é coisa minha e da Sharon (esposa e empresária), que adora ferrar com os outros", conta, antes de garantir que a princesa viu e gostou. O cantor inglês, que vive seis meses por ano em Los Angeles, passa longe do que se pode chamar de educação britânica. A palavra que começa com F é sua favorita. "F... isso", "F... aquilo"! Sem falar nos conselhos que dá aos seus cinco filhos. "Já falei pra eles que escola não leva a nada. Eu nunca fui e olha quem eu sou hoje", desafia. Não é à toa que a filharada sempre que pode acompanha os shows do pai no jatinho particular da família. Em West Palm Beach não foi diferente! Todos estavam lá para conferir a segunda edição do Ozzfest, que, como atração principal, contava com a reunião de quase todos os integrantes do Black Sabbath, com Tony Iommi e Geezer Butler. "Todo mundo sempre me pediu uma reunião com os caras e minha resposta nunca deixou de ser sim. Só que eu não ia pegar o telefone e ligar pra ninguém. Aí já é coisa empresarial."

SHOWBIZZ: Por que o baterista Bill Ward ficou de fora e foi substituído por Mike Bordin, do Faith No More?
Ozzy Osbourne: Por mim, Bill seria chamado. Mas parece que Tony Iommi andou excursionando com ele e disse que o cara não toca mais como antigamente.

Durante o Ozzfest você toca quase duas horas com a sua atual banda e depois se junta ao Black Sabbath por mais de uma hora...
É, eu sei que é bastante difícil fazer isso, especialmente quando não estou bem preparado. No show de ontem, por exemplo, perdi a voz na hora do Black Sabbath. Ainda bem que meus fãs sabem todas as letras. Mas o pior foram os mosquitos, que me foderam de tanta mordida.

Antes de começar o show você disse que "eles" pediram pra você não ficar muito louco. Quem são eles?
Minha mulher, Sharon, falou que todo mundo estava ficando puto comigo, porque eu passo dos limites no palco. Daí eu falei: "Sharon, você quer que eu fique com a minha bunda sentada sem fazer nada? Eu sou o que sou, não sigo regras e as pessoas têm que me aceitar desse jeito". Você viu que eu mostrei a bunda no palco?

Imagina... nem reparei! Mas fala, como foi tocar com os velhos companheiros?
É que nem andar de bicicleta! A gente nunca esquece.

Existe a possibilidade de gravarem um álbum juntos?
A gente ainda não conversou sobre isso, mas tudo pode acontecer. Eu agora estou trabalhando numa coletânea minha que deve sair até o fim do ano.

Vocês ensaiaram muito para a volta?
Nós tentamos, mas, ao invés de tocar, começamos a falar dos velhos tempos. A diferença é que agora, em vez de cocaína e maconha, a gente toma chá.

E é melhor assim?
Muito melhor! Eu não podia fazer mais aquilo. Era muito doido! Agora, pelo menos, eu não preciso me tocar quando acordo de manhã pra saber se estou vivo.

Era brabo assim?
O quê? Você não imagina quanta cocaína, álcool e maconha eu botei pra dentro. Parei geral há alguns anos. Não foi uma decisão. Eu simplesmente não penso mais em drogas.

Agora então você acorda numa boa?
Hoje em dia meus filhos me acordam. Eu tenho cinco filhos: de 25, 21, 13, 12 e 11. E eles brigam o tempo todo.

É verdade que o professor de um deles já contou na sala de aula que, em um de seus shows, você pediu para todo mundo cuspir numa tigela e depois bebeu?
Sim. Fiquei puto, é um absurdo um professor dizer uma coisa dessas.

Mas você certamente já explicou a eles como foi que arrancou a cabeça de um morcego, durante a turnê de Diary Of A Madman?
Sim, expliquei essa - achei que o bicho era de plástico - e a do pombinho também. A do pombinho foi numa festa da gravadora CBS (agora Sony Music), acho que em 1981. Eu estava doidão e tinha que soltar dois pombinhos da paz. Soltei um e, não sei por que diabos, resolvi morder o pobrezinho do segundo. Ninguém achou bonito, foi uma vergonha.

Algum de seus filhos já mostrou aptidão musical?
Eu não quero que eles se envolvam com música. Minha filha de 13 anos é a fim do vocalista do Silverchair. Eu vivo dizendo pra ela que ele é gay. Ela fica puta. Mas é brincadeira! Na verdade, eu admiro bastante a banda. O vocalista tem um potencial incrível.

Então você está por dentro das novidades do rock?
Não. É claro que eu tenho uma noção, mas pra mim o rock hoje não tem mais melodia. Eu gosto mesmo é de coisa antiga, tipo Cream, Deep Purple e Beatles, de quem sou fã número um.

O Ozzfest é supergrande! Mais de catorze bandas...
É isso que me deixa louco em festival. É tanta gente no backstage que enche o saco. O pior é aquela galera que fica o tempo todo "aí, Ozzy, vamos fumar um?", e eu não tô mais a fim. Não estou dizendo que sou contra as drogas, mas acho que todo mundo tem poder de escolha.

Você está pensando no futuro? Quais são os seus planos daqui pra frente?
Eu vou voltar pra Inglaterra... Ah, eu acabei de lembrar a primeira vez que fui ao Brasil, que eu não sabia que era tão longe. Não chegava nunca! Eu perguntava pra todo mundo: "Será que pegamos o vôo errado, ou o caminho errado? Não é possível!" Eu achei que estava bêbado, porque foram as horas mais longas que eu já passei num avião.

É isso o que você lembra do Brasil?
Tocar no Rock In Rio foi uma das melhores coisas que já aconteceram na minha vida. Os brasileiros amam música. Eu nunca vou esquecer.

Voltando aos próximos passos...
Eu não vejo a hora de voltar pra Inglaterra e cuidar dos meus animais. Eu tenho um cachorro, Baldrick, que se eu pudesse levava pra todos os lugares. Ele é um poodle inglês muito engraçado. Toda vez que ele me vê, começa a peidar. É um horror... Ele fede pra cacete!

Depois de rever o cachorro, alguma possibilidade de o Ozzfest passar pelo Brasil?
A gente vai tentar levar o festival para o seu país ano que vem. Mas não se preocupe, que o meu cachorro peidão fica.