sexta-feira, 30 de julho de 2010

Alan Turing e aquelas ondas

Alan Mathison Turing, um dos pioneiros da computação. Nascido em Londres em 1912. De infância isolada e excêntrica, longe dos pais. Desde pequeno, demonstrou interesse por matemática e talento para o cálculo. Graduou-se em King's College, Cambridge. Quando a II Guerra Mundial incendiava a Europa, ele e sua equipe deixaram sua marca no esforço Aliado. Torrando as pestanas de coruja e a paciência de ourives, quebraram o código do Enigma, o brinquedo moderno que os nacional-socialistas utilizavam para trocar correspondência ultra-secreta. Frustraram sorrateiros planos da quadrilha nazi, por meio de interceptação e decifração dos padrões de embaralhamento - alterados constantemente - de mensagens.

E tem a Máquina de Turing, que a gente estuda no último semestre de Ciência da Computação. Esboço futurístico considerado a base, a chave, o sinsinsalabin da expansão da era eletrônica/digital. Turing era brilhante. Turing era gay. Fora apaixonado por um colega que morreu de tuberculose bovina.

Sujeito fleumático e discreto (meu nonagenário avô reaça diria: bichinha sonsa), andava pelos cantos a bater na mesma tecla de culpa-repressão. Às escondidas, tinha encontros com rapazes que lhe mitigavam a solidão. Até que foi pego no flagra, com a mão na, er, na massa, seus maldosos. Homossexualidade era ilegal no Reino Unido. Para escapar ao cumprimento de pena na prisão, aceitou submeter-se a tratamento para curá-lo de seu vício que tanto afrontava as famílias abrigadas em casinhas estilo Tudor. Sofreu castração química via injeções de hormônio estrógeno e desenvolveu humilhantes e flácidos peitinhos de garçonete decadente.

Seqüela do escândalo, seu lado G começou a afetar sua vida profissional. Por ordem judicial, teve que se afastar de suas pesquisas. Apesar da excepcional ficha de serviços prestados, as propostas de trabalho escasseavam. Entra em cena a obsolescência, esta pantera. Comentários escarninhos, no inconfundível sotaque britânico, empolgavam as rodas de conversa. Na bocarra do povo, enfim. Desencriptografada e exposta na vitrine sua condição de invertido. Sua ffenffibilidade não agüentou. Alan suicidou-se merendando uma maçã com cianureto em 1954, num estranho decalque de Branca de Neve vitimada pela Bruxa. Tilt. Outra versão diz que ele costumava armazenar descuidadamente produtos químicos pela residência e envenenou-se acidentalmente. No ano passado, veio a público um pedido formal de desculpas do governo inglês pelo modo como as autoridades procederam com o cientista.

Seu epitáfio:

Hyperboloids of wondrous Light
Rolling for aye through Space and Time
Harbour those Waves which somehow Might
Play out God's holy pantomime