domingo, 25 de outubro de 2015

Otto Dix

TERRA - HISTÓRIA
27 de fevereiro de 2014

Otto Dix e a miséria da guerra

(Voltaire Schilling)

Ele estava bem longe de ser um pintor famoso. Não era um artista de renome como Franz Marc, por exemplo, do grupo Der Blaue Reitter (O Cavaleiro Azul), que, como ele, também havia pego em armas para defender o Reich Guilhermino em 1914. Otto Dix, jovem promessa das artes alemãs, aos 23 anos de idade apresentou-se como voluntário para marchar para as trincheiras da Primeira Guerra Mundial.

Atuando como artilheiro e metralhador, viu horrores. Muita coisa ele esboçou a carvão lá mesmo nas trincheiras, mas foi somente em 1924, seis anos depois da catástrofe, que se sentiu maduro para expor num livro uma série de gravuras sobre o que vira. De certo modo, com aquelas tenebrosas imagens da guerra, ele tornou-se o Goya alemão.

OS DESASTRES DE GOYA

Quando Goya, um século antes de Dix, decidiu-se a expor os pavorosos efeitos da guerra travada pelo mal armado povo espanhol contra o exército invasor de Napoleão Bonaparte, que ocupara a Espanha em 1808, ele dedicou cinco anos da sua vida de artista a produzir as gravuras. Percebera que fora testemunho de um acontecimento extraordinário. [...] De 1810 a 1815, ele produziu 82 estampas dos seus Los Desastres de la Guerra.

Foi inspirando-se nas gravuras dele que Otto Dix decidiu seguir na mesma estrada, expondo a sua Der Krieg (A Guerra), com a diferença de que, ao contrário do El Sordo, ele participara diretamente daquilo que retratou.

Como disse a um amigo: "Eu tenho muita experiência em relação a quem, ao meu lado, repentinamente cai morto abatido por uma bala certeira. Eu tenho experiência direta disso. E eu quis isso. Naquela época eu não era um pacifista - ou era? Talvez eu fosse uma pessoa inquisitiva, curiosa. Eu vi tudo aquilo pessoalmente. Sou uma espécie de realista, você sabe, que viu tudo ao redor com meus próprios olhos e posso confirmar que isto (a tela com uma cena de guerra) é exatamente assim. Tenho muita experiência de toda essa palidez, o abismo profundo da vida para mim mesmo..."

Por igual relacionou como influência fundamental sobre o seu trabalho as gravuras do suíço Urs Graf (1485-1527), que registrou as lutas pela independência do seu pequeno país e ainda o francês Jacques Callot (1592-1635), autor da série Les Misères de la Guerre, de 1633, uma seleção de imagens terríveis da Guerra dos Trinta Anos (1816-1648).

O MOVIMENTO NOVA OBJETIVIDADE

A Guerra de 1914-18 destruíra um mundo. Todo o sentimento e orgulho dos europeus sobre a pertença a uma civilização superior, condutora e gestora das coisas do planeta sofrera um golpe irreparável. A violência e os massacres que ocorreram, a utilização indiscriminada da capacidade de matar ou aterrorizar lançada mão pelas potências, ditas as mais civilizadas da terra, colocara sérias dúvidas na crença na excelência da cultura ocidental frente às demais.

A guerra abalara com tudo. Daí a busca de uma nova objetividade - Die Neue Sachlichkeit, como o movimento fundado por Otto Dix e George Grosz, seu parceiro de estilo, foi chamado. Algo eles tinham que fazer para denunciar, com a máxima exatidão possível, o que se passara nos campos de batalha e na vida do após-guerra. Não podiam refugiar-se em escapismos.

A devastação da Alemanha dos anos 1920 era uma evidência. Pelas ruas, em meio às greves e batalhas campais, soldados mutilados pediam esmolas. Oficias com filas de medalhas no peito faziam o mesmo: não tinham uma ou as duas pernas. Outros vagavam cegos ou loucos. Um estado empobrecido, endividado pelos gastos extraordinários de um conflito milionário, não tinha mais como ampará-los.

Os heróis de ontem, que nas trincheiras impediram a invasão da Alemanha, agora viviam em meio ao lumpesinato urbano, cercado por prostitutas, gigolôs, ladrões e criminosos, sem ter um vintém no bolso e nem um canto para ficar. As paixões políticas se acenderam. A queda da dinastia Hohenzollern, o exílio do kaiser Guilherme II, ocorrido em novembro de 1918, acirrou ainda mais a luta entre as novas facções políticas e ideológicas. [...]

VIDAS E RUAS EM TUMULTO

O sentimento contra a guerra era generalizado. Era esse o cenário geral de onde brotou a Nova Objetividade, filha mais recente do expressionismo alemão de antes da guerra. Uma aproximação entre o realismo cruel e o cinismo cercava as figurações deles. Gostavam de opor o sofrimento e a mutilação dos soldados com a vida dos burgueses. Quase sempre caricaturados por eles com suas piteiras e monóculos ou dando baforadas de charutos em ambientes de falsa luxúria.

As ruas cinzentas e tristes da Alemanha de Weimar contrapunham-se aos círculos boêmios, às festas regadas com champanha e bebidas fortes onde magnatas gorduchos divertiam-se com a presença das melindrosas, numa espécie de festa móvel à la berlinense.

As máquinas de guerra, depois de terem realizado seu trabalho desumano, cederam espaço para as próteses dos aleijados. O aço, depois de ceifar milhares, agora servia para fabricar ganchos a terem a função das mãos ou serem sucedâneos de pés arrancados na guerra das trincheiras, enquanto rostos dilacerados eram recompostos com costuras de fios de aço. O repouso do guerreiro, tão alardeado na literatura romântica e patriótica, não se fazia no idealizado recolho de um lar feliz.

Atirados pelas avenidas como restos imprestáveis de uma guerra perdida, os soldados, muitos em trajes corroídos de mendigos, frente à indiferença dos civis que ficaram na retaguarda, se misturavam às postas de carne mercenária colocadas à disposição nas sarjetas e nos bordéis para quem quisesse pagar. As meretrizes de Dix são corpos sem erotismo. Nacos feios de gordura, pele e rugas, ainda quando voluptuosos, destituídos de qualquer sensualidade. Representam o desespero de uma nação que afundara e não uma promessa de prazer.

A Nova Objetividade não tardou em dividir-se esteticamente. Os ditos Veristas fecharam com Otto Dix e George Grosz, satíricos e corrosivos, enquanto o outro grupo, o do Realismo Mágico, bem menos crítico, foi formado por artistas como Heinrich Maria Davringhausen, Alexander Kanoldt, Christian Schad, e Georg Schrimpf, sendo que o famoso Max Beckman circulou entre os dois.

Estes últimos se deixaram fascinar pelo seleto público que frequentava os famosos clubes e cabarés de Berlim antes da ascensão dos nazistas. Mulheres refinadas, distantes, olhares frios, com a taça de bebida à mesa fazendo companhia aos dândis da época. Nas telas deles quando havia sexo era sem sensualidade ou erotismo. Pareciam viver numa redoma agitada pelo vaivém da boemia elegante, abastecida por espumantes e licores ofertados ao som do jazz, enquanto do lado de fora, nas ruas, as batalhas se davam: a Grabenkrieg, a guerra das trincheiras de 1914-18, transformara-se nas Strassenstreit, nas arruaças e brigas dos anos vinte, no caos urbano, retratado fielmente, entre tantos outros, por Max Beckman (tela Die Nacht, 1919).

As grandes cidades para eles nada mais eram do que amontoados de prédios lúgubres erguidos em meio a ruas tortas, esquisitas e perigosas; como no verso do poeta expressionista Georg Trakl: "Oh, a loucura da grande cidade / Ao anoitecer, árvores raquíticas olham, olham absortas junto ao muro negro / Detrás de uma máscara de prata o espírito maligno abre seus olhos."

UMA CRÔNICA DE GUERRA

Somente seis anos depois do término da guerra é que Dix, superado o pesadelo das trincheiras, sentiu-se em condições de expor sua visão do que ocorrera em 1914-1918 por meio da publicação do Der Krieg. Era uma seleção dos horrores da guerra de trincheiras, um estudo de que como o grotesco vai se apossando do ser humano, mutilando-o e deformando-o. Nada existia ali, naquelas gravuras lúgubres que se sucediam como se fora um filme de terror, que pudesse lembrar uma imagem de marcialidade, de virilidade guerreira exaltada outrora nos altos-relevos gregos ou nas colunas romanas.

Ao contrário. Numa das gravuras, o cadáver de um soldado jaz com suas roupas esfrangalhadas, jogado só na trincheira, parece-se a um mendigo, sendo que seu fuzil faz às vezes de uma muleta (A Morte do Sapador); na outra, um soldado engole sua ração cercado pelo entulho e pelos cadáveres devorados por vermes (Hora do Rancho nas Trincheiras); uma caveira vê-se tomada pelos vermes que lhe brotam das aberturas, a morte do homem dá vida a eles (Caveira); em meio a um quadro desolador, de terra revirada pelas bombas, um canteiro de flores sobrevive nas bordas de uma imensa cratera (Buraco com Flores); com as patas voltadas para cima, um cavalo magro, parcialmente devorado, ocupa o centro de uma das telas (Um Cavalo Morto); descendo uma ravina, um pelotão de metralhadores carrega suas armas para irem tomar posição, formando uma massa indistinta em meio à lama e às pedras (O Avanço da Coluna dos Metralhadores); reprodução do ataque aéreo sobre uma cidade, registrando o pânico da população civil, com mulheres desesperadas fugindo dos rasantes, naquilo que pode ser entendido como uma visão que antecipa o Guernica de Picasso (O Bombardeio de Lens); outra cena de horror mostra o estupro de uma freira cometido por um soldado (O Soldado e a Freira).

Numa linha um tanto trágico-cômica tem-se o alinhamento de soldados recém vindos do fronte, em trajes decompostos, miseráveis, respondendo a chamada do seu sargento, parecendo-se com aquelas grotescas filas de pobres-diabos que se veem frente à sopa dos pobres nas grande cidades (Refazendo-se da Batalha do Somme).

Não havia valentia em mais nada, somente sobreviventes soçobrando em corpos destroçados guiados por mentes abaladas. Com aquele livros de gravuras apavorantes, Dix, no dizer de um crítico da época, anunciou "talvez a maior e mais poderosa declaração antiguerra da arte moderna".


Fonte:
http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/otto-dix-e-a-miseria-da-guerra.html

Mais:
http://docs.google.com/file/d/1p2v0i0P2Em9dBawKvKr5d-OLnwxbgC2u
http://www.moma.org/artists/1559

domingo, 18 de outubro de 2015

Edith Cavell

Edith Cavell was a nurse, humanitarian and spy. During the First World War, she helped allied servicemen escape German occupied Belgium; she was eventually captured and executed for treason. Her death by firing squad made her internationally known and she became an iconic symbol for the Allied cause.

In particular, she is remembered for her courage in facing execution with equanimity. This included her famous last words that "Patriotism is not enough."

Edith Cavell was born in Swardeston, near Norwich. Her father was a priest in the Anglican church; this religious faith, she was brought up with, was to provide an important influence on her life.

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In 1914, the First World War broke out. At the time, Miss Cavell was in England, but she moved back to Belgium to her hospital which was later taken over by the Red Cross. As part of the German Schlieffen plan, the Germans invaded Belgium and from late 1914, Brussels was under a very strict German occupation of military rule.

Many British soldiers had been lost behind in the withdrawal of the allied forces and were stuck in Brussels. Miss Cavell decided to aid the British servicemen, hiding them in the hospital and safe houses around Belgium. From these safe houses, some 200 British servicemen were able to escape to neutral Holland. At the same time, she continued to act as nurse and treated wounded soldiers from both the German and allied side. The occupying German army threatened strict punishments for anyone who was found to be "aiding and abetting the enemy". Yet, despite the military rule, Miss Cavell continued to help.

In mid 1915, nurse Edith Cavell came under suspicion for helping allied servicemen to escape; this was not helped by her outspoken views on her perceived injustice of the occupation.

In August 1915, she was arrested and held in St Gilles prison. After her arrest, she did not try to defend herself, but only said in her defence that she felt compelled to help the people in need.

After a short trial, the German military tribunal found her guilty of treason and sentenced her to execution. This surprised many observers as it seemed harsh given her honesty and fact she had saved many lives both Allied and German.

Brand Whitlock, the US minister to Belgium and the Spanish Minister, The Marquis de Villalobar, made representations to the German High Command asking her sentence of death be commuted. In particular, the US minister warned the Germans that this execution of a nurse would damage Germany's already bad reputation and would be seen as an injustice in the eyes of the world.

However, the protestations from the Spanish and American embassies were in vain, the German officer in charge - Count Harrach, dismissed the pleas saying "He would rather see Miss Cavell shot than have harm come to one of the humblest German soldiers, and his only regret was that they had not 'three or four English old women to shoot.'"

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For two weeks prior to her execution, Miss Cavell, was kept in solitary confinement, except for a few brief visits. On the night before her execution, she was visited by the Reverend Stirling Gahan, an Anglican chaplain.

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She was executed [in
12 October 1915] with other Belgians convicted on similar charges.

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After her execution, the fate of Edith Cavell was widely publicised in the British and American media. It was shown as more evidence of German brutality and injustice. Edith Cavell was portrayed as a heroic, and innocent figure who remained steadfast in her Christian faith and willingness to die for her country. It was hoped her example would encourage more men to enlist.

The incident and disgust at her treatment by Germany, played an important role in shaping American public opinion and easing America's entry into the war, later in 1917.

Interestingly, during the war the French shot two German nurses helping German forces escape. When asked why they didn't publicise this for its similarities to Edith Cavell's execution, the German High Command replied, "Why complain? The French had a perfect right to shoot them."

After the war her body was returned to Westminster abbey for a state burial. Her body was later buried in Norwich Cathedral.


Fonte:
http://www.biographyonline.net/humanitarian/edith-cavell.html

domingo, 11 de outubro de 2015

O último verão europeu

Trechos do prólogo de O Último Verão Europeu (2004), de David Fromkin.


Especialistas citados pelos meios de comunicação acreditavam que o voo 826 [United Airlines] havia sido vítima [em 1997] do que eles chamam de "turbulência de céu ou ar claro". Eles a associavam a um tornado horizontal, mas um tornado que não se pode ver. Alguns dos especialistas entrevistados expressaram sua esperança de que em poucos anos algum tipo de tecnologia de radar fosse desenvolvido para detectar essas tempestades invisíveis antes de elas romperem. A transparência da atmosfera significa pouco, aprendeu o público deste episódio; o céu calmo pode irromper em fúria tão repentinamente quanto o oceano.

Especula-se que algo parecido com esse ataque de turbulência de céu claro tenha ocorrido com a civilização europeia em 1914, durante a sua passagem do século XIX para o século XX. O mundo da década de 1890 tinha sido, à semelhança da nossa própria época, um tempo de congressos internacionais, conferências de desarmamento, globalização da economia mundial e iniciativas visando implantar algum tipo de liga de nações para banir a guerra. O público esperava que um longo período de paz e prosperidade se estendesse indefinidamente.

Em vez disso, o mundo europeu mergulhou descontrolado, despedaçando-se e explodindo em décadas de tirania, guerra mundial e assassinato em massa. Que tornado terá varrido a Velha Europa civilizada e o mundo que ela então dominava? Retrospectivamente, a passagem pode ser menos misteriosa do que imaginaram alguns contemporâneos que a experimentaram. Os anos de 1913 e 1914 foram anos de perigos e distúrbios. Nas primeiras décadas do século XX, havia sinais de que a catástrofe poderia eclodir logo adiante; nós podemos vê-los agora, os líderes militares e políticos podiam vê-los então.

O céu de onde despencou a Europa não estava vazio; ao contrário, estava carregado de processos e poderes. As forças que iriam dilacerá-lo - nacionalismo, socialismo, imperialismo e afins - estavam havia muito em movimento. O mundo europeu já vinha sendo assaltado por ventos de grande altitude. Havia muito navegava em céus perigosos. O comandante e a equipagem o sabiam. Mas os passageiros, pegos completamente de surpresa, ficaram se perguntando insistentemente: por que não receberam aviso algum?

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No verão de 1914, estourou na Europa uma guerra que se espalhou pela África, Oriente Médio, Ásia, Pacífico e Américas. Hoje, um tanto imprecisamente conhecida como Primeira Guerra Mundial, ela acabou se tornando, sob muitos pontos de vista, o maior conflito que o planeta jamais tinha conhecido. E mereceu o nome pelo qual então foi chamada: a Grande Guerra.

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Na Alemanha e na França, nações que apostaram toda a sua população masculina no resultado, 80% de todos os homens foram convocados. Nos choques armados decorrentes, eles foram massacrados.

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Por mais esmagadores que sejam, os números não logram contar toda a história ou traduzir integralmente o impacto da guerra sobre o mundo de 1914. As consequências das mudanças engendradas pela crise da civilização europeia são demasiado numerosas para serem especificadas, e na sua extensão e profundidade, fizeram dela o ponto crítico da história moderna. E isto seria verdadeiro mesmo que, como sustentam alguns, a guerra só tenha acelerado algumas das mudanças induzidas pela crise.

Em 8 de agosto de 1914, apenas quatro dias após a entrada da Grã-Bretanha na guerra, o Economist de Londres a descreveu como "talvez a maior tragédia da história humana".

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Fritz Stern, um dos mais destacados estudiosos de assuntos alemães, escreve sobre "a primeira calamidade do século XX, a Grande Guerra, da qual decorreram todas as outras calamidades".

Os terremotos militares, políticos, econômicos e sociais acarretaram um novo desenho do mapa do mundo. Impérios e dinastias foram varridos. Novos países tomaram seus lugares. A desintegração da estrutura política do globo prosseguiu ao longo do século XX. Hoje, a terra é divida em quatro vezes mais Estados independentes do que os existentes quando os europeus entraram em guerra em 1914. Muitas das novas entidades - Jordânia, Iraque e Arábia Saudita são exemplos que vêm à mente - são países que nunca antes existiram.

A Grande Guerra engendrou forças terríveis que assolariam o restante do século. [...] O bolchevismo foi apenas a primeira dessas fúrias nascidas da guerra, seguido anos depois pelo fascismo e pelo nazismo.

Entretanto, a guerra também pôs em movimento os dois grandes movimentos de libertação do século XX. Ao mesmo tempo em que se dilacerava a Europa, desfazia-se a sua dominação no restante do planeta. E ao longo do século, literalmente bilhões de pessoas alcançaram a sua independência. As mulheres, também, em algumas partes do mundo, libertaram-se de alguns grilhões do passado, ao que tudo indica em consequência direta do seu envolvimento no esforço de guerra - empregos nas fábricas e nas forças armadas -, iniciado em 1914.

Um outro tipo de libertação, de alcance amplo e diversificado, resultou da Grande Guerra e vem se expandindo desde então, em termos de comportamento, vida sexual, costumes, vestuário, linguagem e nas artes. Nem todos acreditam que o fato de tantas regras e restrições terem ficado pelo caminho seja uma coisa boa. Mas para o bem ou para o mal, o mundo percorreu um longo caminho - da era vitoriana ao século XXI - por sendas que foram abertas pelos soldados de 1914.

Ao pesquisar a origem de qualquer das grandes questões que confrontaram o mundo durante o século XX, ou que o confrontam hoje, é notável a frequência com que retornamos à Grande Guerra. Como observou George Kennan, "a mim parece que todas as linhas de investigação remontam a ela". Depois dela, as opções se estreitaram ainda mais. Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha tiveram escolha, por exemplo, de entrar ou não na Primeira Guerra Mundial - e sem dúvida há desacordo até hoje sobre o seu acerto ou não de tê-lo feito -, mas, realisticamente, os dois países tiveram pouca ou nenhuma escolha quanto a entrar ou não na batalha da Segunda.

Nada houve de inevitável na progressão do primeiro para o segundo conflito. O longo pavio podia ter sido cortado em muitos pontos ao longo do caminho de 1914 a 1939, mas o fato é que ninguém o cortou. Assim, a Primeira Guerra Mundial realmente levou à Segunda, ainda que não tivesse necessariamente de fazê-lo, e a Segunda, tivesse ou não de fazê-lo, levou à Guerra Fria. Em 1991, os historiadores Steven E. Miller e Sean M. Lynn-Jones afirmaram: "A maioria dos observadores descreve o período atual da política internacional como a era 'pós-Guerra Fria', mas de muitas maneiras nosso tempo seria mais bem definido como a era 'pós-Primeira Guerra Mundial'."

Desde o começo, a explosão de 1914 pareceu desencadear uma série de reações, e a seriedade das consequências rapidamente se tornou aparente para os contemporâneos: na introdução ao seu livro A Montanha Mágica (1924), Thomas Mann escreveu sobre "a Grande Guerra, em cujo começo tantas coisas começaram, que ainda mal pararam de começar".

E tampouco hoje deixaram inteiramente de fazê-lo. Em 21 de abril de 2001, o New York Times noticiava, da França, o retorno ao lar de milhares de pessoas que haviam sido temporariamente evacuadas de suas casas por causa da ameaça decorrente de sobras de munições da Primeira Guerra Mundial estocadas à proximidade. Havia cartuchos, granadas e bombas, e cápsulas de gás mostarda. Os evacuados receberam permissão para retornar às suas casas após a remoção de 50 toneladas das munições mais perigosas. Porém, restaram centenas de toneladas de materiais letais - e ainda restam. Assim, bombas da guerra de 1914 ainda podem explodir em pleno século XXI.

Em certo sentido, não há dúvida, já explodiram. Em 11 de setembro de 2001, os ataques suicidas muçulmanos fundamentalistas contra o World Trade Center, em Nova York, destruíram o coração de Lower Manhattan e ceifaram cerca de 3 mil vidas. Em sua primeira declaração televisionada após os fatos, Osama bin Laden, o chefe terrorista que evocou este horror e ameaçou com ainda mais, descreveu o atentado como uma vingança pelo que havia ocorrido oitenta anos antes. Fazia provavelmente referência à intrusão, na esteira - e como consequência - da Primeira Guerra Mundial, dos impérios cristãos europeus no Oriente Médio, até então governado por muçulmanos. Os simpatizantes de Bin Laden sequestraram aviões a jato e os esmagaram contra as torres gêmeas em consequência de uma disputa aparentemente enraizada nos conflitos de 1914.

De forma semelhante, a escalada da crise do Iraque em 2002-2003 levou jornalistas e personalidades do rádio e da televisão aos seus telefones, à procura dos professores de história das principais universidades americanas, para perguntar como o Iraque surgiu como Estado das cinzas da Primeira Guerra Mundial. Eis uma pergunta relevante, pois não tivesse havido guerra em 1914, o Iraque poderia muito bem não existir em 2002.

Trata-se certamente do acontecimento mais seminal dos tempos modernos.

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Para aqueles com uma renda confortável, o mundo da sua época era mais livre do que o de hoje. [...] Podia-se ir praticamente a toda parte no mundo, sem a permissão de alguém. Para a maior parte dos lugares, você nem precisava de passaporte, e muitos viajaram. O geógrafo francês André Siegfried deu a volta ao mundo sem qualquer identificação além do cartão de visitas: sequer o seu cartão profissional, apenas o pessoal.

Admirado, John Maynard Keynes lembra o período como uma época sem controles comerciais ou alfândegas. Você podia entrar com o que quisesse na Grã-Bretanha ou mandar qualquer coisa para fora. Podia levar qualquer soma em dinheiro quando viajasse, ou enviar (ou trazer de volta) qualquer quantia; seu banco não informava ao governo, como é feito hoje em dia. E se você decidisse investir qualquer quantia em quase todos os países estrangeiros, não havia alguém a quem devesse pedir permissão, e tampouco era necessária autorização para retirar o investimento ou qualquer lucro que possa ter dado quando quisesse fazê-lo.

Muito mais do que hoje, era um tempo de fluxos livres de capital e de movimentos livres de pessoas e mercadorias. Um notável estudo em andamento do mundo no ano 2000 nos mostra que havia mais globalização antes da guerra de 1914 do que há agora.

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Os contatos e a interdependência econômicos e financeiros estavam entre as poderosas tendências que faziam parecer que a guerra entre as principais potências europeias tinha se tornado impraticável - e certamente obsoleta. Era fácil sentir-se seguro naquele mundo.

domingo, 4 de outubro de 2015

Bulgaria

Bulgaria had been secretly wooed by both Germany and the Allies, hoping for an ally in the Balkans.

Bulgaria decided in favour of the Germans and declared war on Serbia on the 11th October 1915, hoping to annex the Serbian province of Macedonia. By the 21st, Bulgarian troops had taken the Macedonian capital, Skopje, and had made contact with French forces on the Salonika Front. 3 days later, the Bulgarian army had driven a wedge between the Allied forces in Greece and the Serbian army they were trying to reach.

Despite the presence of allied troops on her soil, Greece was determined to remain neutral, so gave the key fortress of Rupel to the Bulgarians in the summer of 1916. Soon the Bulgarian army had occupied a 40-mile strip of Greece, and on the 17th August, Bulgaria mounted a major offensive against Greece. Although the offensive initially went well, capturing the town of Florina two days later, it soon ground to a halt under British Naval and aerial bombardment.

On the 24th April 1917, and again on the 8th May, British attacks against the Bulgarian trenches at Doiran were beaten off by Bulgarian artillery and machine-gun fire. As the summer arrived, the British cautiously withdrew across the river Struma, but the Bulgarians, glad of the respite, did not pursue.

Bulgarian artilleryIn fact, the 1918 Bulgarian summer offensive had to be cancelled when desertion and mutiny immobilised the Bulgarian army. Then the allies mounted their own offensive in September.

Doiran finally fell to British and Greek forces on the 18th, and the Bulgarian army was ordered to retreat on the 20th.

The defeat in Macedonia led to unrest and mutiny in the Bulgarian capital, Sofia. Several Bulgarian towns set up Soviets along the Russian model, and, as at Petrograd the previous year, loyal officer cadets were called in to disperse the mutineers. They were helped in this by a German division which had just arrived from the Crimea.

On the 25th of September, British forces entered Bulgaria. Two days later, a Bulgarian Republic was proclaimed at the small town of Radomir. The leader was Alexander Stamboliisky (who was to become Prime Minister in 1919), but despite having 15,000 troops at his command, he was defeated by loyal forces in a three-day battle at Vladaya.

On the 28th September, Bulgaria began armistice talks with the Allies and hostilities ended on the Bulgarian front at noon on the 30th.

After the war, Bulgaria signed the Treaty of Neuilly, similar to the treaty of Versailles in its terms. Bulgaria's armed forces were cut to the bone - only 20,000 men, no planes, no submarines - and she was forced to pay reparations over a 35-year period. This would have taken her up until 1957 to pay off.

The Bulgarian army lost 90,000 soldiers during World War I, more than much larger countries like Canada and Australia.


Fonte:
http://www.firstworldwar.com/features/minorpowers_bulgaria.htm

Mais:
http://docs.google.com/file/d/1vq8baKhLHjTBL7RVtIQxGQD8ChxoVBUr
http://en.wikipedia.org/wiki/Macedonian_Front