sábado, 22 de março de 2008

Adeus às armas

Aos desavisados:

http://fatoseficcoes.blogspot.com.br/2005/01/andando-de-onibus.html

Devido a atividades e a tarefas relacionadas a trabalho, e mais instabilidade de horários nos últimos tempos, andei negligenciando bastante minha presença no serviço voluntário. Não remediando a situação nem cumprindo meu compromisso com a meninada, gritei que era um fraco para o turno inteiro ouvir e pedi para sair.

Quando do desligamento da associação, as pessoas devem dirigir-se à secretaria e desfazer-se do crachá e da bata. O crachá será destruído; talvez reaproveitem a bata. Para a cena ficar completa, só faltou a devolução do coldre com a arma. Sem dúvida, procedimentos fortemente simbólicos.

domingo, 9 de março de 2008

Tradição

Trecho de uma das histórias do livro Decameron (de Giovanni Boccaccio), publicado lá pelo século XIV:

- Pirro, tenho imensa vontade de comer algumas pêras daquelas; suba na árvore, portanto, e jogue-me, cá para baixo, algumas delas.

Pirro trepou na árvore, sem qualquer hesitação, e pôs-se a jogar para baixo muitas pêras; enquanto as jogava, dizia:

- Ora essa, meu senhor! O que é que o senhor faz? E a senhora, Monna Lídia; então a senhora não sente vergonha de proceder desta maneira na minha frente? Os senhores estão pensando que eu estou cego? A senhora, ainda há pouco, estava doente; como foi que se curou de um momento para outro, a ponto de fazer o que faz? Eu sei que, se a senhora quiser proceder assim, bem que dispõe de belas salas. Mas, então, por que motivo não vai a uma delas, para essa finalidade? Em todo caso, seria isso mais honesto, do que praticá-lo na minha presença.

Dirigindo-se ao marido, a mulher disse:

- O que é que Pirro diz? Teria ficado maluco?

Pirro então perguntou:

- Não estou doido, não, senhora! Então a senhora não acredita que eu esteja vendo tudo?

Nicóstrato ficou muito surpreendido com as expressões de Pirro; e disse:

- Pirro, tenho a certeza de que você está sonhando.

Ao que Pirro explicou:

- Meu senhor, não sonho, nem faço coisa parecida; e também o senhor não sonha; pelo contrário, bem que o senhor se remexe todo; se esta pereira rebolasse do mesmo modo, não haveria de ficar pêra nenhuma em seus galhos.

A mulher, por sua vez, perguntou:

- Que será que está acontecendo? Será exato que ele julga ser verdadeiro o que está dizendo? Deus me livre! Se eu estivesse com saúde, como já estiver, subiria nessa árvore, para ver que maravilhas são essas que Pirro diz estar vendo.

Lá do alto da pereira, Pirro ainda dizia suas coisas; ao que Nicóstrato mandou:

- Desça.

Pirro desceu; e Nicóstrato indagou-lhe:

- Que é mesmo que você afirma que está vendo?

Pirro procurou explicar:

- Acho que o senhor pensa que eu seja desmemoriado, ou atarantado. O certo é que, lá do alto da árvore, eu via o senhor colocado por cima de sua mulher; por causa disto é que falei. Depois, quando desci, vi o senhor erguer-se e pôr-se aí, onde agora está, sentado.

- De uma vez por todas - disse Nicóstrato -, você é um desmemoriado, coisa que nós não somos; desde o instante em que você trepou na pereira, não nos movemos nem um pouco, senão agora, como vê.

A esta explicação, Pirro mostrou-se de espírito conciliatório:

- Mas, por que razão discutimos? O que eu vi, bem que o vi; além disso, se eu vi o senhor daquela maneira, vi-o em cima do que era e é seu.

Nicóstrato estava mais surpreso a cada instante; tanto, que disse:

- Desejo ver se esta pereira é encantada, e se quem nela sobre vê maravilhas!

Subiu Nicóstrato na árvore; quando ele esteve lá no alto, a mulher e Pirro, que tinham ficado embaixo, deram início às suas carícias amorosas; o marido, vendo isso, pôs-se a berrar:

- Ah! mulher criminosa! O que você está fazendo? E você, Pirro, homem em quem eu mais confiava?

Assim falando, Nicóstrato começou a descer da pereira. A mulher e Pirro afirmavam:

- Estamos aqui sentados.

Realmente, vendo-o descer, os dois procuraram sentar-se, voltando à posição em que Nicóstrato os deixara. Ao descer, o marido viu que ambos estavam onde os deixara; e pôr-se a dizer-lhes injúrias. A isto, Pirro disse:

- Nicóstrato, agora, na verdade, confesso que, como antes dizia o senhor, eu vi coisas que não existiam, enquanto estive lá em cima, na pereira; e não tenho outra prova mais, nem necessito, senão o fato de estar notando que o senhor viu o que não havia. [...]

Sem sombra de dúvida, o mistério de ver uma coisa pela outra está na própria pereira. [...]

Passou a conversar de maneira animada a respeito daquela ilusão de óptica, que tão fundamente mudava a realidade, aos olhos de quem trepasse ao topo daquela árvore.

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Uma piada do disco O Peru Da Festa - Vol. 2, lançado lá pelos anos 80' do século XX, estrelado por Lírio Mário das Costa, mais conhecido como Costinha:



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Um curioso elo entre dois fesceninos separados por quilômetros e por séculos. Tradição é isso aí.