quarta-feira, 30 de julho de 2008

Indústria da seca

Mensagem recebida via Orkut:

assunto: Participe da comunidade: eu quero um amigo q não beba
de: Gabriel
para: amigos
enviado: 29 de julho de 2008 16:44
Ae pessoal preciso de amigos que não bebam pra poder dirigir meu carro. Se vc tb precisa (a maioria de vcs seus alcoolatras de uma figa), entre nessa comunidade. Agora vc q não bebe, minoria eu sei, deve ter no máximo 30 amigos no orkut, entrem, eu imploro, seja meu amigo, dirija meu carro!

Estou convidando você para participar da comunidade 'Eu quero um amigo que não beba'.

É o efeito Lei Seca. Considerando o cara-de-pau que é esse grande colega manguaceiro, engraçado também é ver uma decisão das otôridade afetar tanto a marcha do cotidiano. Logo eles que, com suas medidas provisórias, CPIs e má dicção, na prática soam quase sempre é como notícias distantes de um universo alheio, o qual tem umas poucas intersecções com o dia-a-dia do canelau, isto é, contas de luz atrasadas, estrogonofe ou bife do ôião no almoço, problema no carburador ou no pedal de embreagem da perua Marajó, bacamarte azeitado para se proteger dos drogados que invadem quintal, canos estourados, criança caindo em cacimba, vira-lata de estimação padecendo de furúnculos coberto de spray mata-bicheira, vizinho barulhento ouvindo Diana, Elymar Santos e Benito di Paula, divórcios de celebridades e vilãs de novela das 8. É que dessa vez mexeram com um dos ingredientes básicos do modus vivendi dos súditos do reino: o costume de tomar uns gorós. Os netinhos do Velho Barreiro, os botânicos do absinto.

Esses bebuns em polvorosa e temerosos quanto ao futuro dão-me a sensação de um momento Repórter Esso ("testemunha ocular da História"), algo como, mal comparando, estar no meio de uma turba de jogadores de baralho da Praça do Ferreira comentando exaltadamente o então recente AI-5 ou tossir devido à fumaça dos bondes incendiados na tal Revolta da Vacina ou tropeçar em cabeças guilhotinadas espalhadas pelo chão da ancienne França. Mudança de hábitos e de hálitos.

A Lei Seca original, a [PSTU mode on] estadunidense [PSTU mode off], uma de suas principais características foi Al Capone. É esperar para ver no que vai resultar essa versão pindorâmica. Quem sabe, um empreendor que conquistará riqueza, notoriedade e poder graças a uma frota ilegal de veículos que preste o serviço de conduzir os pinguços para as farras e depois deixá-los de volta até seus lares. Libiamo ne'lieti calici.

sábado, 26 de julho de 2008

Goofs

Em cartaz: erros (goofs) em filmes. Objetos que aparecem ou desaparecem do nada, cenas de luta mal coreografadas e pessimamente editadas, atores ou atrizes que de um segundo para outro surgem com peça de roupa diferente, anacronismos, equívocos em referências históricas ou geográficas, equipe ou equipamentos de filmagem aparecendo, inconsistências no roteiro.

No IMDb, para cada filme há uma seção dedicada aos goofs, como em Howard, O Super-Herói e em Te Pego Lá Fora, clássicos das tardes de groselha com Cheetos.

Inusitado é ver como obras-primas irretocáveis e idolatradas por cinéfilos de vários planetas e de épocas diversas, películas do calibre de O Poderoso ChefãoCidadão Kane têm um monte deles.

Virou hobby eu reparar nesses detalhes bobos enquanto assisto a jóias e a bombas do cinema.

E para os espertinhos que adoram usar goofs como pivô para desabonar filmes, desejo que o círculo do inferno destinado a vocês seja lotado de kombis de DCE com aparelhagem de som tocando Gonzaguinha e de telas de alta definição exibindo cenas do Olga. Grávida de Luís Carlos Prestes.

sábado, 19 de julho de 2008

Olho no lance

Revirando uns amontoados de bregueços meus, encontrei, no meio de um material antigo da faculdade, um trabalho feito para a disciplina de Computação Gráfica. Foi muito bom para pôr a mão na massa e aprender sobre OpenGL, além de utilizar aquelas famosas equações da Física, lançamento oblíquo e tal.

Simplória, a aplicação consiste em um carinha batendo um pênalti. E não esperem um Winning Eleven. Aí vai:

Os comandos são:

- Câmeras estratégicas: teclar "1", "2" ou "3"

- Mover a câmera: teclar "q", "SHIFT+q", "w", "SHIFT+w", "e", "SHIFT+e", "t" ou "SHIFT+t"

- Mover jogador: teclar "a", "SHIFT+a", "s", "SHIFT+s", "d" ou "SHIFT+d"

- Mover goleiro: teclar "f", "SHIFT+f", "g", "SHIFT+g", "h" ou "SHIFT+h"

Um clique no botão direito do mouse e aparecerá um menu bem intuitivo para, dentre outras ações, escolher ângulo de chute, chutar a bola, dar reset no aplicativo.

sábado, 12 de julho de 2008

Do que elas gostam

Talvez o que me leve a insistir em passar os olhos nos jornais impressos por algo além da tirinha do Pafúncio, das palavras cruzadas e das receitas de empadão de frango seja só busca pelo exotismo, tipo perceber em certas notícias aspectos análogos a tailandesas de pescoço longo ou a aberrações de circo do início do século XX. Ou, numa comparação mais hardcore, a sessões de tortura no Iraque, a cachorros assados em alguma Coréia.

É quando leio essa:

A biofarmacêutica Maria da Penha disse nesta segunda (7) que quem é contra a lei de proteção à mulher ou despreza os casos de violência registrados no país ou quer perpetuar o machismo. "Eles [contrários à lei] ou desconhecem a realidade do País ou são oriundos de famílias altamente machistas e querem perpetuar o machismo não só nas suas casas, mas também na sociedade", resumiu.

E essa:

Depois de sete anos de espera, Maria da Penha recebeu nesta segunda-feira a indenização de R$ 60 mil do Governo do Ceará. [...] Para Maria da Penha este é um momento muito feliz. "O Brasil foi condenado pela OEA por tratar os casos de violência à mulher com negligência. Hoje, o Governo do Ceará reconheceu que errou e está me pagando de maneira simbólica, cumprindo uma determinação" desabafou.

A Mariazinha tomou tiro do ex-marido pelas costas. Ficou paraplégica. Não satisfeito, o cônjuge pouco romântico ainda tentou matá-la eletrocutada. Mas o agressor psicopata foi tão incompetente que nem para causar uma lesão séria na boca da esposa e assim evitar que posteriormente ela poluísse os ares ao vomitar bobageiras do cancioneiro feministóide-paranóide-debilóide.

Presumo que até professores de cursinho já tenham ouvido falar daquele papo do Nelson Flor-de-obsessão Rodrigues de que mulher gosta de apanhar. Nem todas, só as normais, acrescentava ele, didaticamente. Se a Mary for do time das não-patólógicas, parabéns a ela por unir o útil (bufunfa) ao agradável (porrada). Faturando uns cobres do erário.

Mariazinha, Ziraldo e Jaguar. O trio ternura que vai às nuvens de algodão doce no céu de brigadeiro do vitimi$mo.

domingo, 6 de julho de 2008

Som e fúria

É daquele bigodudo alemão que negligenciava suas doses de Gardenal a boutade "o universo sem música seria um erro". Ó Professor Biruta, e quando justamente a música é um erro, para onde correr?

Observemos, no Orkut, a descrição da comunidade 'Psy Trance Fortaleza':

Que batida é essa,
que bate que bate que nem coração
e nos leva ao ponto mais alto
do universo?

Isso é o psytrance!

No Psy, não há letras
mas ainda assim
a música passa mensagens
que nos direciona o modo
como pensamos, vemos e vivemos.
Não te diz o que pensar,
mas como pensar.

No Psy não existem fatos
que são empurrados à você,
mas idéias abstratas que podem
te influenciar.

É isso que te permite pensar
o que você quiser,
interpretar da sua maneira,
mas ao mesmo tempo te guia.

O Psy-Trance não controla ninguém,
é apenas um filtro em que
podemos ver o mundo através.
Uma cortina aberta,
ou melhor, uma janela
para uma nova visão de tudo.


Vê-se bem que esse pessoal (não só eles, aliás) está precisando dar uma folga para a cartilha Elvis Presley de música for dummies.

Explico. Imputa-se ao caminhoneiro norte-americano a autoria da frase em que afirmava que nada sabia de notas musicais, e que nem precisava saber. O que dá mais audiência é falar dos predicados vida loka, do mito do talento selvagem e inato que vai na contramão da caretice do estudo, bla bla bla y soy rebelde.

Se a galera que ama música e adora gritar uhuuu não vivesse tão ocupada com a atitude, as mensagens positivas, o estilo de vida, os shows beneficentes em prol da paz e da proteção às baleias ou contra a fome na África ou denunciando o aquecimento global, talvez pudesse dedicar um tempinho, ainda que fosse no intervalo entre um pico e outro de heroína, a conhecer certos assuntos, ultrapassados e reacionários, é verdade, mas que têm um pouco a ver com música, tipo afinação, arranjos, partituras, impostação.

Acho que só mesmo uma sessão de descarrego musical para disciplinar as sacolejantes capivaras da geração E de ecstasy (não só dela, aliás). Mas muita atenção ao "Acho que" inicial. Pois não é fato - até um capenga da audição como eu consegue verificar - que a Céline Titanic Dion é um dos objetos sonoros mais afinados que já andaram sobre a superfície terrestre? E no entanto... Every night in my (bad) dreams.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Carga pesada

Quando aparecem as seguintes em conversas, fiquem sabendo: é uma cilada, Bino!

- é preciso analisar o contexto da obra

- acredito em algo superior

- a nível de

- estadunidense

- debate de idéias

- eu tenho conteúdo

- preocupe-se com o social

- se não gosta, respeite

- o momento de solidariedade

- eu sou assim, meio eclético

- ameaça às instituições democráticas

- mão-de-obra qualificada

- fantasma da inflação

- monstro sagrado da teledramaturgia

- ensino superior gratuito e de qualidade

- gosto de músicas que transmitam uma mensagem

- você também pode contribuir para a melhoria da pessoa humana

- reificação

- guetificação

- direito à moradia

- o caso que emocionou/chocou/comoveu o Brasil

- oportunidades iguais

- igualdade para todos

- você tem que ser imparcial

- não gostou, é porque não tem cultura/não entendeu

- não consigo sorrir enquanto pessoas morrem de fome na África

- não consigo dormir sossegado enquanto o Islã e o Clube de Bilderberg invadem tudo paulatinamente

- se não acredita, então prove que não existe

- esse filme é muito bom porque mostra a realidade

- gosto de samba de raiz/funk das antigas/cinema de arte

- o que falta é vontade política

- tanto faz se escrevo errado, pois o que importa é a mensagem

- é artístico e de muito bom gosto

- você não deveria fazer piada sobre esse assunto

- não entendo como existe gente que não gosta disso

- a culpa é do neoliberalismo/imperialismo

- escrevo melhor que o Augusto Cury

- corro mais rápido que uma araucária

- sou menos feio que o Carlitos Tevez