domingo, 6 de julho de 2008

Som e fúria

É daquele bigodudo alemão que negligenciava suas doses de Gardenal a boutade "o universo sem música seria um erro". Ó Professor Biruta, e quando justamente a música é um erro, para onde correr?

Observemos, no Orkut, a descrição da comunidade 'Psy Trance Fortaleza':

Que batida é essa,
que bate que bate que nem coração
e nos leva ao ponto mais alto
do universo?

Isso é o psytrance!

No Psy, não há letras
mas ainda assim
a música passa mensagens
que nos direciona o modo
como pensamos, vemos e vivemos.
Não te diz o que pensar,
mas como pensar.

No Psy não existem fatos
que são empurrados à você,
mas idéias abstratas que podem
te influenciar.

É isso que te permite pensar
o que você quiser,
interpretar da sua maneira,
mas ao mesmo tempo te guia.

O Psy-Trance não controla ninguém,
é apenas um filtro em que
podemos ver o mundo através.
Uma cortina aberta,
ou melhor, uma janela
para uma nova visão de tudo.


Vê-se bem que esse pessoal (não só eles, aliás) está precisando dar uma folga para a cartilha Elvis Presley de música for dummies.

Explico. Imputa-se ao caminhoneiro norte-americano a autoria da frase em que afirmava que nada sabia de notas musicais, e que nem precisava saber. O que dá mais audiência é falar dos predicados vida loka, do mito do talento selvagem e inato que vai na contramão da caretice do estudo, bla bla bla y soy rebelde.

Se a galera que ama música e adora gritar uhuuu não vivesse tão ocupada com a atitude, as mensagens positivas, o estilo de vida, os shows beneficentes em prol da paz e da proteção às baleias ou contra a fome na África ou denunciando o aquecimento global, talvez pudesse dedicar um tempinho, ainda que fosse no intervalo entre um pico e outro de heroína, a conhecer certos assuntos, ultrapassados e reacionários, é verdade, mas que têm um pouco a ver com música, tipo afinação, arranjos, partituras, impostação.

Acho que só mesmo uma sessão de descarrego musical para disciplinar as sacolejantes capivaras da geração E de ecstasy (não só dela, aliás). Mas muita atenção ao "Acho que" inicial. Pois não é fato - até um capenga da audição como eu consegue verificar - que a Céline Titanic Dion é um dos objetos sonoros mais afinados que já andaram sobre a superfície terrestre? E no entanto... Every night in my (bad) dreams.