sábado, 24 de dezembro de 2005

Já começou

E está aí mais uma vez o zeitgeist de final de ano. Apreciação culinária é meu forte nessa época. Época apressada e ruidosa. Papai Noel, Rudolph do Nariz Vermelho, menino Jesus, Mr. Hanky, presépio, guirlanda, pinheiros enfeitados, artesanato de papel crepom, cordéis de luzes pisca-pisca com 100 mini-lâmpadas, centros de compras lotados, povo das antigas talvez recorde a propaganda do Banco Nacional (a vinheta da TV Globo continua ("O futuro já começou", bla bla bla)), cartões, abraços bregamente efusivos e hipócritas, hora de acalentar esperanças e descontos de 20%, filmes de ocasião, CDs e DVDs de ocasião, solidariedade de ocasião (aquele agitator aidético, tsc, tsc), a trilha sonora que impregna: [Jingle Bells, Deck The Halls, Noite Feliz, Adeste Fideles, melodias de harpa, releitura de Lennon pela Simone], especial do Roberto Carlos, desenhos animados adaptando a história de Charles Dickens sobre os 3 fantasmas, insuportáveis garotos(as)-enxaqueca lembrando-nos a cada 5 minutos de que tudo não passa de invenção do comércio, música do Vangelis no anúncio televisivo da corrida São Silvestre, Milagre Na Rua 34, A Felicidade Não Se Compra, sisudos balconistas de loja usando gorrinhos encarnados, caixinha de funcionários, roupa branca, Sidra Cereser, as taças afuniladas sempre repletas e com a meia rodela de limão na borda, bacalhau da promoção, panetone, lasanha gratinada, torta de pêssego, noz, avelã, votos (no estilo Coxinha) de felicidade e de prosperidade, o espocar de carabina da tampa do champanhe - a espuma escorrendo, a garrafa um vulcão lambuzado de lava a pingar no chão da sala gotas de basalto fermentado -, pular onda na praia, programas de retrospectiva, o caos das explosões de fogos de artifício, metas - candidatas a negligências - para os próximos doze meses.

Mas invocado mesmo é aqui, agora, esse cheiro de peru ou de chester, sei lá, assando. E a casa cheia de gente mais ou menos civilizada. Vejo nessas festividades domésticas de dezembro algo simultaneamente cafona e irresistível. É uma excelente desculpa para nos entupirmos das iguarias típicas do período e reunir pessoas gradas, parentes ou não, que moram longe e/ou dificilmente têm tempo durante o resto do ano.

Presentinhos são bem-vindos, é lógico.

E como diria Joey Ramone, seus bastardos: Merry Christmas, I don't want to fight tonight.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

Morte súbita

Registro de morte súbita no futebol do Ceará. Não o esquema para desempatar partida. Morte súbita de fato. O sujeito de repente desfalece e pof, morre.

Um jogador do Ferroviário Atlético Clube - F.A.C. (vulgo Ferrim) faleceu depois de um treinamento físico na Vila Olímpica Elzir Cabral. Parada cardíaca, dizem. Tinha 23 anos de idade.

Nesse momento é que gosto de pensar na minha condição de detentor vitalício do troféu Bola Quadrada e do título Canela de Pinóquio. Meu recorde de embaixadinhas pode ser contado nos dedos da mão mutilada do Lula, e chego ao cúmulo de não torcer por um time. Eu simpatizava era com o International Superstar Soccer, do Super Nintendo. Pontos fortes desse antigo game: sem voz do Galvão Bueno, nem reportagem do Victor Hannover, nem goleiro chamando técnico de "professor". Decorei uns nomes acolá. Chelsea, Milan, Boca Juniors, Kashima Antlers, Real Madrid, Paysandu, Icasa.

Lembro quando eu batia perna pelas cercanias do Elzir Cabral. Costumava ficar umas manhãs dedicadas ao ócio nos bancos de uma praça que havia ali por perto. Não se viam craques marcando presença num Pajero cheio de loiras flamantes. Alguns caras vinham para o treino era de Paranjana 1 ou 2.

Mas voltando ao assunto. Futebol para mim sempre foi que nem guerra. Nada de participar. Os lances decisivos e as mortes, cabeçadas e carrinhos na zona do agrião, só pelo noticiário. Os sedentários cervejeiros e pançudos que cultuam seus rachas do santo fim de semana que se cuidem.

Um pouco mais sobre bola, beligerância e óbitos: acompanhando um desses edificantes programas mundo cão, vi um quebra-pau de grandes proporções, digno de filme tipo O Senhor Dos Anéis, em que sobrou chibata até para policiais, durante um campeonato de futebol amador no interior. E houve também aqueles torcedores do Fortaleza agraciados com uma chuva de tiros no RJ. Todos ligados na mesma emoção. Que bonito é.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

Sayonara

O Sr. Miyagi - muitos insistem em chamá-lo de Pat Morita - morreu.

Foi-se o simpático semblante impassível que parecia com uma eterna expressão de quem atingiu o nirvana. Para este momento, recomendo uma daquelas pílulas de sutileza oriental em forma de frase conhecidas como koan (enigma sem solução):

Para onde vai a luz da lâmpada quando ela queima?

* 1932      + 2005