segunda-feira, 30 de abril de 2012

Umek

Umek. Não confundir com a antidade, mistura de anta com entidade, que ensina "nós pega o peixe". Descobri o DJ esloveno Uroš Umek em 2003, através do aplicativo multimídia BS.Player. Em sua primeira execução após instalado, o programa tocava automaticamente a amostra de 30 segundos de uma curiosa faixa eletrônica intitulada Posing As Me. Chamou minha atenção no ato. Procurei no Kazaa por mais material do sujeito. Imaginem versões alucinógenas das trilhas de games futuristas e cyberfetichistas como Super Metroid e MDK.

É interessante esse fenômeno, a popularidade alcançada por hits techno/dance vindos de improváveis lugares dos Balcãs. Por exemplo, acho difícil que alguém tenha escapado incólume de ouvir, em 2010-2011, uma certa Stereo Love: o batidão com tunts e bips, o sample da sanfoninha romena e a voz intrigante da exótica beldade Vika Jigulina (nascida na Moldávia).

"Música de rave" me lembra de um antigo colega de trabalho, do breve período em que fui empregado de uma em-vários-sentidos-minúscula secretaria da prefeitura. O cidadão encarnava o típico marombado com cérebro de platelminto e camiseta Abercrombie & Fitch. Éramos da área de banco de dados. Muito engraçado ver o Johnny Bravo da Parangaba, ele sentado em uma das cadeiras giratórias do escritório e imitando as coreografias que aprendia nas boates, narrando histórias que envolviam abuso de anfetaminas e de peiote, luzes psicodélicas, problemas de surdez momentânea, garotas disponíveis e fosforescentes de glitter, paredões de som do tamanho de um castelo búlgaro. Espécie de almanaque no assunto, ele vivia citando nomes tipo The Chemical Brothers, Marky, Basement Jaxx, Daft Punk, The Prodigy. Uma vez, danou-se a falar até de efeito Doppler.

Possuo 86 arquivos MP3 do Umek. Foi complicado selecionar 4 para este post. Qualquer coisa, dêem uma pesquisada. Recomendo. O cara é inspirado. Conta-se inclusive um caso de teor folclórico sobre ele. Por causa de uma festa realizada em um distrito rural perto de Liubliana, capital da Eslovênia (país com território menor que o de Sergipe, a República do Sergipistão). Apareceram acusações de que o barulho infernal do evento provocou stress nas vaquinhas de fazendas da região, impedindo os traumatizados bifes ambulantes de produzir leite por um tempo, o que ocasionou prejuízos à economia do vilarejo. Mu.

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sábado, 7 de abril de 2012

[edição extraordinária]

O post anterior foi uma homenagem à maravilhosa e eterna Jane Austen, uma das minhas obsessões literárias, um dos meus modelos de perfeição em linguagem escrita.

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Foi também uma homenagem aos amigos e aos inimigos com os quais vivi durante os loucos e inesquecíveis derradeiros anos da década de 90, os últimos suspiros do fascinante e assustador século XX. Acho que, pelas referências, dava para perceber que eu contava situações ocorridas por volta de 1999-2000.

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Qual não foi minha surpresa ao saber ontem do falecimento de um dos personagens emblemáticos daquele período, o professor Itamar Filgueiras. Foi o que me motivou a digitar esta edição extraordinária. Figura famosa no ensino de Português no Ceará. Fui aluno dele em 2000. Lembro sua característica bata - um par de pincéis atômicos no bolso -, seu cabelo à Franz Kafka, sua volumosa pança eclesiástica/tamborística, seu nariz de tucano, suas anedotas, sua voz profunda de locutor da era de ouro do rádio anunciando uma música de Emilinha Borba e orações coordenadas sindéticas. Estou em visita de feriadão na casa dos meus pais. Encontrei o primo Roger e sua filhinha de poucos meses (parabéns!). Encontrei o quase centenário vô Antonino e comentei com ele a morte do ilustre docente. O bode velho, com a habitual grosseria que o torna tão adorável, apenas observou o quanto alguns sujeitos caem fácil nas garras da Indesejada. Não fala isso, vô, Deus castiga, protestei. Olha a blasfêmia, moleque, reagiu. Saí correndo, para escapar do bracinho de espaguete que desenhava no ar uma bengalada. Deixei-o conversando sozinho, "Rapaz, me alembrei agora de um jogo da Copa da Suécia, nessa época minha véia inda era viva..." e bla bla bla.

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Também no texto anterior, mencionei rapidamente o descartável grupo Sugar Ray, autor de dois megahits executados à exaustão no rádio e na TV. Sofreram superexposição e encheram o saco de muita gente. No Laranjato, sempre havia alguém cantarolando-os, assoviando-os. Procurem pelo outro sucesso deles, Someday. Tenho certeza de que o reconhecerão de imediato. "And fade away", diz uma parte da letra, que reflete sobre a passagem do tempo. Cedo ou tarde, esse será o destino de todos nós. Feliz Páscoa.