quarta-feira, 24 de agosto de 2005

Rabichos

A quem estiver solteiro e, quiçá em conseqüência disso, de humor azedado, meu desdém a vocês nessa data querida. E haja carros de telemensagem - da série de grandes ganhadores do troféu Abacaxi das idéias de jerico - detonando Careless Whisper e Dancing Queen em versões forrozeadas, lojas com anúncios fofinhos por todos os lados, operadoras de telemarketing carregando buquês de lisases na volta do trabalho e casais inebriados desfilando aleatórios pela cidade hoje.

Dia dos rabichos.

Acho que é do tempo da minha avó o uso comum da palavra "rabicho" para designar o que atualmente é indicado por nomes serelepes como "paixão" (eita), "paquera" (eita)², "namorado".

Oportunista que também sou, envio minha reles contribuição, bem ao estilo do semi-árido, para o $entimental junho-12. Os versos a seguir, conheci-os por intermédio de um colega que é muito interessado em extravagâncias regionalistas. O autor foi um tal de Zé da Luz. E foi mal essa frescurada de versinho, mas sabem como é, love is in the air, every sight and every sound, a patacoada de sempre. Dêem um desconto aí, é até engraçadinha a composição:

AI SE SÊSSE

Ai se sêsse.
Se um dia nós se gostasse.
Se um dia nós se queresse.
Se nós dois s'impareasse.
Se juntinho nós dois vivesse.
Se juntinho nós dois morasse.
Se juntinho nós dois drumisse.
Se juntinho nós dois morresse.
Se pro céu nós assubisse.
Mas porém se acontecesse
São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse
dizer qualquer tolice.
E se eu me arriminasse
E tu com eu insistisse
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o buxo do céu furasse.
Tarvez que nós dois ficasse.
Tarvez que nós dois caísse.
E o céu furado arreasse
E as virgens todas fugisse.

O quê? Fale mais alto, Sábio Nihil Misantropo do Castelo da Montanha, não consigo escutá-lo. Não suporta essas datas comemorativas comerciais e capitalistas? O que namoro tem a ver com amor? Aaah, mulek, dê cá a patinha. Garoto esperto, vai ganhar um biscoitinho por essa.