domingo, 31 de julho de 2011

Branch out

E aí que uma colega reuniu um pessoal para um agito de sábado à noite no apartamento. Permitam-me gastar dois centavos descrevendo a moça, que é muito bonita, com cabelos que são labaredas ruivas, silhueta delgada com curvas, elipses e convexos nas regiões certas e olhos caramelados mas um tanto arrogantes. A anfitriã anunciou aos intimados, em e-mail flyer produzido no Photoshop, que cada um de nós deveria enviar uma mensagem Re: tendo como anexo algum sucesso ligeiro da década 00, que ela posteriormente gravaria em CD e colocaria para rolar na hora da festa. Interessante. Esses membros do jet set, sempre inventando moda, querendo superar-se. Claro que ela usou sua mágica particular para evitar repetições. Abracadabra, alakazan.

Sabem como é essa história de happy hour. Os cubos de gelo tilintando em copos que transbordam de conhaque, os convidados depenando sem modos a bandeja dos salgadinhos, um jogador apostando aliança de casamento no pôquer, uma pinguça louca ameaçando pagar de striptease, ignorando as vassouradas na parede contígua do vizinho incomodado com a balbúrdia, o nevoeiro de nicotina pairando e a gente falando mal dos amigos ausentes. Na trilha sonora, Hey Ya! (Outkast), This Love (Maroon 5), Come Into My World (Kylie Minogue), Jaded (Aerosmith), Don't Lie (The Black Eyed Peas), Keep On Rising (Ian Carey) e outros. Eu debatia com o Godofredo os recursos do Windows 7 quando surgiram os primeiros acordes da minha contribuição. O Carlos Santana é aquilo. Talentoso cucaracha, guitar hero e sósia de Muammar al-Gaddafi. Essa era a faixa 3 do álbum Shaman, de 2002, trabalho que contava com diversas participações especiais.

E agora observemos a garota que canta esse tal Game Of Love. Chama-se Michelle Branch. Nascida em 1983, numa cidadezinha do estradeiro e calorento Arizona. É multiinstrumentista. Tem um Grammy no currículo. Fez pontas em seriados como Buffy, A Caça-Vampiros e One Tree Hill. Executa um popzinho inofensivo e despretensioso (um recente flerte com o country), com uma voz limitada, arranjos primários, refrões grudentos e letras banais que vão do nada a lugar nenhum. Curioso é que há um clipe dela, Everywhere, com trechos no melhor espírito da farra de prédio.

Aconteceu que, semanas depois dessa confraternização, eu estava no Shopping Aldeota atrás de comprar um cabo flat. Na praça de alimentação, inconvenientemente lotada de adolescentes, esbarrei com a Tata, filha mais velha (13 anos) da minha prima Jackie. Acompanhando a pirralha, um grupo de meninas de idades sub-15 que conversavam animadamente sobre a Lady Gaga. Vocês não enjoam dessa sirigaita?, caí na besteira de questionar, sendo merecidamente açoitado por gritos de "PO PO PO POKER FACE!", "Chato, careta!". Pois esperem o coroa aqui mostrar uma coisa, revidei. Saquei meu MP4 do coldre e dei play numa música da Michelle. "Urra, tio, a parada é massa, quem é?", indagou uma loira sardenta cheia de pulseiras. Eu disse o nome. "Nunca vi mais gorda!", exclamou uma morena de piercing no nariz. Antes de ir embora, perguntei de esguelha à Tata, Vem cá, tua mãe, implicante como é, deixou mesmo tu sair vestida assim (exígua minissaia no estilo apareceu-a-margarida)? "Se eu tivesse pedido, ela não teria deixado, seu bobo!", foi a resposta. Ah, entendi.

O som que apresentei às luluzinhas gagaístas foi este. Digam se não é uma beleza.