domingo, 31 de dezembro de 2017

Invenções

AVENTURAS NA HISTÓRIA
3 de julho de 2014

Primeira Guerra: armas e objetos do dia a dia que surgiram com o conflito

Heranças do confronto - objetos que devemos à Primeira Guerra.

(Fábio Marton)

Mais que qualquer outra antes, a Primeira Guerra foi um confronto - e choque - de tecnologias. Os exércitos partiram na direção do inimigo portando aviões, metralhadoras e artilharia moderna, sem entender o real impacto que essas criações teriam sobre as táticas cuidadosamente decoradas de manuais escritos no século anterior. Ideias ultrapassadas levaram a um início desastroso no combate, no qual cavalaria armada de sabres avançava contra nichos de metralhadoras.

A solução foi reinventar desde o princípio toda a forma de luta. "A guerra foi transformada para além de qualquer reconhecimento e não era mais guerra no sentido tradicional", afirmou o historiador israelense Martin van Creveld em Technology and War: From 2000 B.C. to the Present (sem tradução). Mas não foram apenas as armas e táticas que mudaram. A necessidade do Exército levou a diversas pequenas inovações que beneficiaram a vida civil. Do aço inoxidável à calça feminina, várias invenções que ainda hoje fazem parte do dia a dia nasceram no conflito mundial. Nas próximas páginas, conheça itens que foram inventados, estrearam ou só fizeram sucesso por causa da Grande Guerra.

MILITAR

Caças e bombardeiros

Quando a guerra começou, aviões pareciam pipas motorizadas, precariamente mantidas por cabos. Nos primeiros meses, eram usados apenas em funções de reconhecimento, decolando desarmados, ou lançando bombas com as mãos. Os pilotos confrontavam os inimigos com acenos e sorrisos - os mais agressivos jogavam granadas ou usavam pistolas, sem efeito. A era da inocência acabou em 5 de outubro de 1914, quando o francês Joseph Fantz adaptou uma metralhadora a seu biplano Voisin, derrubando um avião alemão. Ao fim do conflito, bombardeiros como o Handley Page V/1500 eram capazes de levar mais de 3 toneladas de bombas de Londres a Berlim, e o caça Airco DH.4 americano voava a 230 km/h, 100 a mais que no início da guerra e quase 50 a mais que os melhores aviões alemães. Divididos em caças e bombardeiros, aviões se tornariam parte central de qualquer guerra.

Máscaras de gás

A imagem da Primeira Guerra é indissociável das máscaras de gás, uma defesa desenvolvida pelos britânicos em 1916, e hoje fundamental em laboratórios e na indústria. Durante o confronto, ambos os lados usaram armas químicas, que causaram quase 90 mil mortes. Os franceses tomaram a iniciativa, usando bromoacetato de etila - um tipo de gás lacrimogêneo - logo no início, em agosto de 1914, ao que a Alemanha reagiu em outubro, também com um agente não letal. No ano seguinte, seriam usados agentes letais, como cloro e fosgênio. A partir da década de 1920, o gás lacrimogêneo passou a ser usado pela polícia para conter multidões - e a máscara, pelos rebeldes mais preparados.

Tanques

Estreando em 1916, com o Mark I britânico, os tanques foram feitos para desempatar a situação das trincheiras. Por anos, o front se manteve quase imóvel, com ofensivas gigantescas terminando em avanços pífios. Os tanques, imunes a metralhadoras e armas leves, podiam avançar e, com suas lagartas, cruzar as trincheiras inimigas e dar espaço para a infantaria. Foram um dos trunfos que permitiram a vitória aliada - a Alemanha praticamente ignorou a novidade*, preferindo construir armas antitanque.

[* http://en.wikipedia.org/wiki/A7V]

Sonar

Após o desastre do Titanic, em 1912, o canadense Reginald Fessenden tentou criar um detector de icebergs, que patenteou em 1914. Veio a tempo de salvar os aliados: seu oscilador era um hidrofone ligado a um emissor de ruídos, que podia detectar submarinos alemães. Em 1917, os ingleses testaram um protótipo do ASDIC, o primeiro modelo direcional. Hoje o sonar é usado também por pescadores, engenheiros e oceanógrafos para identificar objetos, profundidade e características do leito marinho.

Porta-aviões

Os primeiros "porta-aviões" não tinham pista. Guindastes baixavam hidroplanos à água, que decolavam por si e eram recolhidos na volta. Mas hidroplanos não são bons aviões de combate: os flutuadores não têm muita aerodinâmica, tornando-os alvos fáceis para armas no solo. Em 1918, os britânicos adaptaram uma pista ao cargueiro HMS Argus, tornando-o o primeiro porta-aviões propriamente dito, do qual aviões convencionais podiam decolar. Com alcance dezenas de vezes superior ao de um navio armado de canhões, eles se tornaram a parte mais fundamental de qualquer força naval.

CIVIL

Zíper

Fechos automáticos existiam desde o século 19, mas não colaram muito porque eram baseados em ganchos, que se enroscavam em tudo. Durante a guerra, a marinha americana estreou o fecho desenhado pelo sueco Gideon Sundback, que era liso e não se enganchava em nada - considerações cruciais para o uso militar. Era o zíper moderno, que foi adotado pelos civis na década seguinte.

Absorvente íntimo

Quando os Estados Unidos entraram na guerra, em 1917, uma novidade local passou a ser usada nos hospitais de campo: bandagens feitas de "celu-algodão", um material novo que era cinco vezes mais absorvente que o algodão puro. As enfermeiras da Cruz Vermelha rapidamente descobriram um uso alternativo para as bandagens em certos dias do mês. Após a guerra, o fabricante, a Kimberly-Clark, criou uma nova embalagem para o mesmo produto, fazendo fortuna com o primeiro absorvente íntimo descartável.

Aço inox

Um pouco antes do confronto, o engenheiro britânico Harry Bradley tentava criar uma liga metálica mais resistente ao calor, para fazer armas melhores - metralhadoras e canhões entortam ou travam se superaquecidos, porque o calor torna o metal maleável. Ele tentou isso com uma liga de ferro e cromo, que tem um ponto de fusão mais alto. O material era caro demais e ligeiramente menos resistente que outras opções, e não resolveu o problema das armas. Mas quando Bradley fez testes químicos em sua liga, notou que era resistente a corrosão. O aço inoxidável substituiu a prata e o ferro na cozinha, e hoje é usado de bisturis a monumentos arquitetônicos.

Bronzeamento artificial

No início de 1918, último ano do confronto, a escassez fazia sentir seu impacto. Quase metade das crianças em Berlim sofria de raquitismo, doença que causa deformidades nos ossos, por falta da vitamina D - que pode vir de alimentos, mas é produzida naturalmente pelo organismo, por exposição ao sol. O pediatra Kurt Huldschinsky foi o primeiro a notar a relação entre raquitismo e falta de sol, ao ver que quase todos seus pacientes eram pálidos. Assim, para tratar a doença em pleno inverno, ele os expos à luz ultravioleta - criando não só um tratamento eficiente como o bronzeamento artificial, que opera pelo mesmo princípio.

Horário de verão (http://en.wikipedia.org/wiki/Daylight_saving_time#History)

Foi também a necessidade que levou a Alemanha a decretar que os relógios deviam ser adiantados, em 30 de abril de 1916. A ideia era economizar carvão, usado tanto na rede elétrica quanto nas locomotivas que levavam armas ao front, assim como nas fábricas que as produziam. Uma hora a mais de sol significava gastar menos combustível. Os aliados copiaram a ideia. Quase todos os países do mundo experimentaram o horário de verão ao longo do século 20. Alguns, como a Rússia ou a Argentina, usam um fuso horário adiantado em relação à sua localização, vivendo permanentemente em horário de verão.

Calça feminina

As roupas femininas não eram nada práticas no começo da guerra, consistindo em vestidos longos com espartilhos. Calças eram exclusivas para homens, e havia até mesmo selas de cavalo femininas, que permitiam cavalgar de saia, sentada de lado. Quando as mulheres tiveram que trabalhar nas fábricas, a necessidade superou as preocupações com a elegância. Depois que o tabu foi quebrado, as calças se tornaram uma expressão da moda, a partir dos anos 20.


Fonte:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/primeira-guerra-armas-objetos-788057.shtml

Mais:
http://en.wikipedia.org/wiki/Trench_coat
http://mentalfloss.com/article/31882/12-technological-advancements-world-war-i
http://eandt.theiet.org/search/?action=IETSearch&q=WW1
http://www.popularmechanics.com/surprising-scientific-advances-that-came-out-of-world-war-i
http://www.scientificamerican.com/products/world-war-i
http://docs.google.com/file/d/1fE3JadfVNIScvT9PCQVIsrK8KcsGNS2Y
[links]

* Fábio Marton era o autor do extinto Not Tupy, blog que comecei a ler no longínquo ano de 2005. Considero esta uma de suas melhores postagens.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Ecaterina Teodoroiu

AGERPRES
16 Ian 2014

DOCUMENTAR - Ecaterina Teodoroiu, eroina de la Jiu

(Marina Bădulescu)

Este numită "eroina de la Jiu". Călăuzită de cele mai nobile sentimente față de patrie, a îmbrăcat mai întâi uniforma albă de infirmieră pentru răniți, apoi pe cea de soldat. Hotărâtă să apere cu arma în mână pământul strămoșesc, Ecaterina Teodoroiu, de la a cărei naștere se împlinesc, la 16 ianuarie, 120 de ani, s-a aruncat în focul marilor bătălii de la începutul Primului Război Mondial. A căzut eroic în bătălia de la Mărășești, onorând steagul românesc.

Ecaterina Teodoroiu s-a născut la 16 ianuarie 1894, satul Vădeni, astăzi cartier în componența municipiului Târgu-Jiu, într-o familie de țărani săraci, cu opt copii. De mică a avut aplecare către învățătură. Când a sosit timpul să meargă la școală, Ecaterina nu a vrut să rămână acasă ca frații ei sau ca alți copii din sat. Sprijinită de mama sa, care se mândrea că are o fată cu multă dragoste de carte, a devenit elevă. Clasele primare le-a urmat la Vădeni, apoi la Târgu Jiu, iar în vara anului 1916 și-a terminat studiile la un liceu din București.

Prima participare a ei la viața militară a fost consemnată în 1913, când, deși era elevă în anul V de liceu, s-a înscris ca cercetașă în asociația cercetașilor români, Cohorta "Pastorul Bucur" din București, iar din 1914 era cunoscută ca bună cercetașă în cohorta gorjeană de la Târgu-Jiu, unde activa pe timpul vacanței.

După intrarea României în război, a fost întâlnită adesea la spitalul din Târgu Jiu, acordând îngrijiri răniților, printre care s-a aflat și fratele său mai mare, Nicolae. Pentru Ecaterina, moartea fratelui său a reprezentat convingerea că războiul nu este o joacă, ci conștiința jertfei supreme. După mai multe încercări de a participa pe front ca soldat activ, de fiecare dată spunându-i-se că locul ei este în spital, Ecaterina a hotărât plece pe câmpul de bătălie. Comandanții au cedat insistențelor ei și au primit-o să lupte alături de ostași.

În 10 octombrie 1916 a avut loc prima bătălie de la Jiu. Trupele Armatei I Române, comandate de generalul Ion Dragalina, au respins o puternică ofensivă inamică, iar soldatul Ecaterina Teodoroiu a fost în primele linii. Pe 14 octombrie 1916, în timpul primei ofensive germane peste Munții Gorjului, Ecaterina a luat parte alături de populația civilă, cercetași și o companie de milițieni la luptele de la Podul Jiului, concurând la respingerea atacului unei companii bavareze inamice.

Confruntarea descrisă de Constantin Kirițescu în "Istoria războiului pentru întregirea României 1916-1918", vol. I, seamănă a scenariu de film: "În timpul luptei, pe la amiază, o coloană inamică, în forță de o companie și jumătate, cu mitraliere, reușește să se strecoare printre grupul nostru central și detașamentul din stânga și ajunge în marginea de vest a orașului, la podul de fier al Jiului. Vestea se răspândește cu iuțeala fulgerului în oraș. O revoltă și o însuflețire extraordinară cuprinseră pe locuitorii mândrului orășel. 'La pod, la pod, să nu lăsăm pe nemți să intre în oraș!', strigau toți din toate părțile. În cea mai mare grabă se organiza apărarea podului cu concursul unui comisar de poliție, care adunase și el câțiva sergenți de oraș și cu o companie de 150 milițieni. (...) Cu un entuziasm de nedescris, 'trupa' de apărare a Târgu Jiului lua poziția în spatele digului de pe malul râului, lângă grădina publică a orașului. Coloana de bavarezi încercă să intre pe pod, dar fu primită cu salve de focuri. Încercările repetate ale dușmanului nu reușiră; voinicii apărători îl țineau în respect pe celălalt mal. (...) Femei curajoase îngrijeau pe răniți chiar lângă linia de luptă și cărau muniții luptătorilor. Printre ele se distingea prin curajul și înflăcărarea ei o tânără, Ecaterina Teodoroiu, care mai târziu va câștiga, prin moartea ei eroică, dreptul de a rămâne în istorie cu numele de 'eroina de la Jiu'."

Într-o zi de duminică, prin noiembrie, Ecaterina a fost rănită ușor. Acest lucru a îndârjit-o și mai mult, devenind tot mai activă pe frontul ce parcurgea traseul Târgu-Jiu, Dănești, Florești, Rășina, Peșteana, Tunși. A fost luată prizonieră și dusă la Cărbunești de unde a scăpat, împușcând santinela de pază. A revenit pe câmpul de luptă și la Bărbătești a fost rănită ușor la picior. În luptele din 6 noiembrie 1916 din apropiere de Filiași, un obuz i-a fracturat tibia și coapsa stângă, urmând o perioadă în care a trecut prin mai multe spitale - la Craiova, București și la Spitalul "Regele Ferdinand" din Iași. Cu prilejul vizitei reginei Maria la spital, aceasta a recompensat-o cu 400 lei lunar, acordându-i totodată gradul de sublocotenent onorific, pentru a-i conferi autoritate în fața trupei.

În "Memoriu asupra activității eroinei Ecaterina Teodoroiu în partea a doua a campaniei cu Regimentul 43/58 Infanterie", colonelul Constantin Pomponiu, fost comandant al acestui regiment își amintește: "Lunar se ducea la Palatul Regal unde se prezenta M.S. Regina și de unde i se dădea suma de lei 400; acești bani nu-i cheltuia pentru ea, decât foarte puțin, fiind și foarte sobră, ajuta soldații, ridicându-le traiul cu ce se putea cumpăra în acele timpuri; regimentul având grijă pentru mâncarea și îmbrăcămintea ei, echipată cu aceeași uniformă ca și ofițerii. Deși avea un fizic nu tocmai forte la vedere, însă a fost totdeauna sănătoasă, chiar călărea foarte bine. La toate marșurile inerente intrării Regimentului pe front a mers tot timpul pe jos în fruntea plutonului său pe care-l antrena prin exemplul și însuflețirea sa patriotică, cu toate că purta carabina, cartușele necesare 160, precum și grenade, totdeauna am văzut-o neobosită și cu moralul ridicat."

În memoriile încredințate ziaristului N. Rădulescu-Marador și reproduse în "Observatorul militar" (nr. 6, 10-16 februarie 2010) sub titlul "Înger al răzbunării și cronicar de front", Ecaterina scria: "Rămasă singură pe lume, am jurat să mă răzbun și m-am rugat să fiu înrolată chiar în compania fratelui meu. Plec pe front, de data aceasta ca soldat, și în ziua de 10 octombrie 1916 primesc botezul de sânge, dar avântul răzbunării m-a făcut să pierd prevederea și sunt luată prizonier. Escortată de un soldat german care mi-a luat arma am fost trimisă... unde?, nu știu. În cale mi-aduc aminte că am încă revolverul; două gloanțe în capul santinelei mi-au redat libertatea. Îmi iau arma și fug pe poteci dosnice înspre ai noștri. Sunt văzută însă la un luminiș și-o ploaie de gloanțe răpăie în urma mea, rănindu-mă la piciorul drept. Nu simt nimic; libertatea îmi dă aripi. Fug înainte și la două noaptea sunt între ai mei, cărora le descriu poziția inamică. Vor să mă bage în spital, dar nu primesc și plec în luptă cu un bandaj sumar. Iau parte la un atac de baionetă și cu toată greutatea armei avântul îmi dă putere să ucid trei inamici. Sunt mulțumită! La Bărbătești, o bombă de 305 îmi fracturează tibia și coapsa stângă, așa că în timpul retragerii am fost tot în spital. Acuma sunt bine, sunt sublocotenent și plec din nou să caut glonțul pe care va scrie glorie sau... moarte pentru țară."

Pentru faptele sale de arme, Comandamentul Marii Legiuni a Cercetașilor i-a decernat Ecaterinei Medalia "Virtutea Cercetășească" de aur, iar prin Înaltul Decret nr. 191 din 10 martie 1917, publicat în Monitorul Oficial nr. 292 din 16 martie 1917, la propunerea ministrului secretar de stat la Departamentul de Război nr. 12678 din 10 noiembrie 1916, "domnișoara Teodoroiu Ecaterina din Legiunea de Cercetașe 'Domnul Tudor' a fost distinsă cu Medalia 'Virtutea Militară' de război clasa a II-a pentru vitejia și devotamentul ce a arătat pe câmpul de luptă, s-a distins în toate luptele ce Regimentul 18 Infanterie a dat cu începere de la 16 octombrie 1916, dând probe de vădită vitejie, mai ales în luptele ce s-au dat la 6 noiembrie 1916, în apropiere de Filiași. A fost rănită de un obuz la ambele picioare".

În spitalul de la Iași, eroina s-a refăcut spre mijlocul lunii ianuarie 1917, după care și-a reluat locul pe front, continuând să lupte cu vitejie împotriva inamicului. Ofensiva din Moldova a fost pregătită cu mult tact și pricepere, dar au urmat zile de front foarte grele pentru ostașii români. Încurajați de exemplul Ecaterinei mereu în fruntea plutonului său, soldații români rezistau atacului crunt al inamicului.

La 4 august 1917, Ecaterina a plecat împreună cu camarazii săi pe front, îmbrăcată în uniforma de sublocotenent și echipată cu armă, raniță, cartușieră, grenade și sacul de pesmeți. În pofida drumului anevoios, a mărșăluit alături de soldați, iar în 20 august regimentul și-a ocupat pozițiile în tranșeele de pe Dealul Secului.

Miercuri, 22 august, la ora 21,15, unitățile române au fost atacate și surprinse descoperite de unități din Regimentul 40 Rezervă german. Pe timpul retragerii, sublocotenenta Ecaterina Teodoroiu a fost lovită de două gloanțe de mitralieră pe Dealul Secului-Muncel și a căzut la datorie.

În Darea de seamă asupra operațiunilor executate pe zile, conform Jurnalului de operații din perioada 1 ianuarie-15 septembrie 1917, generalul Ernest Broșteanu, comandantul Diviziei a XI-a, consemna: "Brigada 21 Infanterie. În cursul zilei de 22 august a.c., până la ora 21.30, pe tot frontul a fost acalmie completă, întreruptă foarte rar de slabe focuri de artilerie. În acest timp s-a încercat a se face mai multe recunoașteri. La Regimentul 42/66 aceste recunoașteri n-au reușit a înainta din cauză că inamicul, avantajat de situația dominantă ce are, a tras asupra acelor patrule; asemenea și la Regimentul 43/59 patrulele au fost oprite de focurile de mitraliere. La ora 21, inamicul a început un atac prin surprindere, cu patrule mari care s-au apropiat de tranșeele Regimentului 42/66 și 43/49. Inamicul s-a servit pentru atacul său mai ales de grenade de mână și mitraliere, în timp ce bombardiere de tranșee au tras asupra regiunii rezervelor noastre. Atacul a fost pe deplin respins la ora 21.30, producând pierderi inamicului prin focuri de mitraliere, grenade de mână și baraj de artilerie. În această luptă am pierdut pe eroina noastră, voluntara Ecaterina Teodoroiu, care a căzut vitejește în capul plutonului ei, îmbărbătându-și soldații."

La 23 august, Ecaterina a fost citată prin Ordinul de Zi nr. 1 al Regimentului Lupeni, comandat de colonelul Constantin Pomponiu: "În timpul ciocnirii de ieri, noaptea, pe Dealul Secului, a căzut în fruntea plutonului său lovită în inima ei generoasă de două gloanțe de mitralieră voluntara Ecaterina Teodoroiu din Compania a 7-a. Pildă rară a unui cald entuziasm, unit cu cea mai stăruitoare energie, aceea pe care unii au numit-o cu drept cuvânt 'Eroina de la Jiu' și-a dat jertfa supremă, lipsită de orice trufie, de orice deșartă ambiție, numai din dragostea de a apăra pământul țării acesteia cotropită de dușmani. Ecaterina Teodoroiu a fost la înălțimea celor mai viteji apărători ai țării sale și i-a întrecut prin puterea cu care, înfrângând slăbiciunea femeiască, a știut să dovedească vigoarea bărbăției de trup și de suflet și calitățile întregi ale unui ostaș îndrăzneț, neobosit și plin de entuziasmul de a se face folositoare cu orice preț. Aceea care a luptat ca un viteaz din alte vremuri la Târgu Jiu, aceea care și-a desfășurat energia-i rară împotriva morții albe care a secerat pe camarazii ei bolnavi de tifos exantematic pornește din nou în luptă cu un avânt renăscut, cu nădejdea că va contribui și ea la opera cea mare a revanșei, la a cărei pregătire a luat parte foarte activă, conducând instrucția. A căzut înainte de a ajunge la țelul acestei revanșe. și-a dat viața cu simplitatea eroismului adevărat, nu pentru a obține apoteoze de vorbe, ci pentru că așa cerea inima ei, pentru că așa credea sufletul ei că se împlinește datoria vieții. Aceea care în vitejia ei comunicativă a murit în clipa când se descoperea spre a-și îndemna ostașii cu vorbele: 'Înainte, băieți, nu vă lăsați, sunteți cu mine!', are drept, din clipa aceea, la cinstirea veșnică a unui nume neuitat de camarazi."

A fost înmormântată cu paradă militară pe 23 august 1917, în valea Zăbrăuciorului, alături de căpitanul Dumitru Morjan, gorjean căzut la datorie cu o zi înainte, în fruntea Companiei a 6-a. La căpătâi i-a fost ridicată o mare cruce de stejar, de către comandantul Diviziei a XI-a.

"Astfel a pierdut Regimentul 43/59 Infanterie aceasta fecioară inimoasă, vitează, demnă de moșii și strămoșii ei și ca o pildă atât pentru Regimentul cu care a luptat și și-a dat viața pentru apărarea și mărirea Patriei, cât și pentru toți românii și, în special, pentru femeile române, fiind unicul exemplu în istoria Patriei, ca o fecioară tânără să aibă atât de mare însuflețire să-și jertfească viața pentru pământul strămoșesc", conchidea, la 10 mai 1920, în Memoriul său, colonelul Pomponiu.

La patru ani de la moartea Ecaterinei, în 4 iunie 1921, osemintele acesteia au fost deshumate și transportate la Târgu Jiu, unde, pe 9 iunie, au fost depuse în cavoul din fața Primăriei. În 8 iunie, Capitala țării a dat onoruri militare osemintelor eroinei sublocotenent Ecaterina Teodoroiu, care străbătuseră traseul Focșani-București-Râmnicu Sărat-Buzău-Ploiești. În gările acestor orașe, vagonul național rezervat eroinei a fost întâmpinat cu pietate și recunoștință. În Gara de Nord, vagonul acoperit de flori și îmbrăcat în verdeață și în tricolor a fost primit de oficialitățile Capitalei, de numeroși bucureșteni. Cortegiul care urma să o însoțească pe eroină la Târgu-Jiu, format din două tunuri capturate de gorjeni la Jiu și Mărăști, a parcurs străzile Capitalei în uralele mulțimii.

Cu această ocazie, Ministerul de Război a dispus ca Regimentul 43/59 Infanterie să primească numele eroinei Ecaterina Teodoroiu. În perioada 1959-1961, numele tinerei combatante din Primul Război Mondial a fost purtat de Regimentul 18 Mecanizat din Caransebeș.

"Această tânără eroină de la Jiu a fost exemplu de curaj și patriotism pentru toate generațiile ce vor veni (...) A dat dovadă de mult curaj, abnegație până la deznădejde și iubire familiară, în plus convingerea îndeplinirii îndatoririlor conștiincioase a Legii Cercetașilor, meritând toată admirația această Jeana d'Arc a noastră", spune maiorul Constantin Bucimeanu în biografia pe care a alcătuit-o Ecaterinei Teodoroiu, înaintată Serviciului Istoric din Marele Stat Major.


Fonte:
http://www.agerpres.ro/2014/01/16/documentar-ecaterina-teodoroiu-eroina-de-la-jiu

Mais:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ecaterina_Teodoroiu
http://www.youtube.com/watch?v=ZRQbSX3qqFU

domingo, 17 de dezembro de 2017

Jerusalém

Trechos de Jerusalém: A Biografia (2011), de Simon Sebag Montefiore.


Em 28 de junho de 1914, terroristas sérvios assassinaram o herdeiro austríaco, arquiduque Francisco Ferdinando, e então as Grandes Potências, mesmo titubeando, fizeram eclodir a Primeira Guerra Mundial. Enver Paxá estava ávido por lutar, forçando uma aliança com a Alemanha para prover o necessário respaldo militar e financeiro. O Kaiser Guilherme, lembrando-se de sua viagem para o Oriente, apoiou a aliança otomana. Enver se nomeou vice-generalíssimo sob o sultão fantoche, e entrou na guerra bombardeando portos russos a partir de seus recém-fornecidos navios de guerra germânicos.

Em 11 de novembro, o sultão Mehmet V Rashid declarou guerra à Grã-Bretanha, França e Rússia - e em Jerusalém foi proclamado um jihad na mesquita de al-Aqsa. No início houve algum entusiasmo pela guerra. Quando chegou o comandante das tropas otomanas na Palestina, o general bávaro barão Friedrich Kress von Kressenstein, os judeus de Jerusalém deram boas-vindas às suas unidades com um arco triunfal. Os alemães assumiram a proteção dos judeus contra os britânicos. Enquanto isso, Jerusalém aguardava a chegada de seu novo senhor.

Em 18 de novembro, Wasif Jawhariyyeh, o tocador de oud, ainda com apenas dezessete anos, assistiu a Ahmet Kemal, ministro da Marinha e um dos Três Paxás, adentrar Jerusalém como ditador efetivo da Síria Maior e comandante supremo do Quarto Exército Otomano. Kemal estabeleceu seu quartel-general no Augusta Victoria, no monte das Oliveiras. Em 20 de dezembro, um xeque idoso chegou ao portão de Damasco numa pomposa carruagem trazendo de Meca o estandarte verde do Profeta. Sua entrada na cidade causou "indescritível comoção" quando "uma ordeira e pitoresca formação de soldados seguiu a bandeira através da Cidade Velha, enquanto aspergiam água de rosas. Toda a população de Jerusalém seguiu o cortejo "cantando Allahu Akhbar na mais bela parada já vista", escreveu Wasif Jawhariyyeh. Do lado de fora do Domo, Kemal declarou o jihad. "O júbilo se apoderou da população inteira", concordou Kress von Kressenstein - até que o ancião xeque de Meca morreu subitamente pouco antes do Natal, um augúrio constrangedor para o jihad otomano.

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Quando Kemal reuniu suas forças - comandadas principalmente por oficiais alemães - para a ofensiva contra o Egito britânico, descobriu que a Síria estava fervilhando de intrigas, e que Jerusalém era "um ninho de espiões". A política do paxá era simples: "Para a Palestina, deportação; para a Síria, aterrorização; para o Hejaz, o exército." Em Jerusalém, sua abordagem foi enfileirar "patriarcas, príncipes e xeques, e enforcar notáveis e delegados". Enquanto sua polícia secreta perseguia traidores, ele deportava qualquer pessoa suspeita de agitação nacionalista. Apoderou-se de sítios cristãos, tais como a igreja de Santa Ana, e começou a expulsar os hierarcas cristãos, enquanto se preparava para atacar o Egito.

A caminho do front, o paxá desfilou seus 20 mil homens através de Jerusalém. "Vamos nos encontrar do outro lado do canal [de Suez] ou no céu!", vangloriou-se; mas o conde de Ballobar notou um soldado otomano empurrando suas rações de água para dentro de um carrinho de criança, o que certamente não era a marca de uma temível máquina de guerra. Kemal, por outro lado, viajava com "magníficas tendas, porta-chapéus, cômodas". Em 1º de fevereiro de 1915, comovido ao ouvir seus homens cantando "A bandeira vermelha tremula sobre o Cairo", Kemal atacou o canal de Suez com 12 mil homens; eles foram facilmente repelidos. O paxá alegou que o ataque tinha sido apenas um reconhecimento de forças, mas fracassou novamente no verão. Derrota militar, bloqueio ocidental e a crescente repressão de Kemal provocaram um sofrimento desesperado e um feroz hedonismo em Jerusalém. Não demorou muito para que começassem as matanças. [...]

Em agosto de 1915, após descobrir evidências de conspirações nacionalistas árabes, Kemal escreveu: "Eu decidi tomar medidas implacáveis contra os traidores." Enforcou quinze árabes proeminentes perto de Beirute (inclusive um Nashashibi de Jerusalém), e depois, em maio de 1916, outros 21 em Damasco e Beirute, ganhando a alcunha de Carniceiro. Fez piada com o espanhol Ballobar, dizendo que poderia enforcá-lo igualmente.

Kemal também suspeitava de traição dos sionistas. Todavia, [David] Ben-Gurion, com um fez na cabeça, recrutava soldados judeus para os otomanos. [...] Mais tarde, porém, Kemal deportou quinhentos judeus estrangeiros, prendeu líderes sionistas e baniu seus símbolos.

Ben-Gurion foi deportado, mudando suas esperanças para o lado dos Aliados. Os árabes acabaram recrutados para o exército; judeus e cristãos foram mandados à força para batalhões de trabalho na construção de estradas, muitos deles perecendo de fome e insolação. Depois vieram enfermidades, insetos e carestia. "Os gafanhotos eram espessos como nuvens", lembrava-se Wasif, zombando das tentativas de Kemal para eliminar a praga: ele ordenou "a cada pessoa com mais de doze anos trazer três quilos de ovos de gafanhotos", o que provocou apenas um absurdo comércio deste item.

Wasif viu "a fome se espalhar por todo o país", junto com "o tifo e a malária; e muita gente morreu". Em 1918, devido a epidemias, fome e deportações, a população judaica de Jerusalém havia caído em 20 mil habitantes. Todavia, a voz de Wasif, seu oud e sua habilidade de arregimentar convidadas bonitas para festas selvagens nunca foram tão valorizados.

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Kemal, seus oficiais e os figurões das famílias desfrutavam de uma vida de prazer febril enquanto Jerusalém simplesmente lutava para sobreviver às calamidades da guerra. A miséria era tal que jovens prostitutas, muitas delas viúvas de guerra cobrando apenas duas piastras por programa, percorriam a Cidade Velha.

Cada noite de Wasif era uma aventura: "Eu só ia para casa para trocar de roupa, dormindo cada noite num lugar diferente, meu corpo totalmente exausto de beber e farrear. Pela manhã, piqueniques com as famílias notáveis de Jerusalém, depois uma orgia com rufiões e bandidos nos becos da Cidade Velha." Certa noite, Wasif Jawhariyyeh viu-se num comboio de quatro limusines contendo o governador, sua amante judia de Salônica, vários beis otomanos e figurões das famílias, incluindo o prefeito Hussein Husseini, sendo levado para Artas, perto de Belém, para um "piquenique internacional" no mosteiro latino: "Foi um dia delicioso para todos durante o difícil período em que a fome e a guerra faziam as pessoas sofrer. Ninguém fez cerimônia, todos tomaram vinho e as damas estavam tão lindas naquela noite; não havia hora de comer e todas cantaram como um coro em uníssono."

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Mesmo com Jerusalém sendo deteriorada, os jantares do conde de Ballobar para Kemal continuaram sendo banquetes: o menu para uma ceia em 6 de julho de 1916 incluía sopa turca, peixe, filé, tortas de carne e peru recheado, seguidos de sorvete, abacaxi e frutas. [...] Em seus banquetes, Kemal provocava jovialmente Ballobar e o cônsul grego, dizendo "que os enforcaria no Santo Sepulcro" se a Espanha ou a Grécia entrasse na guerra.

Enquanto Kemal cuidava de sua evanescente Jerusalém, seu colega, o vice-generalíssimo Enver, perdia 80 mil homens em sua inepta ofensiva contra a Rússia. Ele e Talaat lançaram a culpa do desastre nos armênios cristãos, que foram sistematicamente deportados e mortos. Um milhão de pessoas pereceu num crime bárbaro.

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Lawrence conhecia o segredo do retalhamento do Oriente Médio elaborado por Sykes e Picot, que o envergonhava: "Estamos chamando-os para lutar por nós com base numa mentira, e eu não posso suportar isso."

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Em Jerusalém, a polícia de Kemal caçava outro espião judeu - Alter Levine, um poeta, empresário e organizador nascido na Rússia -, que, segundo alegavam, havia montado uma cadeia de bordéis e ninhos de espionagem.

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Em junho de 1917, um cabisbaixo Kemal encontrou-se com Falkenhayn na estação de Jerusalém e posaram embaraçosamente juntos nas escadarias do Domo da Rocha. Falkenhayn estabeleceu seu quartel-general na Augusta Victoria. Os cafés da cidade encheram-se de soldados alemães do Asienkorps e seus oficiais tomaram posse do Fast Hotel. "Estávamos na Terra Santa", escreveu um típico jovem soldado germânico na cidade, Rudolf Höss. "Os velhos nomes familiares da história religiosa e as histórias dos santos estavam ao nosso redor. E quão diferentes dos meus sonhos de juventude!" As tropas austríacas marchavam pela cidade; soldados austríacos judeus rezavam no Muro Ocidental. Kemal Paxá deixou a cidade e governou suas províncias a partir de Damasco. O Kaiser finalmente controlava Jerusalém - mas já era tarde demais.

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Em Jerusalém, aviões britânicos bombardearam o monte das Oliveiras. O ajudante de ordens de Falkenhayn, coronel Franz von Papen, organizou as defesas e planejou o contra-ataque. Os alemães subestimaram [Edmund] Allenby e foram tomados de surpresa quando, em 31 de outubro de 1917, ele desfechou sua ofensiva para capturar Jerusalém.

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Enquanto Allenby atacava em massa com seus 75 mil homens de infantaria, 17 mil de cavalaria e um punhado de tanques novos, Arthur Balfour, secretário do Exterior britânico, negociava uma nova política com um cientista nascido na Rússia chamado dr. Chaim Weizmann.

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O sionismo era uma ideia germano-austríaca, e até 1914 os sionistas estavam baseados em Berlim. Quando Kemal Paxá, o tirano de Jerusalém, visitou Berlim em agosto de 1917, reuniu-se com sionistas alemães, e o grão-vizir otomano, Talaat Paxá, concordou relutantemente em promover "um lar nacional judaico". Nesse meio-tempo, nas fronteiras da Palestina, o general Allenby preparava em segredo sua ofensiva.

Estas, e não o charme de Weizmann, foram as verdadeiras razões que levaram a Grã-Bretanha a abraçar o sionismo.

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Mark Sykes: "com a Grande Judiaria contra nós, não há possibilidade de fazer a coisa passar" - sendo "a coisa" a vitória na guerra.

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Em 9 de novembro, Balfour emitiu sua Declaração, endereçada ao lorde Rothschild. [...]

A Declaração destinava-se a desvincular os judeus russos do bolchevismo, mas na mesma noite em que foi publicada, Lênin tomou o poder em São Petersburgo. Houvesse Lênin avançado alguns dias antes, a Declaração Balfour talvez nunca tivesse sido emitida.

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Quando Allenby irrompeu Palestina adentro, Lloyd George exigiu extravagantemente a captura de Jerusalém "como presente de Natal para a nação britânica".

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Allenby tomou Gaza em 7 de novembro de 1917; Jaffa caiu no dia 16. Houve cenas desesperadas em Jerusalém. Kemal, o Carniceiro, governando suas províncias a partir de Damasco, ameaçou um Götterdämmerung em Jerusalém. Primeiro ordenou a deportação de todos os padres cristãos, e então os edifícios cristãos, inclusive o mosteiro de São Salvador, foram dinamitados. Os patriarcas foram mandados para Damasco, mas o coronel Von Papen, católico, resgatou o patriarca latino e o manteve em Nazaré.

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Aviões britânicos bombardearam o quartel-general germânico na Augusta Victoria e o chefe da inteligência de Allenby lançou cigarros de ópio para as tropas otomanas, na esperança de que ficassem drogadas demais para defender Jerusalém. Refugiados extravasavam para fora da cidade. Removendo o retrato do Kaiser na capela da Augusta Victoria, Falkenhayn finalmente deixou ele próprio a cidade e mudou seu quartel-general para Nablus. Aviões britânicos e alemães travaram rápidos combates aéreos sobre Jerusalém. Obuses bombardearam posições inimigas; os otomanos contra-atacaram três vezes em Nabi Samuel; combates furiosos duraram quatro dias. "A guerra estava no auge", escreveu o professor [Khalil al-]Sakakini, "bombas caindo por toda parte, pandemônio total, soldados correndo de um lado a outro, e o medo tomando conta de tudo." Em 4 de dezembro, aviões britânicos bombardearam o quartel-general otomano no Complexo Russo. Os turcos começaram a desertar. Carroças carregadas de soldados feridos e corpos mutilados troavam pelas ruas.

Na noite de 7 de dezembro, as primeiras tropas britânicas avistaram Jerusalém. Um nevoeiro denso pairava sobre a cidade; a chuva escurecia os morros. Na manhã seguinte, o governador Izzat Bei arrebentou seu telégrafo com um martelo, estendeu sua carta de rendição ao prefeito, "tomou emprestada" uma carroça com dois cavalos da Colônia Americana, que ele jurou devolver, e fugiu galopando rumo a Jericó. Durante toda a noite, milhares de tropas otomanas se arrastaram através da cidade para fora da história. Às três horas da manhã do dia 9, as forças germânicas se retiraram da cidade num dia que o conde de Ballobar chamaria de "um dia de impressionante beleza". O último turco passou pelo portão de Santo Estêvão às sete horas da manhã. Por coincidência, era o primeiro dia da festa judaica de Chanuká, o festival das luzes que celebra a libertação de Jerusalém pelos macabeus. Saqueadores assaltaram as lojas na estrada de Jaffa. Às 8h45, soldados britânicos se aproximaram do portão de Sião.

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Em Londres, o primeiro-ministro ficou eufórico: "A captura de Jerusalém causou profunda impressão em todo o mundo civilizado", ele anunciou numa bravata alguns dias depois. "A cidade mais famosa do mundo, após séculos de conflito e contenda vã, caiu nas mãos no exército britânico, para nunca mais ser restituída àqueles que tiveram tanto êxito em mantê-la longe das combativas hostes da cristandade."

O Ministério do Exterior telegrafou a Allenby para evitar qualquer grandiosidade ou pretensão ao estilo do Kaiser quando ele adentrasse a cidade: SUGERE-SE VEEMENTEMENTE DESMONTAR! O general entrou pelo portão caminhando, acompanhado de legados americanos, franceses e italianos e observado por todos os patriarcas, muftis e cônsules, para ser saudado pelo prefeito de Jerusalém, que pela sétima vez rendia a cidade.

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Allenby subiu as escadas da plataforma para ler sua proclamação sobre "Jerusalém, a Bendita", que foi então repetida em francês, árabe, hebraico, grego, russo e italiano - tendo o cuidado de não mencionar a palavra que todo mundo tinha em mente: Cruzada. O prefeito Husseini finalmente entregou as chaves da cidade.


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domingo, 10 de dezembro de 2017

Mata Hari

AVENTURAS NA HISTÓRIA
1 de junho de 2008

Mata Hari - seu pecado: amar demais

Mata Hari entrou para a história como uma superespiã condenada à morte. Nada disso: a holandesa foi mesmo bode expiatório e liberal demais para sua época.

(Fernando Eichenberg)

Margaretha Geertruida Zelle McLeod vestiu-se com elegância para sua morte, naquela manhã de outono de 15 de outubro de 1917. Saia longa, corselete de renda, chapéu de feltro, botinas, casaco e luvas até os cotovelos. O terror de momentos atrás, quando soube que sua pena capital seria executada na penitenciária francesa de Saint-Lazare, transformara-se em calma.

Frente aos 12 soldados do pelotão de execução que apontavam seus fuzis para ela, ouviu a sentença em que era "condenada à morte por unanimidade por espionagem". Enviou um beijo aos carrascos e sorriu para as freiras que a acompanhavam. Às 6h12, a ordem de execução foi dada por um brusco movimento descendente de sabre. Um dos soldados desmaiou. Onze tiros ecoaram, certeiros. O marechal Petey caminhou até o corpo estendido e disparou na têmpora o tiro de misericórdia.

Em seus 41 anos, Margaretha foi falsa bailarina oriental e espiã fracassada. Colecionou amantes e mentiras e acabou vítima de seu próprio personagem e do espírito de sua época. Julgada em um processo repleto de falhas, a vedete foi ingênua a ponto de ser transformada, contra sua vontade, em perigosa inimiga da segurança nacional. Durante seu julgamento, o procurador Henri Mornet declarou para um júri já adepto de sua causa: "Vocês têm diante de si talvez a maior espiã do século." Margaretha já havia se defendido: "Uma cortesã, eu admito. Uma espiã, jamais!". Mas era tarde: a lenda de Mata Hari já estava há muito criada.

Margaretha nasceu em 7 de agosto de 1876, em Leeuwarden, cidade de 27 mil habitantes no norte da Holanda, filha do chapeleiro Adam Zelle e de Antje van der Meulen. De seu pai, herdara a personalidade pretensiosa e ambiciosa e a facilidade de esbanjar dinheiro. Da mãe, o aspecto exótico - ela era descendente de uma antiga tribo da Ásia que migrara para a Escócia e a Irlanda. A infância de sonhos ruiu com a falência dos negócios da família. A crise provocou a separação dos pais. Às vésperas de completar 15 anos, em 1891, a mãe morreu. O pai já vivia com outra mulher, em Amsterdã, e Margaretha foi acolhida por um casal de tios e enviada para estudar na cidade universitária de Leyden, para se tornar professora de escola maternal.

Com mais de 1,70 metro de altura, ombros largos e seios pequenos, a jovem Margaretha não era exatamente bonita. Mas os cabelos negros, o olhar e os lábios sensuais e a pele escura faziam-na sexy. Aos 19 anos incompletos, casou-se com o capitão Rudolph McLeod, 39.

Em maio de 1897, já com seu primeiro filho, Norman, a família mudou-se para a Indonésia, para onde a empresa em que o capitão trabalhava, a Companhia das Índias Orientais, o transferira. Em Toempoeng, perto de Bali, nasceu Juana-Luisa, apelidada de Non, abreviação de nonah ("menina" no idioma malaio). Na Ásia, por diversão, Margaretha começou a vestir trajes malaios e a imitar danças locais para oficiais, o que era malvisto pelas esposas dos funcionários holandeses. O casamento não ia bem: ela e o marido discutiam muito e, quando bebia, ele costumava ser violento.

Em Medan, uma tragédia. A babá, amante do capitão, tentou matar seus dois filhos, colocando veneno no molho do arroz. Non sobreviveu, mas Norman não. O casamento se degradava a cada dia e, em março de 1902, a família voltou para a Europa. O casal se separou em agosto do mesmo ano. Contra a decisão judicial, o capitão John se recusou a pagar pensão alimentar e sequestrou Non da mãe, que tinha sua guarda. Abalada, Margaretha partiu para Paris em 1903, aos 27 anos.

Instalada em uma modesta pensão familiar, saiu em busca de trabalho como modelo para artistas. Só arrumou serviço para posar nua. Não conseguiu o dinheiro que achou que obteria e voltou para a Holanda, onde conheceu e tornou-se amante de um ricaço, o barão Henri de Marguerie. Em 1904, resolveu tentar de novo a vida em Paris. Com apenas 50 centavos na bolsa, Margaretha desembarcou no Grand Hôtel, com vista para a Opera, e enviou uma mensagem para o barão, que se encarregou de pagar suas diárias e também novos vestidos.

HÁBITO DE FANTASIAR

Com o orientalismo em moda na Europa, Margaretha decidiu dançar para ganhar a vida. Sua primeira performance de strip-tease, na casa de uma cantora, já foi um sucesso. Fascinados pelo espetáculo, os diretores do Museu Guimet colocaram o cenário do prestigioso local à disposição de Margaretha e insistiram para que ela adotasse um nome artístico, como era comum na época. Ela optou pelo mesmo nome que usara quando dançava para oficiais na Indonésia: Mata Hari, expressão malaia que significa "olho da manhã", mas pode também ser traduzida por "luz do dia".

Sua primeira apresentação no Museu Guimet, em 13 de março de 1905, marca a virada de sua carreira artística. Com quatro bailarinas, Mata Hari dançava em trajes emprestados da coleção do museu: um cinto indiano de pedras preciosas enlaçava seu translúcido sári. Para disfarçar seus seios pequenos, criou um sutiã metálico e adornado de bijuterias, que não tirava jamais. Contorcia-se em cena e despia-se de seus xales até o momento em que, de costas para a audiência, deixava o sári cair.

Bastante solicitada nos salões da elite parisiense, em pouco tempo Mata Hari passou a dançar para um público composto de príncipes, como Albert I de Mônaco, e membros da aristocracia. Conquistou também o povo ao apresentar-se no Olympia, primeira casa de shows de música de Paris. Mesmo com seu limitado talento, virou celebridade. E, enquanto seguia sua carreira pelos palcos da Europa, acumulava amantes ricos em seu leito. De 1910 a 1911, desapareceu de cena para viver como amante permanente do banqueiro francês Félix Rousseau. Após a clausura, tentou reemplacar a carreira de dançarina, mas não teve sucesso. Sem dinheiro, partiu para Berlim atrás de um ex-amante, o proprietário de terras Albert Kiepert. No país, em maio de 1914 conseguiu agendar uma temporada de duas semanas no music-hall Metropol. A deflagração da Primeira Guerra Mundial, porém, abortou o projeto.

Em 28 de julho de 1914, um mês após o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, o Império Áustro-Húngaro invadiu a Sérvia. O conflito generalizou-se rapidamente: de um lado a Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Áustria-Hungria), de outro, a Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia). Mata Hari queria voltar para Paris e, em 6 de agosto, embarcou no trem para a Suíça. Na fronteira, fizeram-na descer para interrogatório. O trem partiu sem ela, mas com suas bagagens. As autoridades alemãs exigiam um documento oficial atestando sua nacionalidade holandesa (poucas pessoas na época possuíam um passaporte) e um visto suíço. Acabou voltando para a Holanda.

Em 1916, tentou novamente ir para Paris, dessa vez por Londres. O cônsul britânico recusou-lhe um salvo-conduto. Equivocadamente, os ingleses já suspeitavam que a bailarina era espiã. O serviço de contraespionagem italiano enviara para Paris, com cópia para Londres, uma mensagem dizendo que Mata Hari, então residente em Berlim e que falava com um "leve sotaque alemão" estava em um navio com destino ao Egito, que faria escala em Nápoles. A confusão deve-se, no fundo, ao hábito de Mata Hari de inventar histórias sobre a própria vida. Nove anos antes, fizera um cruzeiro pelo Egito e dera uma entrevista ao jornal Le Temps, dizendo que, no momento, era "berlinense". O jornal afirmara que o alemão falado por Mata Hari tinha quase nenhum sotaque.

Foi nessa "prova" amadora e inconsistente - sem uma única linha sobre espionagem - que os ingleses sustentaram sua desconfiança. Depois desse episódio, ela passou a ser seguida por pessoas do serviço secreto inglês, que procuravam indícios para culpá-la de espionagem a serviço da Alemanha. Já em Paris, quando chegou em 16 de junho de 1916, foi seguida por policiais franceses, alertados pelos ingleses, até 15 de janeiro de 1917. Nada de realmente suspeito pôde ser notado.

Mata Hari continuou entretendo-se com seus amantes até encontrar o grande e talvez único amor de sua vida, o oficial russo de 21 anos Vladimir de Masloff, o Vadim. A paixão deflagrou as circunstâncias que terminaram por levá-la à morte.

ESPIÃ POR ACASO

Naquele mesmo ano, ferido no olho esquerdo, Vadim foi transferido para tratamento no hospital militar de Vittel, a 300 quilômetros de Paris. Para visitar o amado, Mata Hari precisava de uma autorização especial de acesso à zona militar. Pediu-a ao capitão Georges Ladoux, encarregado da organização da contraespionagem. O oficial francês, já informado de que Mata Hari era suspeita de ser espiã alemã, disse à suposta inimiga que daria autorização para ir a Vittel caso ela trabalhasse como espiã para a França. Ela aceitou e foi clara: só o estava fazendo pelo dinheiro.

Mata Hari partiu como uma espiã amadora, sem qualquer missão específica, para a Espanha. Hospedada no Hotel Ritz em Madri e decidida a mostrar serviço, aproximou-se do capitão Hauptmann Kalle, adido militar da embaixada alemã. Mata Hari foi manipulada pelo oficial desde o primeiro encontro. Em conversas informais, Kalle lhe passou informações aparentemente importantes, mas na verdade falsas ou obsoletas. Por sua vez, além dos serviços na cama, ela forneceu impressões banais do que se passava na França, todas acessíveis em jornais ou ouvidas nas ruas, para convencer seu amante de que seu coração batia pela Alemanha. Em dezembro, enquanto ela esperava voltar para a França e receber a recompensa por seu trabalho, o capitão Ladoux interceptou mensagens enviadas por Kalle a Berlim. Referindo-se ao agente "H 21", relatava as informações (superficiais) passadas por Mata Hari a ele.

Um detalhe indica que a correspondência entre Madri e Berlim fazia parte de uma estratégia dos alemães para incriminar Mata Hari como agente-duplo junto aos franceses. Em 1914, os ingleses já haviam conseguido decifrar o sistema codificado de mensagens alemão. Em 1916 os alemães perceberam isso e alteraram o código. O capitão Ladoux percebeu mais tarde - e escondeu do procurador e do júri que condenou Mata Hari - que as mensagens sobre o agente H 21 transmitidas por Kalle usavam o antigo código, aquele que os alemães sabiam que os franceses conheciam. Ou seja: eles faziam questão que seu conteúdo fosse lido pelas autoridades inimigas.

Em 4 de janeiro de 1917, Mata Hari voltou a Paris. O contexto na França era dos piores. A guerra se alastrava e o espírito de derrota imperava. O clima reinante era o de caça às bruxas e do uso de bodes expiatórios. O governo exigia a prisão do maior número possível de espiões estrangeiros para provar sua eficácia. Não prender Mata Hari seria reconhecer que o serviço de contraespionagem perdera tempo e dinheiro ao investigar uma mera cortesã aspirante a espiã. Em 13 de fevereiro, por ordem do juiz de instrução Pierre Bouchardon, Mata Hari foi presa em Saint-Lazare.

Os sucessivos interrogatórios não revelaram nenhuma prova conclusiva de crime de espionagem contra a França. Só no fim de abril Ladoux revelou sobre as mensagens alemãs interceptadas. Fez isso, porém, sem revelar as verdadeiras intenções alemãs - o que não deixou dúvidas ao capitão Bouchardon de que a prisioneira era culpada. Foi então que Mata decidiu contar o que até então acobertara. Em uma noite de maio de 1916, segundo ela, recebera a inesperada visita em sua casa na Holanda do cônsul da Alemanha em Amsterdã, Karl Kroemer. O diplomata ofereceu 20 mil francos por informações confidenciais que ela obtivesse dos franceses. Ela deveria escrever seus relatórios e assinar com o código "H 21". Mata Hari disse que concordara, mas só para pegar dinheiro dos alemães - e nunca teria dado informação alguma. O fato explicaria por que os alemães teriam usado o sistema de mensagens para "entregar" aos franceses a espiã que embolsou o dinheiro alemão sem ter feito espionagem para o kaiser. Mas, em seu julgamento, o júri composto de militares desconheceu ou ignorou as falhas e contradições do dossiê de acusação.

"Mata Hari foi vítima de um erro judiciário", diz o próprio bisneto de Pierre Bouchardon, o historiador Philippe Collas, em Mata Hari - Sa Véritable Histoire ("Mata Hari - Sua Verdadeira História", inédito em português). "Mata Hari é culpada porque era imoral." A frase definitiva de sua inocência veio, porém, de um de seus maiores carrascos. Cerca de 30 anos após tê-la proclamado "a maior espiã do século" diante dos jurados, o procurador Henri Mornet declarou em uma entrevista sobre o julgamento: "Il n'y avait pas de quoi fouetter un chat" ("não havia com o que fustigar um gato"), a versão francesa de "fazer tempestade em um copo d'água" - expressão, todos sabemos, usada para dizer que não havia nada de grave no episódio Mata Hari.


Fonte:
http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/mata-hari-seu-pecado-436037.shtml

Mais:
http://www.youtube.com/watch?v=-rZiDcIjlI0
http://encyclopedia.1914-1918-online.net/article/espionage
http://rha.revues.org/1963
http://en.wikipedia.org/wiki/World_War_I_cryptography

domingo, 3 de dezembro de 2017

Brasil

Trechos de História Das Guerras (2006), volume organizado por Demétrio Magnoli.


(Luiz de Alencar Araripe)

Em 1914, os Estados Unidos já eram a maior potência econômica mundial e maior parceiro comercial do Brasil, permanecendo os britânicos como grandes investidores em estradas de ferro, usinas elétricas e indústria manufatureira. O bloqueio britânico redundou na perda da Alemanha como parceiro comercial, e a campanha submarina alemã tornou perigosas as águas da Europa, onde aconteceram quase todos os torpedeamentos de navios brasileiros. Ainda mais a construção de estradas de ferro foi interrompida e a taxa cambial caiu. Como contrapartida, a substituição de importações deu lugar ao nascimento de uma indústria de manufaturados.

As elites brasileiras, como as de toda a América do Sul, buscavam na França a literatura e a formação artística. Da Europa vinham, também, a manteiga e a moda, ternos e camisas feitos em Londres, por intermédio de representantes no Brasil. Na Vila Militar, no Rio de Janeiro, até hoje se podem ver as estruturas de metal e as telhas de ardósia vindas da França. Em Paris, sul-americanos ricos encontravam tudo, principalmente alegrias que nenhuma outra cidade pode dar iguais.

O café respondia por mais de 60% de nossas exportações, seguido de longe por minerais e produtos diversos. A economia brasileira estava bem à retaguarda da argentina. A opinião pública nacional recebeu bem a neutralidade proclamada pelo governo e nos primeiros anos da guerra não mostrou inclinação em favor de qualquer dos contendores. O jornalista Sidney Garambone acompanha a evolução do humor dos jornais do Rio de Janeiro, durante a Grande Guerra: de um neutralismo desinteressado para o alinhamento com os Estados Unidos.

Em 3 de abril de 1917, um navio mercante americano é torpedeado e os Estados Unidos rompem relações diplomáticas com a Alemanha. Nesse mesmo dia, outro navio mercante, este brasileiro, é torpedeado no canal da Mancha. Uma semana depois, o presidente Wenceslau Braz rompeu relações com a Alemanha, em solidariedade aos Estados Unidos e com fundamento na Doutrina de Monroe. Mais navios brasileiros são torpedeados, e em outubro é a vez do Macau, afundado ao largo da costa francesa. A indignação dos jornais e da opinião publica cresce. A 26 de outubro de 1917, o Congresso brasileiro decreta e o presidente sanciona resolução proclamando a existência de um estado de guerra entre o Brasil e o Império Alemão.

Santos Dumont, o Pai da Aviação, vai ao Palácio do Catete, sede do governo, oferecer seus conhecimentos profissionais e serviços. Em 1918, mais dois navios brasileiros são torpedeados nas costas da Europa.

A participação brasileira na guerra, modesta que foi, estendeu-se além da facilitação do uso de nossos portos por embarcações aliadas e a cessão à França de 30 navios alemães apreendidos. A 7 de maio de 1918, zarpou para Gibraltar, onde se reuniria à esquadra britânica, para participar da guerra anti-submarina, a Divisão Naval de Operações de Guerra, composta de dois cruzadores e cinco contratorpedeiros, um navio auxiliar e um rebocador, sob o comando do contra-almirante Pedro Max Fernando de Frontin. A Divisão só chegou a Gibraltar em novembro de 1918, retida que foi na costa africana pela terrível pandemia que foi a gripe espanhola.

Aviadores brasileiros combateram ao lado dos pilotos britânicos e franceses.

Oficiais do Exército serviram na Frente Ocidental, em unidades do Exército Francês.

Um deles, o tenente José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, como general, foi o grande reformador da Escola Militar de Realengo, criador da mística do cadete de Caxias. Oitenta e seis médicos, incluindo dezessete professores de Medicina, quase todos civis, comissionados oficiais, integraram a Missão Médica que partiu do Brasil a 18 de agosto de 1918 e até o fim da guerra trabalhou no hospital Franco-Brasileiro, mantido pelos brasileiros residentes em Paris.

O Brasil participou da Conferência de Paz, foi signatário do Tratado de Versalhes, membro da Liga das Nações e pretendeu ocupar uma vaga em seu Conselho de Segurança, pretensão que lhe foi negada. Antes mesmo de terminar, a Grande Guerra influenciou o Brasil no campo militar. O poeta, escritor e jornalista Olavo Bilac despertou o sentimento cívico e patriótico nacional, liderando a campanha que resultou na instituição do serviço militar obrigatório.

No governo do marechal Hermes da Fonseca, oficiais brasileiros, à semelhança de oficiais de outros exércitos, como o argentino e o chileno, foram mandados estagiar no Exército Alemão. Quando se levantou a hipótese de uma missão militar de instrução, a opção pelos alemães estava sobre a mesa. A vitória na Grande Guerra foi decisiva para a contratação da Missão Francesa. "Antes" e "depois" da Missão, diz-se, evidenciando seu marcante papel na modernização do Exército.

Em tempo de guerra, o patriotismo virulento e a xenofobia prosperam; e, com eles, a síndrome do espião. Na Europa e nos Estados Unidos, inocentes foram presos e espancados, por mera suspeita de espionagem. No Brasil, cartazes com tipos caricaturados por Raul, o Caruso da época, difundidos pelo governo eram severos.

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Monteiro Lobato, de sua promotoria em Areias, em 1916, glosou a onda de paranóia que saltou da Europa para os Estados Unidos e respingou nessa longínqua parte das Américas. No seu delicioso conto O Espião Alemão, o personagem é identificado e detido pelos patrióticos moradores de Itaóca, uma Tarascon do vale do Paraíba. Uma escolta de bravos itaoquenses leva-o para o Rio de Janeiro, onde seria encontrado tradutor para a frase repetida pelo espião alemão:

"Ai éme inglix."

Frase denunciadora, não entendida pelo monsenhor Acácio, por se tratar de "alemão turíngio da baixa germanidade valona", como explicou o douto prelado. E o conto vai mais longe.


Mais:
http://historiacsd.blogspot.com.br/2012/05/por-rainer-sousa-participacao-do-brasil.html
Rui Barbosa
Olavo Bilac
http://oglobo.globo.com/historia/filhos-de-princesa-isabel-na-primeira-guerra-mundial-13308833
http://docs.google.com/file/d/1_lBiK3q0g8ft-amQp88IqJlmTI0zdKEG
http://en.wikipedia.org/wiki/Symphony_No._3_(Villa-Lobos)
http://www.youtube.com/playlist?list=PLrWPsj6fVbeUUvazDpma14NAEyQtKU69b