terça-feira, 29 de abril de 2008

Fragmentos recentes

- Não simpatizo com cidades pequenas. Olhando bem, existem quase os mesmos problemas e neuroses das tão caluniadas metrópoles, só que espremidos em um espaço indecentemente menor. Foi mal aí, talvez seja apenas minha implicância de pirralho asfaltino criado com Super Nescau, energia que dá gosto.

- Consegui uma placa de captura de vídeo, mas ainda não a instalei. Quase tudo pronto para gravar pérolas do horário eleitoral 2008.

- Curso de Ciências Exatas é só para homens e mulheres estilo Jeremias cabra-hôme.

- Hedy Lamarr & frequency hopping: http://www.inventions.org/culture/female/lamarr.html.

- Alhazen: http://en.wikipedia.org/wiki/Alhazen.

- Que tremenda bestagem essa de considerar-se neutro, isento, imparcial.

- Quem foi o mentiroso que espalhou por aí que tatuagens de estrelinha perto do ombro são bacanas? E que diacho são aquelas panças-de-gelatina com piercing no umbigo (imbigo, como provavelmente elas pronunciam)?

- Ensaio sobre a cegueira: um cego péssimo é também aquele que quer ver.

- Falar nisso, ó o José, ceguinho violonista: http://www.dailymotion.com/video/xvz1y_jose-feliciano-malaguena_music.

- A burrice escancarada chega a ser menos irritante que a burrice mascarada de sapiência.

- Dobradinhas (fold-ins) da revista Mad em versão flash:
  http://www.nytimes.com/interactive/2008/03/28/arts/20080330_FOLD_IN_FEATURE.html#.

- Jack Bauer se garante, mas quando vacila:
  http://www.sitcomsonline.com/photopost/data/1121/medium/2490Kiefer.jpg.

- Acho que eu suportaria até uma guerra civil aqui nas redondezas, se pudesse continuar a andar pelas ruas com os ouvidos entupidos pela música de um MP4.

- Detesto esse preto.

- Prefiro esse, azul.

- Eu sei o que vocês fizeram nos verões passados. [UPDATE: E na década passada.]

- Memórias aleatórias: Guarda-chuva da Madonna com o cabo no formato de cabeça de cisne. Tênis Le Cheval com luzinha piscando no calcanhar.

- Mução é humor com cara de banheiro público. Tem jeito de fake. Dou valor e rio. Ô povo abestado e popeiro.

- O que a baiana tem: http://letras.terra.com.br/marcia-freire/475466.

- Dizem porraí que há muitos ícones na nossa MPB. Acho mais de 90% deles parecidos com um outro ícone, estrangeiro: a Lixeira do Desktop do MS-Windows.

- Aliás, costumo associar o João Gilberto é ao bordão que aquela mulher com furor uterino mandava contra o Philadelpho (vulgo Fifo), personagem de A Praça É Nossa: "Seu velho bobão, babão... Bundão!"; A bossa é nossa.

- Mulheres no rock, versão afegã.

- O pessoal faz uma baita confusão entre autoridade (essencial) e autoritarismo (dispensável).

- Um perfil imaginário: Grande empresário. Veio de família pobre. Deu duro trabalhando como engraxate. Ascensão meteórica. Hoje, é um dos poderosos chefões da indústria do aço. É ligado a um partido liberal-conservador da oposição café-com-leite que vive de conchavos com socialistas do governo federal. Banca sorteio de notebooks no Fórum Social Mundial. Acalenta o sonho de eliminar os concorrentes de modo que pareça acidente. Adoraria os lucros de uma guerra patriótica, não descartando a possibilidade de negociar com o inimigo.

- Trecho de um blog imaginário: Ai gentem, ontem dei dicas de rímel e blush, mas para mostrar pros chatos de plantão que eu não sou uma fútil rosa shock, hoje vou comentar um livro muito lindinhu da Clarice Lispector. E amanhã tem post sobre o Vin Diesel, pq ele é TDB, né gentem???!!!! Mulher moderna e independente é assim: antenada com todos os assuntos!!!! Bjus :***

- Descoberta tardia de um frágil oásis em meio à aridez televisiva (TV aberta): reprises do seriado Eu, A Patroa E As Crianças (no original, My Wife And The Kids). É muito bobo. Demais. Mas eu gostei.

- Os jornais da cidade continuam fracos, fracos. O que salva a situação é a tirinha do Pafúncio. E dá para rir com alguns anúncios de acompanhantes.

- Falar nisso, a cobertura da morte do dono de um dos jornais: Desinformante.

- Brazil: http://www.brazil.in.gov.

- Grind: http://www.youtube.com/watch?v=qxtOSlmen0g.

- Ainda muita chuva. Ainda os que nada têm perdendo tudo nas enchentes.

- Uma preocupação: Que hora é a merenda?

- Uma comida: baião-de-dois feito pela mãe.

- Outra comida: macaxeira frita feita pela mãe.

- Um cheiro: café torrando.

- Uma bebida: Cajuína.

- Uma música: Baker Street, de Gerry Rafferty.

- Um carro: Simca Chambord.

- Um remédio: Castaniodo.

- Uma arma: AK-47.

- Um jogo: Street Chaves.

- Uma foto: Torre Eiffel.

- Um momento print screen: http://farm3.static.flickr.com/2258/2567499443_fa9acc885a_o.jpg.

- Uma mulher: Dana Katherine Scully.

- Uma boa sugestão para epitáfio: "Meu Ódio Será Sua Herança". A frase é a versão brasileira do título de um filme de bangue-bangue (no original, The Wild Bunch).

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Houve uma vez um verão

Curuba, pereba, pano branco, pano preto, eczema, brucelose, lepra, espinguela caída, pobrema do figo, tuberculose, panarício, rubéola, varíola, meningite, beribéri, escorbuto, papeira, ancilostomose, botulismo, coqueluche, difteria, erisipela, bronquite, oxiurose, catapora, gonorréia, ebola. Esqueçam esses amadores. Quem parece que retomou de com força as atividades, depois de fazer um intensivão com a Al-Qaeda, foi o mosquitinho Aedes.

Esse espetáculo do crescimento traz-me recordações.

1) Um som das antigas do Rei Perna-de-pau:

Tudo estava igual como era antes
Quase nada se modificou
Acho que só eu mesmo mudei
E voltei

Eu voltei agora pra ficar
Porque aqui, aqui é meu lugar
Eu voltei pras coisas que eu deixei
Eu voltei

2) Uma chamada estilo Sessão Da Tarde:

Ele está de volta com sua galerinha do barulho e vai aprontar altas confusões

3) A dengue que tive há poucos anos, numa dessas epidemias tão da estima dos verões tropicais.

O mosquito da dengue é um bicho extremamente quase-nada. Pode ser descrito sucintamente como uma muriçoca (pernilongo) usando meias de listras preto-e-branco. Ninguém nem percebe quando ele - as fêmeas - mete sua imitação de probóscide (tromba) em algum milímetro quadrado de pele e aplica a picada dos infernos.

A prostração que a doença causa é normalmente violenta. No meu caso, acrescentem a isso uma constituição física do tipo magrelo/esquálido - modelo ganhador do troféu Ney Latorraca de musculação -, sedentarismo e alimentação daquelas feitas para constranger nutricionista e pronto, temos um farrapo de miséria humana corroído dias a fio pelo mal vindo de um invetebradozinho sacana.

E existe também a elitizante sensação de ter sido aprovado no vestibular para uma futura versão hemorrágica do trote.

Ainda convalescente, como represália a um inimigo invisível, saí detonando pela casa uma artilharia de spray SBP & espiral Sentinela. Mas aí a mosquitada virou junkie e passou a exigir doses cada vez mais altas.

E foi isso minha historinha de verão. Tenham um bom resto de feriado, primatas do meu Brasil.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A queda

Espiando o blog Besteiras do Orkut, fiquei sabendo da existência das comunidades "Isabella Nardoni Voa Canarinho" e "Isabella Bungee Jump sem corda". Se não estiveram nas últimas semanas curtindo férias em luas de Saturno, devem manjar demais quem é a Isa dos títulos. O bonde do escárnio foi ágil em tirar uma casquinha do mergulho da desditosa pirralha. Desde Lúcifer que é assim. A queda é a metáfora por excelência da porção ruim das criaturas.

Em um episódio do South Park intitulado Jared Has Aides (2° ep. da 6ª temporada), era lançada a seguinte pergunta: quanto tempo, após uma tragédia, piadas sobre o fato deixam de ser [citando] ofensivas e de mau gosto [end-citando] e passam a ser encaradas numa boa?

Os bonequinhos safados do Colorado entendem do assunto. Em 25/10/2006, o episódio Hell On Earth 2006 (11° ep. da 10ª temporada) fazia avacalhação em cima do incidente ocorrido em 04/09/2006 e que terminara na morte do australiano Steven Irwin, o Caçador de Crocodilos.

Vida que segue. Despencam pivetes e decolam lucros da indústria do bad news is good news.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Prejudice

Reconhecer o preconceito nosso de cada dia - eu tenho, tu tens, ele tem - é uma baita revelação, apenas por perceber esse sentimento como tal (e quem disse que isso é fácil?). Foi justamente o que não ocorreu em períodos de exceção do passado, em que a crueldade em grande escala e premeditada fugiu do controle. Institucionalizaram a aversão a determinados grupos, mirando seus alvos como um troço andante e falante aquém da condição de bicho nocivo, passível de ser tratado como um desperdício de espermatozóide, de oxigênio e de espaço, além de descartável como papel higiênico usado.

Sigo uma tática. Minhas idéias pré-fabricadas - não todas -, procuro deixá-las trancadas numa gaveta empoeirada de móvel largado em porão sombrio, ali perto do álbum de figurinhas do Jaspion. Gaveta essa que, quando dá vontade de abrir, emite um rangido brutal de filme de terror, dela escapam voando morcegos desorientados e saio correndo, explodindo de medo pueril e com uma descarga elétrica na coluna vertebral, desistindo de rever o que havia lá dentro.

Em outras ocasiões, imagino meus pré-juízos como flatos com essência de repolho. Podem ser engraçados ou constrangedores ao virem à tona. Ou ainda, como as músicas breguíssimas que adoramos, mas nunca assumimos isso em público (às vezes, escutando às escondidas). Confissãozinha à meia-luz: intolerância é um dos meus defeitos que mais admiro.

E vale prestar atenção nos melindrosos que enxergam preconceito em tudo. Se ouço rumores sobre sexismo em propaganda de cosmético, racismo na expressão "a situação tá preta" e personagem de novela das 7 que difama nordestinos, lamento, meu instinto é a desconfiança. É minha maneira de evitar o cacoete bobo mestiço de amor à 1ª vista e adesão de 5ª categoria a causas fajutas. Quaisquer causas, pensando  melhor. Vejo passeata ou dia comemorativo pela minoria (tsc, tsc) alfa ou beta e acho tão estúpido quanto as hostilidades a essas minorias (tsc, tsc [2]). São as faces opostas e bolorentas de uma fichinha do cassino dos panacas. Muito chata também essa hipersensibilidade - que não convence - surgida como reação à discriminação. Eu ria assistindo ao Didi apelidar Mussum de azulão da Mangueira, e o tição reagir xingando-o de Paraíba da cabeça de bater bife. E Jorge Lafond, a saudosa Vera Verão, "Eeeepa, bicha não! Eu sou uma quase... Naomi Campbell!"

Detesto  mesmo é a corja dos alemães. Ficaram de eliminar os judeus desgraçados e  fizeram um serviço de preto.

(aos delicados: calma, Cocada, que essa última foi só para descontrair; sou livre de qualquer preconceito, odeio todo mundo, indistintamente; e eu gostaria de ter inventado essa frase, mas ela é do beberrão W.C. Fields)