domingo, 29 de maio de 2016

Jutland

A Batalha da Jutlândia

(Reinaldo V. Theodoro)

A Batalha da Jutlândia foi o maior engajamento naval da 1ª Guerra Mundial e, apesar da impressão de uma derrota britânica, o fato é que a Marinha alemã fracassou na sua tentativa de furar o bloqueio imposto pelos aliados, o que contribuiria para, dois anos depois, encerrar a guerra.

De um lado, a Royal Navy se apresentou com 28 encouraçados, 9 cruzadores de batalha, 8 cruzadores blindados, 26 cruzadores leves, 77 destróieres e 1 tênder de hidroaviões. [...] A doutrina de combate britânica estipulava que os cruzadores de batalha encontrariam a força inimiga e abririam caminho por entre os navios da escolta, permitindo à força principal alcançar e destruir a força principal inimiga.

Os alemães foram à luta com 22 encouraçados, 5 cruzadores de batalha, 11 cruzadores leves e 61 torpedeiros.

A famosa batalha iniciou-se às 2:20 h. de 01/06/16, com um contato quase acidental entre cruzadores inimigos. Ambos detectaram a fumaça de um cargueiro neutro e enviaram cruzadores para investigar. Ao se aproximarem, ambos detectaram a presença inimiga quase simultaneamente. Os cruzadores de batalha do almirante Beatty se lançaram ao ataque. Contudo, os ingleses começaram com o pé esquerdo: o 5º Esquadrão de Batalha não recebeu o sinal de ataque e continuou navegando segundo a rota preestabelecida. Os cruzadores de batalha, sozinhos, não podiam enfrentar a frota de Hipper e pagaram um alto preço: o HMS Indefatigable e o HMS Queen Mary explodiram e o HMS Lion foi severamente danificado. Nessa ocasião, o almirante Beatty disse a famosa frase que se tornaria emblemática da batalha: "Parece que há algo errado com nossos navios hoje!"

Afinal, o 5º Esquadrão de Batalha aproximou-se, mas então a força principal alemã, de Scheer, foi avistada e Beatty teve que se retirar para o norte. Durante a retirada, o engajamento prosseguiu.

Durante a retirada, o engajamento prosseguiu. Os encouraçados HMS Barham e HMS Malaya e o cruzador blindado HMS Warrior foram danificados, o mesmo acontecendo com os alemães Lutzow, Derfflinger, Seydlitz, Wiesbaden, Pillau e Frankfurt. O cruzador blindado HMS Defence foi afundado. Nesse momento, a vanguarda de Jellicoe chegou à área. O cruzador de batalha HMS Invincible caiu sob fogo pesado e afundou. Apesar disso, a força de Jellicoe havia conseguido cortar o "T" da formação alemã e pegou Scheer de surpresa. Os navios alemães sofreram numerosos impactos, sem qualquer dano à frota inglesa.

Enfim, Scheer percebeu a enrascada em que se metera e deu ordem de retirada. Contudo, a frota inglesa estava agora entre ele e a Alemanha, de forma que a retirada tinha que ser para oeste (na direção da Inglaterra!).

Por volta das 7:00 h., Scheer deu ordem para um giro de 180º, na esperança de passar pela cauda da frota britânica. Porém, Jellicoe previu essa manobra e às 7:10 h. estava novamente em posição de abrir fogo contra os navios alemães. Mais uma vez, os alemães sofreram vários impactos, sem qualquer dano para os ingleses. Scheer bateu em retirada novamente. Ordenou que seus torpedeiros lançassem fumaça e realizassem um ataque de torpedos, enquanto a força de Hipper deveria atacar a frota inimiga. Essa última ordem revelou-se suicida, pois o Seidlitz, o Derfflinger e o Von Der Tann foram seriamente avariados. O ataque de torpedos, porém, forçou os ingleses a manobrarem e, embora não acertassem um único disparo, distraiu a frota britânica enquanto Scheer escapava.

A escuridão caiu e a frota inglesa ainda estava entre Scheer e a Alemanha. Porém, os ingleses não tinham treinamento para combate noturno, enquanto os alemães estavam treinados e equipados para isso. Scheer ordenou que seus encouraçados pré-Dreadnought ajudassem a força de Hipper que ainda estava sendo acossada pelos ingleses. Os alemães perderam o cruzador Frauenlob e o encouraçado Pommern, mas conseguiram escapar após afundar o cruzador HMS Black Prince. Isso encerrou a batalha da Jutlândia. As frotas retiraram-se para suas respectivas bases para pensar seus ferimentos.

Em termos de vidas humanas, as perdas britânicas chegaram a 6.000. Os alemães perderam cerca de 2.500 homens.

Materialmente, parece incontestável a vitória dos alemães. Mesmo com menos navios, causaram muito mais dano ao inimigo do que sofreram, mesmo tendo ficado em condições desfavoráveis de visibilidade e de artilharia durante algumas das diferentes fases da batalha. Na verdade, isso demonstrou a superioridade técnica dos navios alemães. As torres dos navios ingleses eram construídas de modo que um impacto nelas podia causar um incêndio que podia atingir o paiol e explodir o navio inteiro. Os alemães haviam reformado seus navios para corrigir isso. Os ingleses não. Assim, mesmo gravemente avariados, os navios alemães conseguiam chegar ao porto. Apesar disso, a Royal Navy podia se dar ao luxo de sofrer tais perdas, desde que mantivesse o bloqueio naval imposto à Alemanha. Esta precisava afundar um grande número de navios britânicos, mas, apesar dos grandes danos impostos à força de Beatty, a força de Jellicoe estava praticamente intacta e pronta para navegar novamente no dia seguinte. A frota de Scheer estava tão maltratada que levaria meses para se recuperar e, de fato, até o fim da guerra, a frota de superfície alemã não mais ousaria desafiar a Royal Navy. A estratégia naval alemã passou a enfatizar o submarino. Assim, a Royal Navy continuou a dominar os mares e, com isso, estava assegurado o seu império. Sem Marinha, a Alemanha não poderia ter um. Com a continuação do bloqueio, a situação econômica da Alemanha piorou progressivamente e em fins de 1918 estava ruim o bastante para que a Alemanha tivesse que pedir a paz.

De fato, a palavra final sobre essa batalha foi escrita por um repórter da época: "A Marinha alemã assaltou seu carcereiro e voltou para a cela."


Fonte:
http://clubesomnium.org/images/arquivos/militaria/batalhas/Batalha_da_Jutlandia.pdf

Mais:
http://www.youtube.com/playlist?list=PLrWPsj6fVbeUeNXBdLC5xrzb2JRh7JDjK
http://www.royal.uk/king-george-vis-then-prince-albert-account-battle-jutland
http://www.militaryfactory.com/ships/ww1-warships.asp

domingo, 22 de maio de 2016

Rations

DAILY EXPRESS
August 23, 2014

The battle to feed Tommy

From bully beef to bread made from pulverised straw, a new exhibition looks at the food that fuelled the Front in the First World War.

(Adrian Lee)

They say an army marches on its stomach, so feeding the two million men who were in the trenches at the height of the First World War was some task. It was a great achievement that in the entire conflict not one British soldier starved to death.

Yet no one should think that the Tommies enjoyed the food that was served up by the military. According to the wags on the frontline, the biggest threat to life was not German bullets but the appalling rations.

Most despised was Maconochie, named after the company in Aberdeen that made this concoction of barely recognisable chunks of fatty meat and vegetables in thin gravy.

When served hot, as per the instructions on the tin, it was said to be barely edible. Eaten cold for days on end in the trenches, where a warm meal was usually no more than a fantasy, it was said to be disgusting.

It was the stated aim of the British Army that each soldier should consume 4,000 calories a day. At the frontline, where conditions were frequently appalling, daily rations comprised 9oz of tinned meat (today it would be known as corned beef but during the First World War it was called bully beef) or the hated Maconochie.

Additionally the men received biscuits (made from salt, flour and water and likened by the long-suffering troops to dog biscuits). They were produced under government contract by Huntley & Palmers, which in 1914 was the world's largest biscuit manufacturer. The notoriously hard biscuits could crack teeth if they were not first soaked in tea or water.

Other rations included cheese, tea, jam, sugar, salt and condensed milk.

Tea was a vital part of the British soldier's rations. It was a familiar comfort and concealed the taste of the water, which was often transported to the frontline in petrol tins. If the troops were lucky they got bacon a few times a week, which they'd cook themselves over a candle taking care not to create smoke and attract a barrage of German shells.

"The soldiers in the trenches didn't starve but they hated the monotony of their food," says Dr Rachel Duffett, a historian at the University of Essex. "They were promised fresh meat and bread but the reality was often very different."

As the stalemate dragged on and supply lines were affected by a German submarine blockade it became increasingly difficult to feed the Tommies.

One measure was to cut the meat ration and in an episode of the BBC comedy Blackadder Goes Forth, Baldrick describes the finest culinary offering available to troops in the trenches as "rat-au-van" - rat that has been run over by a van.

In reality matters were never that bad, nor did soldiers resort to eating their horses.

However by the end of 1916 flour became hard to come by so bread, known as K-Brot was made from dried potatoes, oats, barley and even pulverised straw. The occasional arrival of vats of stew called "pan packs" was a cause for celebration.

An older tradition of a rum ration endured although it was viewed with mixed feelings. "If rum was handed out it often signalled they were about to go over the top," adds Dr Duffett, also author of The Stomach For Fighting: Food And The Soldiers Of The Great War.

Food science was in its infancy and the lack of variety led to vitamin deficiencies, while stomach upsets were common. Because of the shortage of fresh water, troops often resorted to drinking from the ditches and puddles.

Yet faced with such challenging conditions, the soldiers also learned to be ingenious.

Before the advent of tinned food in the late 19th century, it was normal for armies to herd cattle as they went. The Gloucestershire Regiment is said to have kept the custom alive in the First World War by having a trench cow which ensured a supply of fresh milk. It's also claimed that some soldiers who were dug in for months grew vegetables.

Away from the frontline there was scope for men to improve their diet. They went fishing, poached game, scrounged fruit and liberated chickens from the French farms. Officers often turned a blind eye, believing the victims had every reason to be grateful for the presence of the British Army. Soldiers were also able to receive food parcels from home containing cakes, chocolate and other goodies, and used their wages to buy food locally.

In villages impromptu cafes called estaminets sprang up everywhere. Often they were in front rooms but they became very popular with the Tommies.

The locals soon realised that their own cuisine was not to the taste of most of the British soldiers, who were especially dismissive of the "smelly" French cheeses. Instead they began serving up platefuls of eggs and chips washed down with cheap "vin blanc" which became known as plonk.

For officers with access to transport the options away from the front were even more tempting, including the fine restaurants of Amiens. There's no doubt that the British troops ate better than their German counterparts, particularly when the war finally turned in favour of the Allies.

However a propaganda broadcast in which it was claimed that British soldiers were enjoying two hot meals a day caused an outcry because it was far from the truth.

In the reserve lines there were also Army cooks and mobile kitchens but the quality varied. Although the dishes could be plain, cooks were taught to look for nettles, sweet docks, wild mushrooms and marigold flowers with which to season dishes. Many of the cooks died in the fighting but it was considered by the Tommies to be a cushy job.

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Cooks avoided waste. Leftovers were sold as swill to farmers, while dripping was used in the manufacture of explosives. They also made bacon go twice as far by dipping it into flour or oatmeal to prevent too much being lost with the fat. Army chefs were told to either put stale bread in cold water and rebake for an hour or put slices in milk and bake them for "delicious" rusks.

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The introduction of curry brought more variety but did little to improve the troops' attitude to the food.


Fonte:
http://www.express.co.uk/news/502452/The-Battle-to-feed-Tommy-The-diet-of-a-WW1-soldier

Mais:
http://17thdivision.tripod.com/rationsoftheageofempire/index.html
http://www.express.co.uk/news/world-war-1

domingo, 15 de maio de 2016

Einstein

Trechos de Albert Einstein - Biografia (2010), de Laurent Seksik.


Final de julho: Mileva [Marić] e os dois filhos deixam Berlim e vão para Zurique. Einstein vai até a plataforma, apoiado por [Fritz] Haber. É preciso imaginar a cena. O homem de quem se guarda a imagem de gênio ativíssimo tem o rosto mergulhado nas mãos e contém as lágrimas. Quando o trem deixa a estação, explodem os soluços de um homem no ápice de sua glória científica, porém na mais profunda infelicidade sentimental.

No mesmo mês de julho de 1914, apenas alguns dias mais tarde, a estação de Berlim ressoa com um tumulto estrondoso e bem diferente. Nesse verão de 1914, pelas ruas da cidade como em todo o Império Germânico, explode um clamor. Nas mentes e nos corações retumbam marchas militares. Aquelas mesmas que, desde a mais tenra idade, Albert sempre temeu, detestou. O estalar das botas faz tremer o asfalto. Os apelos à guerra, o anúncio do grande combate suscitam entusiasmos, nutrem os sonhos de poder e glória. Bismarck semeou rastilhos de pólvora que um riscar de fósforo vai agora inflamar. Em Sarajevo, atiraram em um arquiduque. O tiro vai incendiar a Europa. O Reich vai finalmente entrar em luta com os vizinhos. A Prússia prosseguirá com seu apetite de conquistas. O Império inteiro está pronto para a carnificina. Embriagam-se todos com o perfume da flor no fuzil, com seu odor de enxofre.

No dia 29 desse mês de julho de 1914, Albert deixa a estação de Berlim, arrasado, com as costas curvadas. Três dias mais tarde, em 1º de agosto, os primeiros soldados prussianos entram, de cabeça erguida, no hall da estação. A guerra foi declarada. Primeiro contra a Rússia; depois, em 3 de agosto, contra a França.

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Ironia da história: no dia em que Mileva, a sérvia, deixa Albert às origens austro-húngaras, o imperador da Áustria-Hungria declara guerra à Sérvia e desencadeia a Primeira Guerra Mundial.

Albert quer manter as esperanças. Está convencido de que o meio científico da Alemanha e da França colocará todo o seu peso e toda a sua aura a serviço da paz. Os sábios terão como única preocupação fazer progredir a humanidade, lutar contra a barbárie e a carnificina que se anunciam.

Albert se desencantará.

Em vez de uma prece pela paz, um manifesto pela guerra é proposto à assinatura dos mais eminentes cientistas alemães. Todos aporão sua rubrica embaixo do "Manifesto dos 93". Eis a contribuição dos sábios ao esforço de guerra, a primeira de uma longa e aterrorizante lista. Ao percorrer o nome dos signatários, Albert fica arrasado. Três de seus mais eminentes colegas figuram nos primeiros lugares. Dentre os primeiros, está Philipp Lenard, feroz nacionalista que se tornará mais tarde o pior inimigo de Einstein. Mas igualmente Nernst, um dos que contribuíram para a vinda de Einstein a Berlim. Pior, lá está também Haber, o amigo Fritz, aquele que tanto fez para que a separação de Mileva se desenrolasse do modo menos ruim possível. No entanto, o mais grave para Albert é a presença de Planck, o grande Max Planck, o pai da física moderna, engajado na guerra. No manifesto, os cossignatários chegam a justificar a violação da neutralidade da Bélgica pelo exército alemão, ato que é unanimemente considerado o primeiro ato de barbárie do conflito.

Pior ainda, o manifesto afirma a equivalência entre cultura alemã e militarismo alemão.

Os colegas de Einstein não se contentarão apenas em assinar. Colocarão seu saber e sua inteligência a serviço da guerra. Eles se esforçarão para melhorar, para inventar as máquinas mais mortíferas. Essa guerra será a primeira na qual os sábios se atirarão de cabeça, semeando a morte a golpes de avanços tecnológicos. A cada manhã, eles entram em seus laboratórios como quem parte para o front.

Fritz Haber, o amigo Fritz, dirige o instituto de química no qual Albert trabalha. Haber orienta todas as pesquisas de seu laboratório em proveito da máquina de guerra. Haber sente-se galvanizado pela guerra. Vai fazer o que pode para colocar o progresso técnico a serviço da barbárie. Suas experiências permitirão, a partir de 1915, a produção de gases mortais à base de cloro. Seis meses depois do começo do conflito, ele irá até o front oeste para assistir à consagração de seu trabalho: o primeiro ataque de gás sobre as trincheiras inimigas. Milhares de soldados aliados morrerão asfixiados, vítimas de uma experimentação que rapidamente passa para o estágio industrial. Haber será promovido ao grau de major pelo exército alemão. O amigo Haber será inscrito na lista de criminosos de guerra na ocasião do tratado de Versalhes.

O que faz Albert, o que ele pode fazer diante desse desencadeamento de violência e ódio, diante dessa enxurrada nacionalista? Nas calçadas de Berlim, em toda parte onde seus passos o levam, as fanfarras, os vendedores de jornais celebram a guerra, o avanço alemão, as vitórias passadas e por vir. Albert está preso na multidão de cortejos que apoiam as tropas de partida. Está sozinho no meio de um povo exultante. Exclamam em toda parte: a Alemanha e a Áustria estão em estado de legítima defesa. Não vamos nos deixar esmagar pelos "Aliados", esses criminosos, esses bárbaros. Parte-se para a carnificina sob brados de guerra. Os telegramas sucedem-se, anunciando vitórias. O exército francês recua. A frota inglesa afundou, o exército russo bateu em retirada. O manifesto proclamava: a cultura - Goethe, Beethoven - é alemã. E a vitória será alemã. Um "Canto de Ódio à Inglaterra", escrito por um obscuro poeta de nome Lissauer, musicado e entonado por setenta milhões de alemães, torna-se uma espécie de hino nacional. Na primavera de 1915, a Polônia e a Galícia são conquistadas.

Na época, a ninguém ocorre reparar nos trens-hospitais que retornam do front, trens de mercadorias onde, sobre colchões de palha, jazem, gemendo, com as entranhas à mostra, o rosto desfigurado, milhares de feridos.

Contudo, Einstein não permanece impassível e imagina, com alguns amigos, replicar o "Manifesto dos 93". O "Manifesto dos Europeus", tal é seu nome, pretende ser um apelo à razão e uma denúncia dos perigos da loucura nacionalista. Conseguirá apenas três signatários e permanecerá letra morta.

Em setembro de 1915, Einstein, insolente, irá ao encontro de Romain Rolland, que, de Genebra, exerce seu combate contra a guerra. Mas Rolland também está tão isolado quanto Einstein. Quem é capaz de escutar a voz da razão? Os povos não estão preparados para abrir os olhos para as pilhas de cadáveres. Rolland, de resto, não levará muito a sério aquele sábio de aparência lunática que veio lhe dizer o que era preciso fazer para parar a guerra.

Einstein tenta então curar suas próprias feridas. Procura dar um termo à sua própria guerra, a exercida contra Mileva. Cria compromissos para tentar ver os filhos. Aquela que ainda é oficialmente sua esposa instiga as crianças contra o pai. Não são as regras dessa guerra? [...]

Albert vai até Zurique em 1915, depois em 1916. Sua última viagem tem por objetivo a assinatura do fim das hostilidades: o anúncio do divórcio.

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Cansado de guerra, mergulhará no mundo de suas pesquisas até o final das hostilidades. A saída dos combates anunciará igualmente a suspensão das hostilidades com Mileva. O divórcio será pronunciado no dia 14 de fevereiro de 1919.

O que fez Einstein enquanto seus confrades colocavam os próprios saberes e técnicas a serviço de máquinas de morte? Enquanto Nernst e Haber contribuíam para a sofisticação dos gases tóxicos lançados sobre as trincheiras e para a "eficácia" dos explosivos? Por falta de apoio, levado a abandonar o combate contra a guerra, interrompeu sua pregação no deserto e viu com pavor as nações se perderem na loucura belicosa. A constatação era amarga: ele não tinha poder para se opor a nada. Era um homem sozinho, no meio de uma nação unida em torno de seus objetivos de guerra. Tinha de aceitar a derrota de seus ideais. Sonhar com amanhãs em que se cantassem outras árias, e não cantos de guerra celebrando campos de batalha. Apesar de tudo, mantinha a esperança no retorno à razão quando chegasse a hora de a soldadesca voltar para casa, mas era forçado a reconhecer que, por ora, sua fé em um mundo melhor estagnara na lama das trincheiras das Ardennes. Porém, tinha certeza de que ela ressuscitaria dentro em breve.

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1915. Einstein precisa recolher-se para suas terras, as que ele conhece intimamente, as que são só suas. Em seu exílio interior, Einstein dedica-se às pesquisas. Sabendo que não poderá modificar o curso dos acontecimentos, abandona-se a uma ambição mais alta ainda, porém mais ao seu alcance: mudar a visão do universo, encontrar a lei que rege o deslocamento dos planetas, elaborar a lei da gravitação. Durante o ano de 1915, em meio às privações de um mundo em guerra, e em pleno caos sentimental, Einstein é presa de uma espécie de loucura criadora.

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Freundlich, um jovem astrônomo, assistente do Observatório de Berlim, está fascinado pela hipótese de Einstein. Quer ser o homem que terá demonstrado essa tese e revolucionado a ciência. Ele organiza uma expedição em julho de 1914 partindo de Berlim em direção ao Polo Norte. Porém, o astrônomo aventureiro verá seu projeto interrompido pelo avanço do exército russo a caminho da fronteira alemã.

Em 1917, as teorias de Einstein adquiriram notoriedade internacional. Não se trata de um projeto insignificante. A validação desses princípios tornaria caduca a lei de gravitação absoluta de Newton. Os cientistas de Berlim estão ocupados em tentar salvar a guerra que se anuncia perdida desde o envolvimento dos americanos no conflito. Berlim vive a hora das privações. A miséria está por todo lado. O Reino Unido, embora engajado na guerra, é mais poupado do que o resto da Europa.

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Em 1918, duas expedições são organizadas para regiões equatoriais, locais onde o eclipse é observável com mais clareza. A primeira é dirigida pelo professor Eddington, para as costas africanas da Guiné. A segunda é organizada por Davidson, para Sobral, no nordeste do Brasil.

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Novembro de 1919. A guerra acabou. Celebra-se o primeiro aniversário do armistício. As pessoas se prometem que aquela será a "Derradeira das Derradeiras". Eis a apoteose: um homem nos fez entrar na quarta dimensão.

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Em todas as partes do mundo, a descoberta de Einstein [Relatividade] é festejada como a vitória da criatividade sobre o saber. Celebra-se a força do imaginário. Em toda parte... salvo na Alemanha. A Alemanha deveria consagrar Einstein como herói nacional. O antigo Reich é um país de vencidos, um país decomposto, esmagado pela miséria, com o orgulho ferido. Sua nação não se reconhece nesse nômade que despreza o orgulho nacionalista, que se recusou a assinar o "Manifesto dos 93". Os heróis desse país morreram no campo de batalha. Os outros, os da retaguarda, não passam de covardes. A Alemanha de 1919 não está em busca de modelos. Ela procura culpados. Está convencida de ter sido apunhalada pelas costas. A Alemanha procura responsáveis por sua honra vilipendiada, por sua desgraça, pelo roubo de sua vitória prometida. Einstein não é festejado na Alemanha. Para os vencidos, ele continua sendo um pacifista, judeu, internacionalista - a figura maldita do inimigo e do traidor.


Mais:
http://docs.google.com/file/d/0BxwrrqPyqsnIaXZ3SEdvMENiNDQ
http://www.mallstuffs.com/Blogs/Science-in-Hinduism-Einstein-Theory-of-Relativity
Quora thread

domingo, 8 de maio de 2016

La mesure de la modernité

Trechos de Bernanos Et Le Monde Moderne (1989), de Monique Gosselin e Max Milner.


Trois guerres* ont permis à [Georges] Bernanos de prendre la mesure de la modernité, de prendre sa mesure, de se mesurer avec la modernité.

[* première guerre mondiale, guerre civile espagnole, deuxième guerre mondiale]

La première guerre mondiale où Bernanos, en tant que soldat volontaire n'a pas manqué de faire connaissance direct avec la guerre, le mal, la misère réelle de la guerre. [...]

Cependant, avant de prendre connaissance de la guerre moderne dans sa réalité atroce, Bernanos, enfant et adolescent, avait vécu dans son imagination, dans son esprit, avec une image: de la guerre datant de la France d'Ancien Régime, royaliste, aristocratique et chevaleresque. Pour se faire une idée de la guerre chevaleresque qui a nourri l'imaginaire de Bernanos enfant, on peut se reporter aux tout premiers récits de l'auteur publiés dans la revue royaliste "Le Panache" de février à décembre 1907.

On trouve dans ces récits, si imparfaits soient-ils, les éléments essentiels de l'héroïsme guerrier de Bernanos. Héroïsme jamais renié et dont les valeurs lui servent de mesure pour sonder les profondeurs du mal moderne. Indiquons parmi ces valeurs: l'honneur chrétien lié, bien sûr, à l'idée de service et de sacrifice pour le roi, la patrie, les faibles et les démunis, le courage viril face à la mort toujours présente, enfin l'esprit d'enfance couronnant l'esprit de chevalerie de ce surcroît de générosité que représente "le panache".

Ce qui manque cependant à ce tableau des valeurs chevaleresques et monarchiques, c'est l'ombre, c'est le mal, c'est la trahison de ces valeurs par ceux-là mêmes qui devaient les porter et les incarner. Or, le mal ne tardera pas à prendre sa place prédestinée dans cet ensemble. C'est déjà un fait dès les nouvelles écrites par Bernanos à la veille de la guerre de 1914.

Il est permis de penser que Bernanos est parti au front dès le début de la première guerre mondiale, mu comme Péguy, par l'idéal du soldat chrétien et chevaleresque. Cependant, à la difference de Peguy mort au champ d'honneur dans la première bataille de la guerre de 1914, Bernanos a eu le temps de constater quel était l'abîme entre l'idéal et la réalité infernale de la guerre moderne. La crise d'angoisse et de dépression, qu'on peut repérer à partir de 1916 dans des lettres envoyées du front, révèle la profondeur de son désespoir et de sa désillusion. Il se révolte contre la philosophie facile qui sert à l'arrière à prêcher la guerre: "L'énorme, la gigantesque entreprise de publicité autour de nos cimetières est à soulever de dégout." Puis, contre l'image méconnaissable, déformée de la guerre: "Mais le sentiment chrétien, qu'on ne fait pas taire, lui, crie au-dessus de tout que cette danse de sauvages n'a rien qui ressemble à la guerre, et que les coeurs d'un peu de fierté, après avoir librement consenti au sacrifice, peuvent apprécier à sa valeur la nouvelle barbarie."

Ce qui le désole encore, c'est que le pays et les combattants ne semblent pas capables de tirer la leçon des immenses tueris et immolations. Voilà qui augure mal pour la suite, car Bernanos a compris que le tragique de la guerre "marque une limite dans l'histoire du monde", et comme éclairé par une visions fulgurante, il semble percer les secrets de l'avenir: "Le siècle qui vient sera le siècle sanglant, comme celui qui l'a précédé a été celui de la boue. Comme au temps de la Renaissance, les gens d'audace et de coeur auront de l'ouvrage."

A l'expérience de l'impureté pernicieuse de la guerre, s'ajoute un lancinant "à quoi bon!". "Ce siècle est trompeur (...), et la vielle bonne gloire a menti. Je ne sais ce que je défends ni ce pour quoi je puis mourir." Pourtant, il faut surmonter l'épreuve, et cela par la vieille bonne vertu de la chevalerie: "Tenons bon seulement pour l'honneur et parce qu'il ne faut pas que le fruit de nos travaux soit perdu."

Deux ans plus tard, dans une lettre à sa femme de 1917, il revient avec insistance sur la vertu vitale de l'honneur: "Ne médisez pas de ce que l'honneur inspire, n'en voulez pas à l'honneur. C'est lui qui me donnera le coinage et la force de faire ce que je dois, et c'est lui qui me lie à vous, ma chérie, par de si fortes chaînes. C'est un bon maître, et un maître bienfaisant; ce n'est pas la bravoure, c'est la lâcheté qui tue. Je m'en remets à lui sans arrière-pensée, et c'est lui, j'espère, qui me rendra bientôt à vous, sain et sauf."

On ne peut guère surestimer les répercussions des angoisses et des soulfrances vécues par Bernanos, lors de la première guerre mondiale sur sa vie future, sur la formation de sa spiritualité. Bien des thèmes et des idées qu'on peut relever éparses dans la période de la pré-guerre, vont, dans le creuset de la guerre subir une refonte pour ressortir trempés et agandis, recentrés sous une forme et dans un sens qui rappellent les traits majeurs du profil spirituel de la majorité. Il suffit, pour s'en rendre compte, de relire la correspondance de guerre. Rappelons une lettre bien connue, souvent citée et donnée en exemple: "Après quatre ans de solitude, la sensibilité n'en peut plus, tombe sur les genoux. L'angoisse est plénière et permanente. Il y a des jours affreux. Nous serions notés d'infamie pour l'éternité si nous prétendions encore opposer nos faibles forces à la grâce foudroyante et impitoyable qui multiplie ses coups comme si le temps lui était mesuré. Il l'est.

Dans ces jours décisifs, avant le jugement, la miséricorde impatiente ne sollicite plus les âmes: elles les ravit, elle les prend, les armes à la main. A grands coups, le troupeau pitoyable est ramené au pied de la croix." A cette vision eschatologique, Bernanos ajoute une remarque sur la déréliction éprouvée antérieurement: "De ses dons, Dieu ne nous avait laissé que le sentiment profond de son absence, qui est sa marque prédestinée."

Après la guerre, Bernanos allait revenir à maintes reprises à la solidarité fraternelle qui avait uni au front les combattants, comme d'autres écrivains tels Henri Barbusse et Drieu la Rochelle, dont la guerre avait été l'événement décisif. Cependant, Bernanos dépasse cette nostalgie éternelle de la solidarité perdue. Pour lui, les combattants - sans distinction de pays - étaient tous, membres "d'un même corps souffrant" participant "aux mérites d'une église universelle, de l'église universelle des combattants vivants ou morts". Tous les combattants étaient donc, même démobilisés, marqués du sceau indélébile d'une sorte de "sainteté de basse qualité".

Ils avaient fait la guerre sous le signe de l'expiration de la rédemption pour la paix, après la rédemption pour la paix, après la dernière des dernières guerres, pour rendre la guerre absurde à tout jamais. Cependant, ce que Bernanos appelle l'Arrière et dont il avait déjà, pendant la guerre, dénoncé les discours mensongers, avait fait de son mieux pour que les souffrances et les sacrifices n'aient rien rédimé du tout.

Six mois ont suffi à l'Arrière après la démobilisation pour ruiner l'église universelle des combattants. Confisquant la Parole qui devait donner un sens aux sacrifices innombrables de la guerre, et finalement à la paix, l'Arrière avait réduit les combattants au silence. "Car notre victoire n'a jamais ouvert la bouche, elle n'a jamais dit seulement papa ou maman, elle n'a même jamais su ni pleurer ni rire. Notre malheur est d'avoir fait cet enfant muet, malheur sans doute irréparable, (...)". Dans cet enfant muet qui dans une figure pitoyable symbolise tous les anciens combattants frustrés des fruits désirés de la victoire, il est permis de voir une préfiguration de tons les enfants humiliés qui peuplent son oeuvre. Bernanos signale donc que "l'héritage spirituel" des anciens combattants ont été trahis par les hommes politiques de l'après-guerre. Et lorsque, à vingt ans de distance, à l'entrée de la France dans la deuxième guerre mondiale, il regarde en arrière il ne manque pas de souligner que la première trahison était à l'origine des trahisons ultérieures et finalement la cause principale de la deuxième guerre mondiale.

Grande était la désillusion de Bernanos en constatant le rejet du message spirituel de la guerre et le reniement de l'idéal chevaleresque et chrétien de la France par les dirigeants politiques du pays.


Mais:
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domingo, 1 de maio de 2016

Contraponto

Trechos de Contraponto (1928), de Aldous Huxley.


"Reformado compulsoriamente em Harrow", começava o resumo, "saído de Sandhurst no rabo da lista, teve uma carreira distinguida no Exército, atingindo durante a guerra um alto posto no Military Intelligence Department."

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Mesmo a guerra - disse Rampion. - Foi uma calamidade domesticada. A gente não ia lutar porque tivesse o sangue a ferver. Ia porque tinha ordem de ir; ia porque era bom cidadão.

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- Saí do meu casulo durante a guerra, quando tudo estava fora dos eixos. Não vejo como nossos netos possam fazer uma derrubada mais completa do que a que se fez naquela época. Então, por que haveria de vir o desentendimento?

- Talvez eles tenham posto tudo de novo nos seus lugares... - sugeriu Spandrell.

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- Foi durante a guerra - principiou Lucy. - Eu estava beirando os dezoito, parece. Recém-lançada ao mar... E, diga-se de passagem, alguém quase me quebrou literalmente uma garrafa de champanha no corpo... Naquela época a gente se divertia de maneira um tanto febril, vocês devem estar lembrados.

Spandrell fez um sinal afirmativo, se bem que ao tempo da guerra ele de fato não passasse de um menino de escola. Walter também meneou a cabeça, cheio de experiência.

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Ficou noiva de Harry Markham. A vida prometia começar de novo. Depois veio a guerra. Harry alistou-se e foi morto. Esta morte condenou a Srta. Cobbett à estenografia e à datilografia pelo resto da existência. Harry era o único homem que a tinha amado, o único homem que quisera correr o risco de amá-la.

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Os Rampions moravam em Chelsea. A casa deles consistia num grande estúdio com três ou quatro quartinhos anexos. Um bonito recanto, na sua maneira um pouco rústica, refletiu Burlap, ao fazer soar a campainha da porta naquela tarde de sábado. E Rampion o tinha comprado por pouco mais que nada, exatamente antes da guerra. Não pagara mais aluguéis depois da guerra. Um presente de 150 libras líquidas por ano.

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Quarles ajuntou: - E aquilo só teve um resultado bom; refiro-me ao acidente. Salvou-o de ir para a guerra e de ser morto, provavelmente. Como o irmão dele.

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"A pergunta foi uma impertinência", pensava Philip. "Que lhe importa que eu seja ou não um mutilado da guerra? Como continuam a se vangloriar da sua guerra, esses soldados profissionais! Ora, eu posso considerar-me feliz por ter ficado afastado dessa sangueira. Pobre Geoffrey!" Pensou no irmão morto.

- E, no entanto - concluíra a Sra. Quarles depois de uma pausa num certo sentido, eu quisera que Philip tivesse ido à guerra. Oh! não por motivos belicosos ou patrióticos. Mas porque, se me pudessem garantir que ele não morria nem ficava mutilado, teria sido tão bom para ele... violentamente bom, talvez; dolorosamente bom; mas, em qualquer caso, bom. Podia ter-lhe quebrado a concha, podia tê-lo libertado de sua própria prisão. Liberdade sob o ponto de vista emocional; porque o seu intelecto é já bastante livre. Livre demais, talvez, cá para o meu gosto antiquado. - E a mãe de Philip, neste ponto, sorriu com uma pontinha de tristeza. - Livre de ir e vir dentro do mundo humano, em vez de ficar fechado naquela sua indiferença.

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O teu acidente te garantiu uma vida tranquila e desprendida. Em outras palavras, o acontecimento assemelhou-se a ti. Da mesma maneira que a guerra, no que me diz respeito, foi exatamente à minha semelhança. Havia já um ano que eu estava em Oxford, quando ela começou.

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- Eu me recordo... Quando chegou a guerra, de como exultei por ter uma oportunidade de fugir à esterqueira e fazer alguma coisa decente, para variar...

- Pelo Rei e pela pátria - zombou Illidge.

- Pobre Rupert Brooke! A gente sorri agora do que ele escreveu, a respeito do retorno da honra ao mundo. Os acontecimentos fizeram que isso parecesse um pouco cômico.

- Foi uma brincadeira sinistra, mesmo na época em que foi escrita. - disse Illidge.

- Não, não. Àquela época, ela era exatamente o que eu próprio sentia.

- Está claro que era o que tu sentias. Porque eras como Brooke, um membro corrompido e blasé da classe ociosa. Tinhas necessidade duma emoção nova, eis tudo... A guerra e essa famosa "honra" de vocês forneceram-lhes essa emoção.

Spandrell deu de ombros.

- Explica a coisa assim, se queres. Tudo o que posso dizer é que em agosto de 1914 eu queria fazer alguma coisa de nobre. Ter-me-ia sido perfeitamente agradável ser morto.

- "Antes a morte que a desonra", hein?

- Sim, exatamente ao pé da letra. Porque posso te assegurar que todos os melodramas estão perfeitamente de acordo com a realidade. Há certas ocasiões em que as pessoas dizem efetivamente coisas como essa. O único defeito do melodrama é que ele tende a nos fazer crer que as pessoas fazem dessas frases sempre e sempre. Mas infelizmente não é assim. "Antes a morte que a desonra" era exatamente o que eu pensava em agosto de 1914. Sim, se a única possibilidade existente fora da morte fosse o modo de vida estúpido por mim levado, eu preferia morrer...

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Aquela vida, na França, parecia-se com a que eu tinha levado antes da guerra. Apenas era muito mais ignóbil e estúpida, e supinamente falha de qualquer elemento que a pudesse aliviar ou redimir. E depois de um ano de guerra eu lutava desesperadamente para me apegar à minha desonra e evitar a morte.

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- Mas a próxima guerra e a próxima revolução hão de fazer que a questão se torne bastante prática.

- É possível. Mas não devemos contar com as guerras e as revoluções. Porque, se contamos com elas, elas hão de vir na certa.

- Virão, contemos ou não com elas. O progresso industrial significa superprodução, significa a necessidade de conseguir novos mercados, significa a rivalidade internacional, significa a guerra. E o progresso mecânico significa mais especialização e padronização do trabalho, significa divertimentos despersonalizados, feitos para todo mundo, significa uma queda da iniciativa e das faculdades criadoras, significa mais intelectualismo, e uma atrofia progressiva de todos os elementos vitais e fundamentais da natureza humana, significa mais tédio e agitação, significa enfim uma espécie de loucura individual que não pode ter outro resultado senão a revolução social. Contemos ou não com elas, as revoluções e as guerras são inevitáveis, se permitirmos que as coisas continuem o seu curso atual.

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E profetizou guerras de classes, guerras de continentes, o estraçalhamento catastrófico de nossa sociedade já terrivelmente instável.

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Depois, pensem na guerra civilizada. Ela nada tem que ver com a combatividade espontânea. Os homens precisam ser constrangidos por lei e depois excitados pela propaganda, para se baterem. Far-se-ia um trabalho muito mais eficiente em favor da paz se se dissesse aos homens que obedecessem aos reflexos espontâneos de seus instintos belicosos, do que fundando não importa quantas Ligas das Nações.


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Crome Yellow
http://docs.google.com/file/d/0BxwrrqPyqsnIMWVzRjdDR1FBc3M