sábado, 7 de abril de 2012

[edição extraordinária]

O post anterior foi uma homenagem à maravilhosa e eterna Jane Austen, uma das minhas obsessões literárias, um dos meus modelos de perfeição em linguagem escrita.

* * *

Foi também uma homenagem aos amigos e aos inimigos com os quais vivi durante os loucos e inesquecíveis derradeiros anos da década de 90, os últimos suspiros do fascinante e assustador século XX. Acho que, pelas referências, dava para perceber que eu contava situações ocorridas por volta de 1999-2000.

* * *

Qual não foi minha surpresa ao saber ontem do falecimento de um dos personagens emblemáticos daquele período, o professor Itamar Filgueiras. Foi o que me motivou a digitar esta edição extraordinária. Figura famosa no ensino de Português no Ceará. Fui aluno dele em 2000. Lembro sua característica bata - um par de pincéis atômicos no bolso -, seu cabelo à Franz Kafka, sua volumosa pança eclesiástica/tamborística, seu nariz de tucano, suas anedotas, sua voz profunda de locutor da era de ouro do rádio anunciando uma música de Emilinha Borba e orações coordenadas sindéticas. Estou em visita de feriadão na casa dos meus pais. Encontrei o primo Roger e sua filhinha de poucos meses (parabéns!). Encontrei o quase centenário vô Antonino e comentei com ele a morte do ilustre docente. O bode velho, com a habitual grosseria que o torna tão adorável, apenas observou o quanto alguns sujeitos caem fácil nas garras da Indesejada. Não fala isso, vô, Deus castiga, protestei. Olha a blasfêmia, moleque, reagiu. Saí correndo, para escapar do bracinho de espaguete que desenhava no ar uma bengalada. Deixei-o conversando sozinho, "Rapaz, me alembrei agora de um jogo da Copa da Suécia, nessa época minha véia inda era viva..." e bla bla bla.

* * *

Também no texto anterior, mencionei rapidamente o descartável grupo Sugar Ray, autor de dois megahits executados à exaustão no rádio e na TV. Sofreram superexposição e encheram o saco de muita gente. No Laranjato, sempre havia alguém cantarolando-os, assoviando-os. Procurem pelo outro sucesso deles, Someday. Tenho certeza de que o reconhecerão de imediato. "And fade away", diz uma parte da letra, que reflete sobre a passagem do tempo. Cedo ou tarde, esse será o destino de todos nós. Feliz Páscoa.