quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Sin City

Não sou de engolir tudo que sai em jornal igual a punhados de farinha seca depois do almoço, aliás, sei nem por que cargas d'água de açude continuo a ler essas besteiras. Mas, perambulando os olhos por uma reportagem de segunda-feira (28 de novembro), vi que lá constava que nosso vilarejo de Fortaleza foi considerado, "segundo dados do Ministério da Saúde, a oitava cidade mais violenta do Brasil. Somente em 2004, a cidade alcançou a marca de 551 homicídios, 124 suicídios e 425 acidentes em transportes terrestres. Em 2003, a capital do Ceará figurou na sexta posição do ranking. [...] Entre os critérios utilizados estão dados sobre agressões físicas, violência familiar e doméstica, exploração sexual de crianças e adolescentes, além da violência institucional."

Deve ser um barato para mim, que nasci e resido na província contemplada com o prêmio de a 8ª mais sanguinolenta das redondezas, prato cheio para o trio parada dura Gil Gomes, Homem do Sapato Branco & Ely Aguiar. É caminhar pelas ruas decadentistas do Centro e sentir o odor de tensão e de perigo iminente hollywoodianos. O orgulho de andar entre os folclóricos cabras-macho, dispostos a fazer o caldo vermelho jorrar das veias alheias pelo mais banal e improvável dos motivos. Isso além dos assaltantes, dos pontos de venda de crack, da gangue Missão Impossível do Banco Central, da polícia banda podre, dos pistoleiros, dos deputados coiteiros de pistoleiros, dos seqüestros-relâmpago. Daria até um belo título para um daqueles folhetinhos de cordel escritos por plantadores de mandioca ou por sanfoneiros de zona: É o diabo dos estrupícios marmotosos fazendo malvadeza e presepada pelo mêi do mundo.

"Procurada pelo [jornal] para comentar o assunto, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) mandou dizer pela assessoria de imprensa que discorda da pesquisa. Segundo a secretaria, uma outra pesquisa, realizada pelo Ministério da Justiça, apontaria a capital do Ceará como uma das mais tranqüilas do Brasil."