sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Mencken

Perhaps in his haste to be the reliable cynic, H. L. Mencken (1880 - 1956) decided to ignore the haphazard nature of industrial warfare and indulged in some Darwinian thinking. There is no doubt that this column must have infuriated the Gold Star Mothers of W.W. I, who were still very much a presence at the time this opinion piece appeared, and it can also be assumed that the veterans of The American Legion were also shocked to read Mencken's words.

THE SMART SET
November, 1920

War and its effects

(H. L. Mencken)

I lately read an article arguing that the United States was the only Great Power to come out of the war a winner, inasmuch as the others all lost the flower of their young manhood, whereas the American losses were so trifling as to be almost indiscernible. The theory has a fine plausibility, but I have a notion that an examination by a Galton or a Karl might reveal some holes in it. A long and difficult campaign, with wholesale butchery, might have actually done the country more good than harm - by holding the population within bounds, by reducing the number of professional war veterans and, above all, by stamping out hundreds of thousands of the relatively unfit.

The risk that man runs in war, remember, is not simply the blind chance of getting shot; it is also the risk of succumbing to disease, of wearing out through hardship, of coming to his end through ignorance and stupidity. This second risk is probably far greater than the first. A veteran army, after four or five years of hard war, is composed of very superior men, as everyone knows. They have not only been relatively lucky; they have been relatively quick-witted and tough - in brief, relatively superior.

The American army came home substantially as it went abroad. Some of the weaklings were left behind, true enough, but surely not all of them. But the French and German armies probably left them all behind. The Frenchman who got through those bitter four years was certainly a Frenchman far above the average in vigour and intelligence; all of his brothers who were below the average were dead. In the German army it was found that,as year followed year in the field, the death rate from disease sharply and constantly declined, and with it the death rate from the enemy fire. The weaklings and the fools gradually disappeared; the men left were very vigorous men and, what is more, men with a natural talent for protecting themselves, which is to, say; men of superior sense.

The notion that long wars exhaust a people is probably only partly true. They leave scars, but they also leave certain very valuable benefits. The Napoleonic series of wars, it is said, shortened the average stature of Frenchmen by three inches. Maybe it did - but it also made them tough. Is it so soon forgotten that the same people who were so tremendously butchered in the Thirty Years' War - perhaps the most sanguinary and exhausting contest in history - were ready in the next century to fight the Seven Years' War - a combat waged with superlative vigour and skill, and against the largest imaginable odds?

* * *

Trechos de O Livro Dos Insultos (1988), coletânea organizada por Ruy Castro.



LIVRE ARBÍTRIO (1918)

O livre arbítrio, segundo consta, continua um dogma essencial à maioria dos cristãos. Sem ele, as crueldades de Deus esticariam a fé até um ponto de ruptura. Mas, fora do aprisco das ovelhas, parece estar caindo gradualmente em desuso.

[...] Quanto mais se examina o assunto, mais o resíduo do livre arbítrio parece encolher, até que, no fim, torna-se impossível seguir-lhe a pista.

[...] As consequências se seguem aos fatos, implacavelmente, sejam eles voluntários ou involuntários. Na guerra, morrem tanto os soldados convocados à força quanto os voluntários.

- - -
MULHERES FORA-DA-LEI (1921)

As guerras fugiram ao controle dos homens superiores - os únicos capazes de julgar sem paixão, mas com inteligência, as causas por trás delas e as consequências que advirão. Agora passaram a ser declaradas assim que se põe uma multidão em pânico, e só terminam quando já esgotaram sua fúria. Neste ponto, o efeito da civilização foi o de reduzir uma arte que era o repositório da coragem, e da vocação inata de alguns dos melhores homens, ao nível de um assalto a um bordel ou ao de uma briga no cais. Todas as guerras são agora repelentes e degradantes; sua condução passou das mãos dos nobres e cavaleiros para as dos demagogos, agiotas e camelôs de atrocidades. Para podermos reconstituir a guerra em grande estilo, como a concebiam o príncipe Eugène, Marlborough e o velho Dessauer, temos que recuar aos povos bárbaros.

- - -
O HOMEM MÉDIO (1922)

[...] a covardia. De uma forma ou de outra, ela é visível em todo ser humano; serve também para separar o homem de todos os outros animais superiores. A covardia, acredito, está na base de todo sistema de castas e na formação de todas as sociedades organizadas, inclusive as mais democráticas. Para escapar de ir à guerra ele próprio, o camponês dava de mão beijada certos privilégios aos guerreiros - e destes privilégios brotou toda a estrutura da civilização. Vamos recuar mais ainda no tempo. Foi a propriedade que levantou a lebre de que uns poucos homens relativamente corajosos foram capazes de acumular mais posses do que hordas de covardes - e, como se fosse pouco, de mantê-las depois de acumuladas.

- - -
BEETHOVEN (1926)

Beethoven foi um daqueles homens cuja estatura, vista em retrospecto, só parece crescer. Quantos movimentos não surgiram para pô-lo definitivamente na prateleira? Pelo menos uns dez nos cem anos desde a sua morte. Houve um em Nova York, em 1917, lançado por críticos bocós e estimulado pela febre da guerra: pregava que o lugar de Beethoven seria tomado por profetas das novas luzes, como Stravinski. O saldo daquele movimento foi o de que a melhor orquestra da América foi à falência - e Beethoven sobreviveu sem um arranhão.

- - -
AMBROSE BIERCE (1927)

Bierce foi o primeiro escritor de ficção a tratar a guerra com realismo. Antecipou-se inclusive a Zola. Costuma-se dizer que ele saiu da Guerra Civil americana, na qual lutou, com um profundo e persistente ódio à matança, e que escreveu seus contos de guerra como uma espécie de pacifista desiludido. Ninguém que o tenha conhecido, como eu o conheci em seus últimos anos, acredita nisto. O que ele extraiu de sua participação na guerra não foi um horror sentimental a ela, mas uma espécie de cínico deleite. Parecia-lhe quase um reductio ad absurdum de todo o romantismo. O mundo via a guerra como algo heroico, glorioso, idealista. Pois bem, ele iria mostrar como ela era sórdida e suja, estúpida, selvagem e degradante. Embora isto não queira dizer que ele a desaprovasse. Ao contrário, Bierce via na guerra uma oportunidade de ouro para discutir com maligna satisfação sua ideia fixa: a da infinita imbecilidade do homem. Não havia uma gota de leite da gentileza humana no velho Ambrose; ele não ganhou o apelido de Bitter (amargo) Bierce por acaso. O que mais o deliciava na vida era o espetáculo da tolice e covardia do homem, o qual ele classificava, intelectualmente, entre uma ovelha e uma vaca, e, como herói, ligeiramente inferior aos ratos. Suas histórias de guerra, mesmo quando lidam com o heroico, não descrevem os soldados como heróis; mostram-nos como bobos perdidos, fazendo coisas sem sentido, submetendo-se a violências e torturas sem resistir, e finalmente morrendo como porcos.

- - -
OS AVANÇOS DA CIVILIZAÇÃO (1931)

De todas as grandes invenções dos tempos modernos, a que me deu mais conforto e alegria é aquela da qual pouco se fala: o termostato. Fiquei surpreso, há algum tempo, ao saber que tinha sido inventado uma geração atrás. Ouvi falar dele a primeira vez durante a guerra de 1914-8, quando um amigo me sugeriu que jogasse fora o forno a carvão que aquecia a casa e instalasse um forno a gás. Naturalmente, hesitei a princípio, pois assim funciona a mente humana. Mas o dia em que finalmente sucumbi ficará gravado para sempre em meus anais, porque permitiu que eu me mudasse do inferno para uma espécie de paraíso. Não havia um único carvoeiro na minha vizinhança: todos estavam trabalhando nos estaleiros, a 15 dólares por dia. Assim, eu tinha de escavar pessoalmente o carvão e, como se não bastasse, peneirar as cinzas. E, o que é pior, minha casa vivia ou muito quente ou muito fria.

O termostato mudou tudo isto num instante. Ajustei-o para 22° e fui tratar da vida. Quando a temperatura da casa subia ou descia, o termostato se encarregava de fazê-la voltar aos 22°. Comecei a me sentir como um homem que escapou da forca. Nada de carvão para escavar, nada de cinzas para peneirar. Minha casa ficou tão limpa que eu podia usar a mesma camisa cinco dias seguidos. Recuperei o ânimo para trabalhar e rapidamente produzi uma série de contribuições imperecíveis para as letras nacionais. Meu humor melhorou tanto que minha família começou a suspeitar de caduquice precoce.

- - -
CAPITALISMO (1935)

Quando os bolcheviques, uma chusma de bestas quase comparável aos homens que pensam por nós, tomaram o controle dos negócios na Rússia, tiveram que jogar no lixo imediatamente uma das regras cardeais do seu credo ostensivo. Segundo esta regra, todos os males do mundo se deviam ao fato de que, sob o capitalismo, os trabalhadores tinham perdido a propriedade dos seus meios de produção. Todas as autoridades clássicas do socialismo, de Marx e Engels para baixo, enfatizaram esta perda, e, na Utopia que eles vislumbravam, o trabalhador receberia estes meios de volta, iria se tornar um produtor independente, trabalhar apenas para si e não dar nada de sua produção para um capitalista cretino. Mas, no momento em que tomaram o poder, os bolcheviques devolveram tudo isto para a prateleira e, desde então, não se tocou mais no assunto, exceto por uns simplórios americanos. Ansiosa por administrar a Rússia como seu quintal particular, aquela equipe esperta de chicanistas viu instantaneamente que sua principal função seria a de acumular capital, para que metade de suas vítimas não morresse de fome. O velho capital tinha sido devorado pela guerra. Uma maneira fácil de consegui-lo seria tomar emprestado de outros países, mas, como ninguém abria a mão, os bolcheviques tiveram de acumular o seu próprio capital fresco.

O que conseguiram pondo os trabalhadores russos para suar de uma maneira jamais vista antes na terra ou, pelo menos, nos tempos modernos. Os trabalhadores resistiram, especialmente os camponeses, e, quando em consequência aconteceram as duas grandes fomes, o chapéu teve de ser passado entre os países capitalistas para alimentar os famintos. Depois, chacinando os camponeses rebeldes à coletivização e organizando os desempregados num gigantesco exército, os bolcheviques conseguiram dominar todos os trabalhadores russos. Desde então, esses pobres diabos têm trabalhado como prisioneiros forçados, com mais ou menos os mesmos salários. Todo o produto de seu trabalho, pouco acima do nível de subsistência necessário aos ratos, vai para os cofres dos bolcheviques. Com isso, estes acumularam uma bela soma de capital novo, que usam não apenas para construir fábricas cada vez maiores - infestadas de operários que nada possuem, exceto suas mãos -, como também para construir luxuosas mansões para si próprios, inclusive uma embaixada em Washington, tão extravagante que faz inveja a todos os banqueiros da cidade.

Assim, um dos princípios fundamentais do marxismo foi reduzido ao absurdo na casa dos seus supostos discípulos. Podem não passar de uns patifes, e sem dúvida o são, mas têm também uma considerável esperteza para perceber que nada que se possa chamar de uma civilização moderna pode prescindir do capital. E, por capital, quero dizer precisamente o mesmo que eles quando o atacam para consumo externo - ou seja, o lucro acumulado, não nos bolsos dos trabalhadores, mas nos das pessoas que lhes fornecem os meios de trabalho; não sob o controle daqueles que o produzem, mas sob o controle daqueles que o dominam. Os políticos desprezíveis, os pedagogos pueris e os advogados desocupados que não param de cacarejar em Washington desde 1933 [começo do New Deal] fariam a mesma coisa se pudessem. Alguns deles talvez sejam realmente estúpidos para acreditar que o mundo poderia continuar sem o capitalismo, mas outros devem enxergar o suficiente para ver o que se passou na Rússia. Mas, sejam eles simples idiotas ou espertos trapaceiros, todos se julgam com autoridade para falar sobre a decadência do capitalismo, e mesmo aqueles que alegam estar tentando salvá-lo referem-se a ele como se estivesse nas últimas. Para silenciar o seu oco blablablá, basta dar-lhes um emprego no governo.

Não há sentido na coisa. O mundo moderno pode dispensar tanto o capital acumulado quanto pode dispensar a polícia ou as ruas pavimentadas. A maior transformação imaginável foi a que aconteceu na Rússia - a transferência do capital, que passou dos proprietários particulares para os políticos profissionais. Se você pensa que isto faria algum bem ao indivíduo, basta perguntar a qualquer carteiro americano. Ele trabalha para um supercapitalista chamado Tio Sam - e terá prazer em contar-lhe o que tem de suar e dar duro para cada mísero níquel que ganha.

- - -
DEMPSEY VERSUS CARPENTIER (19??)

Durante os anos 20 e 30, fiz diversas reportagens especiais para jornais. Uma delas foi a cobertura da luta entre Jack Dempsey e o francês Georges Carpentier pelo título mundial de boxe, no Boyle's Thirty Acres, em Jersey City, N. J., dia 2 de julho de 1921. Carpentier era o favorito, não apenas da torcida, mas também dos repórteres, porque Dempsey tinha fugido ao serviço militar na Primeira Guerra Mundial.


Fonte:
http://www.oldmagazinearticles.com/hl_mencken_on_world_war_one

Mais:
http://www.jfredmacdonald.com/worldwarone1914-1918/german-17ludendorff.html
http://www.historicfilms.com/search/?q=mencken#p1t222i315o333
http://www.youtube.com/watch?v=QpGzpqU-b04
http://www.oldmagazinearticles.com/anti-ww1-editorial_article