domingo, 4 de março de 2018

Lenin

Trechos de panfletos de Vladimir Lenin.


A GUERRA E A SOCIAL-DEMOCRACIA DA RÚSSIA - 28 de setembro de 1914:

A guerra europeia, que foi preparada no decurso de decênios pelos governos e pelos partidos burgueses de todos os países, rebentou. O aumento dos armamentos, a extrema agudização da luta pelos mercados na época do estágio atual, imperialista, de desenvolvimento do capitalismo nos países avançados e os interesses dinásticos das monarquias mais atrasadas, as da Europa Oriental, deviam conduzir inevitavelmente, e conduziram, a esta guerra. Conquistar terras e subjugar nações estrangeiras, arruinar a nação concorrente, saquear as suas riquezas, desviar a atenção das massas trabalhadoras das crises políticas internas da Rússia, Alemanha, Inglaterra e de outros países, a desunião e o entontecimento nacionalista dos operários e o extermínio da sua vanguarda com o objetivo de debilitar o movimento revolucionário do proletariado - tal é o único real conteúdo, significado e sentido da atual guerra.

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À cabeça de um grupo de nações beligerantes está a burguesia alemã. Ela engana a classe operária e as massas trabalhadoras, assegurando que faz a guerra para defender a pátria, a liberdade e a cultura, para libertar os povos oprimidos pelo czarismo reacionário. Mas de fato é precisamente esta burguesia, que rasteja diante dos junkers prussianos com Guilherme II à sua frente, que sempre foi a aliada mais fiel do czarismo e inimiga do movimento revolucionário dos operários e dos camponeses da Rússia.

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À cabeça do outro grupo de nações beligerantes encontra-se a burguesia inglesa e francesa, que engana a classe operária e as massas trabalhadoras, assegurando que faz a guerra pela pátria, pela liberdade e cultura, contra o militarismo e o despotismo da Alemanha. Mas de fato esta burguesia há muito já que alugou e preparou, com os seus milhares de milhões, as tropas do czarismo russo, a monarquia mais reacionária e bárbara da Europa, para atacar a Alemanha.

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Ambos os grupos de países beligerantes nada ficam a dever um ao outro no que respeita às pilhagens, às atrocidades e à interminável crueldade da guerra.

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É preciso constatar com um sentimento da mais profunda amargura que os partidos socialistas dos principais países europeus não cumpriram esta sua tarefa, e a conduta dos dirigentes destes partidos - particularmente do alemão - confina com a traição direta à causa do socialismo. Num momento da maior importância histórica mundial, a maioria dos dirigentes da atual, da segunda (1889-1914) Internacional Socialista tenta substituir o socialismo pelo nacionalismo. Devido à sua conduta, os partidos operários destes países não se opuseram à conduta criminosa dos governos, mas chamaram a classe operária a fundir a sua posição com a posição dos governos imperialistas.

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O nosso partido, o Partido Operário Social-Democrata da Rússia, já sofreu e sofrerá ainda enormes perdas ocasionadas pela guerra. Toda a nossa imprensa operária legal foi liquidada. A maioria dos sindicatos foram encerrados, numerosos camaradas nossos foram presos e deportados. Mas a nossa representação parlamentar - a Fração Operária Social-Democrata da Rússia na Duma de Estado - considerou ser seu dever socialista incondicional não votar os créditos de guerra e mesmo abandonar a sala de sessões da Duma para expressar ainda mais energicamente o seu protesto, considerou um dever estigmatizar a política dos governos europeus como imperialista.

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A bancarrota da II Internacional é a bancarrota do oportunismo, que se desenvolveu sobre a base das particularidades de uma época histórica passada (a chamada época "pacífica") e que nos últimos anos passou a dominar de fato na Internacional. Os oportunistas há muito que preparavam esta bancarrota, negando a revolução socialista e substituindo-a pelo reformismo burguês [...]; transformando a necessária utilização do parlamentarismo burguês e da legalidade burguesa numa fetichização desta legalidade e no esquecimento das formas clandestinas de organização e de agitação nas épocas de crise.

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A palavra de ordem política imediata da social-democracia da Europa deve ser a formação dos Estados Unidos da Europa republicanos.

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Após os horrores da atual barbárie "patriótica" nas condições dos gigantescos progressos técnicos do grande capitalismo, a burguesia utiliza as leis do tempo de guerra para amordaçar por completo o proletariado.

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Quanto mais vítimas da guerra houver, tanto mais clara será para as massas operárias a traição à causa operária por parte dos oportunistas e a necessidade de voltar as armas contra os governos e a burguesia de cada país.

A transformação da atual guerra imperialista em guerra civil é a única palavra de ordem proletária justa, indicada pela experiência da Comuna [de Paris].

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SOBRE O DERROTISMO DURANTE A GUERRA IMPERIALISTA - 25 de julho de 1915:

Eis uma amostra das frases enredadas por meio das quais Trotsky não cessa de justificar o oportunismo. A expressão "luta revolucionária contra a guerra" é absolutamente vazia de sentido se não se entenda por ela a ação revolucionária contra o governo do seu país durante a guerra. Esperando sair-se bem com algumas frases, Trotsky enreda-se ainda mais. Parece que desejar a derrota da Rússia é desejar a vitória da Alemanha.

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Para o proletariado, a única política de luta de classe e de ruptura da união sagrada é a que consiste em explorar as dificuldades do seu governo e da sua burguesia para derrubá-los, e não é possível aspirar nem atingir este objetivo sem desejar a derrota do seu governo, sem colaborar nesta derrota.

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O PROGRAMA MILITAR DA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA - setembro de 1916:

O argumento fundamental consiste em que a reivindicação do desarmamento é a expressão mais clara, mais decidida e mais consequente da luta contra todo o militarismo e contra toda a guerra.

Mas é neste argumento fundamental que reside o principal erro dos partidários do desarmamento. Os socialistas não podem, sem deixarem de ser socialistas, ser contra todo tipo de guerra.

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O socialismo vitorioso num só país de modo algum exclui imediatamente todas as guerras em geral. Pelo contrário, pressupõe-nas. [...] Ele vencerá inicialmente num só ou em vários países, continuando os restantes a ser, durante certo tempo, burgueses ou pré-burgueses. Isto deverá provocar não apenas atritos mas também a tendência direta da burguesia dos outros países para derrotar o proletariado vitorioso do Estado socialista. Em tais casos a guerra seria da nossa parte legítima e justa. Seria uma guerra pelo socialismo, pela libertação de outros povos da burguesia.

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Os padres sociais e os oportunistas estão sempre prontos a sonhar com o futuro "socialismo pacífico", mas aquilo que os distingue dos sociais-democratas revolucionários é exatamente eles não quererem pensar e sonhar com a encarniçada luta de classes e com as guerras de classes para tornar realidade este futuro maravilhoso.

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Uma classe oprimida que não aspire a aprender a manejar as armas, a possuir armas, tal classe oprimida mereceria apenas ser tratada como são tratados os escravos.

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Só depois de o proletariado desarmar a burguesia é que poderá, sem trair a sua tarefa histórico-universal, atirar para o ferro-velho todo o armamento em geral e, indubitavelmente, o proletariado fá-lo-á, mas só então, de modo nenhum antes.

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A PRIMEIRA ETAPA DA PRIMEIRA REVOLUÇÃO - 7 de março de 1917:

A primeira revolução gerada pela guerra mundial imperialista eclodiu. Esta primeira revolução não será, certamente, a última. A julgar pelos escassos dados de que se dispõe na Suíça, a primeira etapa desta primeira revolução, concretamente, da revolução russa de 1º de Março de 1917 terminou.

Como pôde dar-se um tal "milagre", como foi possível que em apenas oito dias - o período indicado pelo Sr. Miliukov no seu jactancioso telegrama a todos os representantes da Rússia no estrangeiro - se tenha desmoronado uma monarquia que se tinha mantido durante séculos e se manteve, apesar de tudo, durante três anos das maiores batalhas?

Não há milagres na natureza nem na história.

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Para que a monarquia czarista pudesse desmoronar-se em poucos dias, foi necessária a conjugação de toda uma série de condições de importância histórica mundial.

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Sem a revolução de 1905-1907, sem a contrarrevolução de 1907-1914, teria sido impossível uma "autodeterminação" tão exata de todas as classes dos povos que habitam na Rússia.

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Além de uma extraordinária aceleração da história mundial, eram igualmente necessárias viragens particularmente bruscas desta para que, numa dessas viragens, pudesse voltar-se de um só golpe o carro da monarquia dos Romanov manchado de sangue e de lama.

Este "encenador" onipotente, este poderoso acelerador foi a guerra mundial imperialista.

Agora já não há dúvidas de que esta guerra é mundial, pois que os Estados Unidos e a China já hoje estão meio envolvidos nela, e amanhã estarão envolvidos totalmente.

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Esta crise foi acelerada por uma série de derrotas gravíssimas infligidas à Rússia e aos seus aliados. As derrotas desorganizaram todo o antigo mecanismo governamental e todo o antigo regime, provocaram o ódio de todas as classes da população contra ele, exasperaram o exército e destruíram em grande medida o seu velho corpo de comando de caráter aristocrático-fossilizado e burocrático excepcionalmente corrupto.

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Se a revolução venceu tão rapidamente e - aparentemente, ao primeiro olhar superficial - de um modo tão radical, é apenas porque, por força de uma situação histórica extremamente original, fundiram-se correntes absolutamente diferentes, interesses de classe absolutamente heterogêneos, tendências políticas e sociais absolutamente opostas.

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Este novo governo [...]; enquanto o "trudovique" Kerensky desempenha o papel de balalaica para enganar os operários e camponeses, este governo não é um conjunto fortuito de pessoas. São os representantes da nova classe que subiu ao poder político na Rússia, a classe dos latifundiários capitalistas e da burguesia, que já há muito dirige economicamente o nosso país e que tanto no tempo da revolução de 1905-1907, como no tempo da contrarrevolução de 1907-1914 e finalmente - e com particular rapidez - no tempo da guerra de 1914-1917, organizou-se politicamente de maneira extraordinariamente rápida, tomando nas suas mãos tanto as administrações locais como a educação pública, congressos de todo gênero, a Duma, os comitês industriais de guerra, etc. Esta nova classe estava já "quase totalmente" no poder em 1917; por isso, bastaram os primeiros golpes contra o czarismo para que ele se desmoronasse, deixando o lugar à burguesia.

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O governo burguês outubrista-democrata-constitucionalista, querendo levar a guerra imperialista "até o fim", é na realidade um agente da firma financeira "Inglaterra e França" que é obrigado a prometer ao povo o máximo de liberdades e de esmolas compatíveis com a manutenção do seu poder sobre o povo e com a possibilidade de continuar o massacre imperialista.

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AOS CIDADÃOS DA RÚSSIA! - 25 de outubro de 1917:

O Governo Provisório foi deposto. O poder de Estado passou para as mãos do órgão do Soviete de deputados operários e soldados de Petrogrado - o Comitê Militar Revolucionário -, que se encontra à frente do proletariado e da guarnição de Petrogrado.

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À POPULAÇÃO - 19 de novembro de 1917:

Camaradas trabalhadores! Lembrai-vos que vós próprios dirigis agora o Estado. [...]

Introduzi o mais rigoroso controle da produção e do registro dos produtos. Prendei e entregai ao tribunal revolucionário do povo todos os que ousem prejudicar a causa popular, quer esse prejuízo se manifeste na sabotagem (deterioração, entrave, subversão) da produção ou na ocultação de reservas de cereais e de víveres, quer na retenção de carregamentos de cereais ou na desorganização dos caminhos-de-ferro, dos correios, telégrafos e telefones ou em geral em qualquer resistência à grande causa da paz, à causa da entrega da terra aos camponeses, à causa da aplicação do controle operário sobre a produção e a distribuição dos produtos.

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OS QUE ESTÃO ASSUSTADOS COM A FALÊNCIA DO VELHO E OS QUE LUTAM PELO NOVO - 24-27 de dezembro de 1917:

"Os bolcheviques já estão no poder há dois meses, e em vez do paraíso socialista vemos o inferno do caos, da guerra civil, de uma ruína ainda maior." Assim escrevem, falam e pensam os capitalistas juntamente com os seus partidários conscientes e semiconscientes.

Os bolcheviques só estão no poder há dois meses - responderemos nós -, e o passo em frente que já foi dado em direção ao socialismo é enorme.

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Nós, marxistas, sempre soubemos, dissemos, repetimos, que não se pode "introduzir" o socialismo, que ele surge no decurso da mais tensa e mais aguda - indo até à raiva e ao desespero - luta de classes e guerra civil; que entre o capitalismo e o socialismo há um longo período de "dores de parto"; que a violência é sempre a parteira da velha sociedade; que ao período de transição da sociedade burguesa para a socialista corresponde um Estado particular (isto é, um sistema particular de violência organizada sobre uma certa classe), a saber, a ditadura do proletariado. E a ditadura pressupõe e significa uma situação de guerra contida, uma situação de medidas militares de luta contra os adversários do poder proletário. A Comuna foi uma ditadura do proletariado, e Marx e Engels censuraram a Comuna, consideraram uma das causas da sua morte o fato de a Comuna ter utilizado com insuficiente energia a sua força armada para reprimir a resistência dos exploradores.

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A resistência tem realmente de ser quebrada. É precisamente a esse quebrar que, em linguagem científica, chama-se ditadura do proletariado, que todo um período histórico caracteriza-se pela repressão da resistência dos capitalistas, caracteriza-se, por conseguinte, por uma violência sistemática sobre toda uma classe (a burguesia), sobre os seus cúmplices.

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Seus gritos de comediantes sobre a "liberdade" (a liberdade dos capitalistas de oprimir o povo), etc. Eles estariam dispostos a reconhecer o socialismo se a humanidade saltasse para ele de golpe, com um salto espetacular, sem fricções, sem luta, sem ranger de dentes da parte dos exploradores, sem diversas tentativas da sua parte de defender os velhos tempos ou de voltar a eles por caminhos desviados, às ocultas, sem repetidas "respostas" da violência revolucionária proletária a essas tentativas. Estes parasitas intelectuais da burguesia estão "dispostos", como diz o conhecido provérbio alemão, a lavar a pele desde que a pele fique sempre seca.

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PARA A HISTÓRIA DA QUESTÃO DA PAZ INFELIZ - 7 de janeiro de 1918:

O governo socialista da Rússia encontra-se perante uma questão que exige uma solução inadiável; ou aceitar agora esta paz anexionista ou empreender imediatamente uma guerra revolucionária.

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Se nesse momento não há forças para prosseguir a guerra, não se comete a menor traição ao socialismo.

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Não nos livraremos completamente de um ou outro laço imperialista, e é evidente que não é possível libertar-se completamente dele sem derrubar o imperialismo mundial.

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Concluindo uma paz separada, libertamo-nos no maior grau possível, neste momento, de ambos os grupos imperialistas hostis, aproveitando a sua hostilidade e a guerra - que lhes dificulta um acordo contra nós -, aproveitamos para conseguir ter as mãos livres durante certo tempo para prosseguir e consolidar a revolução socialista. A reorganização da Rússia na base da ditadura do proletariado, na base da nacionalização dos bancos e da grande indústria, com um regime de troca natural de produtos entre a cidade e as cooperativas de consumo rurais dos pequenos camponeses é, economicamente, plenamente possível, na condição de termos garantidos uns meses de trabalho pacífico. E tal reorganização tornará o socialismo invencível tanto na Rússia como em todo o mundo, criando ao mesmo tempo uma base econômica sólida para um poderoso Exército Vermelho operário e camponês.

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Alguns dizem: "Não podemos assinar uma paz vergonhosa, infame, etc, trair a Polônia, etc."

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A CONTRIBUIÇÃO DA MULHER NA CONSTRUÇÃO DO SOCIALISMO - 28 de julho de 1919:

Não deixaremos pedra sobre pedra de todas as abjetas leis sobre as limitações dos direitos da mulher.

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A verdadeira emancipação da mulher, o verdadeiro comunismo, só começará onde e quando comece a luta das massas (dirigida pelo proletariado, que detém o poder do Estado), contra a pequena economia doméstica, ou melhor, onde comece a transformação em massa dessa economia na grande economia socialista.


Fonte:
http://www.marxists.org/portugues/lenin/index.htm

Mais:
http://www.amazon.com/Wall-Street-Bolshevik-Revolution-Capitalists/dp/190557035X
http://www.gutenberg.org/files/17350/17350-h/17350-h.htm
http://novaonline.nvcc.edu/eli/evans/his241/notes/calendar.html