domingo, 25 de maio de 2008

Temor e tremor

E continua a onda de tremeliques no solo da Princesinha do Norte. Imagino seu espanto, Princesa. Lá no seu boudoir, só deitada curtindo sua superioridade e seu tédio, de repente a confortável caminha com baldaquino dá uma sacudida, o espelho da penteadeira trinca. Em Sobral agora é assim. A cidadezinha dos habitantes fanfarrões, da curvatura da luz e da terra em transe.

Não é que apareceram notícias de agitação tectônica aqui na capital também?

O que vem é a curiosidade de como ficaria a paisagem se esses fenômenos saíssem da fase fraldinha e atingissem a condição madura e não-eufemismável de terremotos (o que talvez soe completamente abestado; não estou considerando detalhes rigorosos quanto a geologia).

Só sei é que seria um baita golpe em um ponto daquele que é um dos mais estimados e estimulados bovarismos de brasileiros das mais diversas latitudes, ou seja, a lengalenga "O Brasil é um país maravilhoso! Uma pátria abençoada! Por aqui não há terremotos ou tsunamis. Temos um povo alegre, honesto e trabalhador, além de uma natureza fértil e generosa. Só não somos uma nação de Primeiro Mundo devido à corrupção dos políticos."

Já vejo até os moradores de Fortaleza de Nossa Senhora andando paranóicos pelo Centro, que nem um personagem de um dos livros do caduco nobelizado José Saramago:

- Macho, tu viu isso? Sentiu isso?
- Isso o quê, doido?
- ...

O ficcional indivíduo mencionado, e somente ele em toda a historinha, tinha a capacidade de perceber tremores no chão, os quais, como se viu depois, estavam relacionados a um acontecimento inusitado, bla bla bla.

Mas aos grandes humanistas de plantão, aviso que por enquanto não carece de vocês se preocuparem com a gente. Nada ainda envolvendo desabrigados, feridos, desaparecidos, mortos, desabamentos, órfãos, esses itens estilo CNN. Pensem no humorista cearense Chico Anysio. Lembram-se do vampiro Bento Carneiro? Todas as vezes que seu comportamento vacilante e assustadiço frente a situações e a seres sinistros causava estranheza a alguém, surgia a indagação "Mas o senhor não é vampiro?", à qual Bento prontamente respondia com a justificativa "Vampiro brasileiro, pfff". Pois digo: abalo sísmico brasileiro, pfff.