quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Comunicações

Trechos de Catástrofe - 1914: A Europa Vai À Guerra (2014), de Max Hastings.


Os russos estavam decididos a reagir ao assalto da Áustria contra a Sérvia. O governo francês comprometera-se a apoiá-los, fortemente influenciado pela certeza de que, se viesse a guerra, os alemães atacariam a França primeiro. A poderosa estação de rádio da Torre Eiffel permitiu ao adido militar russo manter contato com São Petersburgo durante toda a crise, a despeito da interferência alemã.

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O Hôtel Astoria em Paris foi fechado sob a acusação de que seu gerente alemão instalara no telhado aparelhos para interceptar mensagens radiotelegráficas francesas.

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A estação de rádio da torre Eiffel, de potência formidável, interceptou as mensagens alemãs sobre esse movimento [rumo à fronteira suíça]; dentro de poucas horas, uma cópia da ordem decisiva estava na mesa de Joffre.

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Mensagens de rádio de e para os fronts tinham de passar por várias estações de retransmissão, com atrasos que chegavam a incríveis vinte horas. Os comandantes de exército não se incomodavam muito com esse problema, porque, assim, ficavam livres da interferência indesejada do chefe de estado-maior. Mas a consequência disso foi que Moltke não acompanhou de perto a campanha, e sua falta de compreensão do desenrolar dos fatos acabou se institucionalizando. Cada subordinado seu agia como achava melhor.

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As comunicações eram dificultadas pela escassez de rádios, e os comandantes se viram obrigados a comunicar-se às claras, porque cada corpo de exército utilizava um código diferente. Os invasores dispunham apenas de 25 telefones e 130 quilômetros de fios.

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Em Marienburg, menos de 24 horas depois de Hindenburg assumir o comando, duas mensagens de rádio do inimigo, de linguagem em claro, foram interceptadas. Elas revelaram que forças de Rennenkampf e Samsonov tinham se afastado uma da outra e não podiam proporcionar apoio recíproco. A mensagem do obsequioso comandante do Primeiro Exército também informava aos alemães as direções de marcha de cada corpo de exército de Samsonov. Na nova era das comunicações sem fio, todos os beligerantes tinham muito a aprender sobre a segurança do éter - na Frente Ocidental, os franceses interceptaram importantes mensagens inimigas en clair [não cifradas] e decifraram vários códigos alemães -, mas as consequências desse lapso russo foram bastante significativas.

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Samsonov dependia, para se comunicar com Rennenkampf e com seu próprio quartel de retaguarda, de mensageiros que viajavam de carro até um distante rádio-transmissor, e às vezes até Varsóvia.

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Os radiotransmissores, que apareceram menos de uma geração antes, eram poucos e pesados, disponíveis apenas nos quartéis-generais superiores; não tinham grande alcance, nem confiabilidade. Os aparelhos "de centelha" de 1914 também eram incapazes de sintonia fina, e os sinais dispersavam-se por todas as frequências de ondas longas conhecidas, sendo, portanto, suscetíveis a imediata interceptação. A tecnologia das válvulas, que tornou possível a transmissão em banda estreita, só foi inventada nos Estados Unidos em 1913 e amplamente usada na Europa apenas dois anos depois. Além disso, muitos códigos empregados pelos beligerantes foram decifrados pelos inimigos. Em posições estáticas, as formações eram acessíveis pelo telégrafo ou telefone, mas, em movimento, só podiam receber mensagens através de mensageiros, alguns usando veículos motorizados, mas muitos ainda a cavalo.

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Moltke descobriu, por interceptações de rádio, que a Força Expedicionária Britânica avançava no vazio entre Kluck e Bülow, mas permaneceu confuso no tocante à situação geral. Também se deixou alarmar pela ameaça às suas linhas de comunicação representada pelos belgas, que tinham saído da Antuérpia em 25-26 de agosto para fazer rápidas incursões.

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Naquela época, quando os aparelhos de rádio ainda não eram de uso universal, muitas embarcações continuavam ignorantes da turbulência europeia até aportarem. Em 9 de agosto de 1914, um cruzador alemão capturou uma escuna belga cujos tripulantes não faziam ideia de que se haviam tornado inimigos. A tripulação de uma traineira alemã, amistosa em sua inocência, aplaudiu com vontade quando o cruzador britânico Southampton se aproximou para apreendê-la.

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A Marinha Real padecia não apenas de uma confusa cadeia de comando, mas também de comunicações inadequadas. Seus aparelhos de rádio eram menos potentes do que os dos alemães.

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As permutas em combate [no mar] baseavam-se principalmente na tecnologia de Horatio Nelson - sinais por bandeira. Em distâncias curtas, eram mais confiáveis do que o rádio, mas no mau tempo tornavam-se indecifráveis.

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Naqueles tempos, o rádio ainda parecia milagre para os que tinham nascido antes de ele aparecer. A bordo do navio capitânia de David Beatty, o Lion, em Scapa Flow, certa noite na sala de rádio, um oficial pôs os fones de ouvido e escutou, em êxtase, conversas em Morse pelas ondas de rádio: "Ouvimos o comandante-chefe do Báltico; ouvimos Madri; ouvimos o comandante-chefe alemão em sua fortaleza no mar do Norte; e eu me diverti muito sintonizando ora os comandantes alemães, ora os britânicos - as duas vozes de significado tão infinito para nós -, contrastando os tons e imaginando o que estariam dizendo."

Graças à Sala 40, o alto-comando britânico logo tinha em seu poder muitas respostas para o lado alemão daquela charada. Um volume crescente de mensagens interceptadas por uma cadeia de estações receptoras do Almirantado, dispostas ao longo da costa oeste, era decodificado, traduzido e lido em poucas horas. Com relutância, a Marinha perdoava aos tradutores civis sua ignorância do jargão naval, que levou o Departamento de Operações a receber uma mensagem decifrada afirmando, por exemplo, que "o 2º Esquadrão de Batalha [alemão] sairá às pressas às duas da tarde e voltará ao porto de través às quatro da tarde". Como a Esquadra de Alto-Mar operava a partir de Wilhelmshaven, onde muitas ordens eram dadas por escrito ou por telefone, Reginald "Pisca-Pisca" Hall nunca poderia ter certeza de que ficaria sabendo de antemão todos os movimentos alemães. Mas, graças à excelência técnica de seus transmissores, os navios de Friedrich von Ingenohl comunicavam-se pelo rádio muito mais do que a Marinha Real. Além disso, uma das primeiras ações dos britânicos como beligerantes tinha sido romper as ligações submarinas de cabo telegráfico da Alemanha com o resto do mundo. Com isso, Berlim se viu obrigada a usar o rádio para transmitir comunicações internacionais de teor altamente sensível, e mensagens navais frequentemente avisavam a Grande Armada com horas de antecedência que o inimigo iria lançar-se ao mar.

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L'Action Française informou aos leitores que as redes de lojas Maggi e Kub eram, na verdade, centros de inteligência operados por oficiais prussianos que se haviam naturalizado franceses em preparação para a guerra; e que havia transmissores de rádio escondidos em todas as leiterias.

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Já em setembro [de 1914], o RFC - Royal Flying Corps - começou a fazer experiências, levando para o ar primitivos aparelhos de rádio, a fim de se comunicar com a artilharia.

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Nos quatro anos seguintes, a direção aérea de tiros de artilharia controlada por rádio tornar-se-ia uma das mais importantes inovações táticas do conflito.


Mais:
http://encyclopedia.1914-1918-online.net/article/communication_technology
http://www.appat.org/les-transmissions-durant-la-grande-guerre
http://www.patriotfiles.com/forum/showthread.php?t=110034
http://en.wikipedia.org/wiki/Cher_Ami
http://www.youtube.com/playlist?list=PLrWPsj6fVbeXChTdT-35SSkPHkUpVupZp