sexta-feira, 2 de maio de 2008

Vespeiro

Risível como pisotear o calo de determinadas idéias arraigadas por aí é que nem perturbar com vara curta uma casa de vespa. O autor da presepada leva ferroada de tudo quanto é lado, de insetinhos indignados por terem mexido em seu estimado vespeiro. Depois de nos acostumarmos, torna-se um esporte dar cutucadas em conceitos, aqueles vistos por uma acachapante maioria como certinhos e do bem. Mais por molecagem que por expor teses. Tipo dar um pedala-Robinho no sujeito e sair correndo. Esse povo nunca vai tomar jeito mesmo. Mais pela pretensão/diversão de ser chato que de ser convincente. E um grande lazer da espécie Chatus emeritus é azedar as festividades em torno de verdades provisórias travestidas de dogmas, instituídas e disseminadas por panelinhas, cada uma de acordo com suas conveniências em um momento específico.

E encomende o crachá de chato e persona non grata e eternamente amaldiçoado nas rodas de conversa guardiãs do bom gosto e da intelectualidade quem já falou que há instituição de caridade que é pilantra. Que educação não é sinônimo de nível de instrução escolar. Que velhice não é sinônimo de sabedoria. Que velhice não é a melhor idade. Que os antigos tempos não eram maravilhosos. Que existe pobre que não é manancial de virtudes. Que existe mulher burra demais. Que gente preta também pode ser incompetente. Que o filho recém-nascido da Zulmira é feio. Que sempre haverá guerras, algumas até razoavelmente justas. Que nada impede que um canalha artista crie obras-primas. Que ler toneladas de livros nada prova. Que apreciar Werner Fassbinder nada prova. Que ser vegetariano nada prova. Que freqüentar o museu do Louvre e o teatro La Scala nada prova. Que votou contra a proibição do comércio de armas de fogo. Que acha passeata invenção de desocupado. Que é o auge do trash ter um site antiEUA hospedado em um servidor norte-americano. Que é simplesmente esculhambação clamar por socialização (faz-me rir) pensando só na propriedade alheia. Que voto de analfabeto é uma tremenda avacalhação. Que é possível consolar outro apenas para afetar superioridade. Que muito filantropo está nessa para dar uma aliviada em sentimento de culpa e/ou fazer auto-promoção. Que trambiqueiros faturam alto no ramo do coitadismo. Que riu de um ceguinho que levou uma topada e caiu no meio da rua. Que já teve vontade de encostar a ponta de um cigarro aceso bem na bochecha de um fedelho malcriado. Que alguns habitantes de paraísos turísticos não são alegres e hospitaleiros. Que brincava de torturar calangos. Que a balada com gente bonita e interessante restringe-se à ficção da propaganda. Que nutria ódio pelo pai e pela mãe quando era adolescente debilóide. Que a expressão "sabedoria popular" às vezes é uma contradição em termos. Que irmãos não têm a missão de gostar uns dos outros. Que idem para vizinhos e funcionários do escritório. Que foi um progresso terem surrupiado as terras dos índios por aqui. Que o período de governo militar foi o que de menos ruim poderia ter acontecido ao Brasil. Que nem todo mundo que curte muita televisão é cretino*. Que aquele bigodudo da União Soviética mandava matar geral**. Que esse papo de liberdade total é atraso de vida. Que falar de amor pode ser uma estratégia para extrair grana de abestados. Que o MST é gangue de caipiras, massa de manobra. Que a igreja a que o beltrano pertence prega asneiras gritantes. Que corremos o risco de não sermos felizes para sempre. Que o adúltero nem sempre é descoberto. Que na África negros vendiam negros inimigos aos brancos na época da escravidão. Que abstêmio não significa boa pessoa. Que é fajuta a obrigação de simpatizar com boiolagem e sapatagem. Que dinheiro traz felicidade.

* Fica a dica: Fazer pouco caso desse e de outros itens pode ser controversamente divertido e desopila o fígado. Experimentem.

** Experimento: Eu adoraria despachar um colega de trabalho, campeão de embromation e de reclamação, para uma temporada no Arquipélago Gulag. Eu assinaria um canal pay-per-view que mostrasse o lazarento o dia inteiro quebrando pedra sob o implacável frio siberiano. Quando chegasse a exaustão, ele cairia no chão e um rottweiler pularia estabanado em cima dele e o devoraria como uma bisteca de segunda. Tudo com a benção do Guia Genial. Sou bonito***?

*** Ei, Nonato, é brincadeira, viu? Não fique bravo. Esqueça isso de gulag. Só o tirinho protocolar na sua nuca já me contentaria.