- Quer convencer-me de que os seus livros não se parecem consigo?
- Oh, claro que sim, absolutamente nada!
- Se alguém afirmasse que o reconhecia nos seus livros, o que lhe diria?
- Oh, claro que sim, absolutamente nada!
- Se alguém afirmasse que o reconhecia nos seus livros, o que lhe diria?
- Oh! Não me reconhecem nada, reconhecem... o tanas. Não me reconhecem absolutamente nada!
(extraído daqui)
Dêem uma brechada de leve nessa massamorda irrequieta. Escritores, jornalistas, satiristas, panfletários, colunistas, blogueiros, com suas inseparáveis e surradas palavras mágicas tais como denunciar, protestar, polemizar, soltar o verbo, cutucar a ferida e todo esse papo de contracapa de livro do Jorge Amado. Por mais legítimas e válidas que pareçam suas opiniões, por que acreditar que eles (ou eu) vivam num mundo à parte daquilo que tanto criticam? Ou que não tenham algum aspecto réprobo diverso daqueles pelos quais eles conquistaram fama e sucesso ao desancar? Pode ser um pecado pensar mal dos outros, mas raramente será um erro. E eu gostaria muito de ter inventado essa frase, porém ela é do piadista H.L. Mencken. E antes isso que fabricar pelas esquinas heróis pretensamente 100% probos, idôneos e com palavreado e postura acima de qualquer crítica.
Pelo menos para mim, reles amador, escrita não passa de um exercício de: observação, imaginação, estilo, ortografia, vocabulário e gramática. Todos os meus movimentos são friamente calculados. O leitor que levar a sério demais quem escreve e as idéias subjacentes aos rabiscos, será por sua conta e risco. Risadas quando enceno mentalmente o encontro do incauto fã com seu autor favorito. "Cara, me identifico com tuas obras, tá ligado? Tira uma foto comigo!" Choveriam especulações a respeito do objeto de tamanha tietagem. Deve tratar-se de um iluminado auscultador do comportamento humano e árbitro de costumes, no estilo ermitão no alto da torre com uma luneta, a recolher a matéria-prima de seus belos textos e que raramente se mistura aos meros mortais. Mas que nada, talvez seja apenas o Arnaldo Jabor ou mais um do clã Gasparetto.
E haja grita - via editorial, redação do colégio, seção de cartas, blog - contra a ganância das grandes corporações, o aquecimento global, a febre consumista, a futilidade das novas gerações, a insensibilidade das elites, a TV alienadora, a falta de leitura. Aí me lembro é do Jotapê Traste, ops, Sartre, e seu "o inferno são os outros". Porque é brincadeira de playground estar sempre disposto a apontar, com o dedo sujo de ranho, a cota de enxofre das vizinhanças. E ainda faturar e$crevendo sobre. Dificílimo, no território do utópico, é cada um detectar em si porções do reino do tinhoso.
Falando nisso, reparem só naqueles dois sujeitos. Um desmascarou uma rede de pedofilia em que tubarões da elite paulistana foram punidos; ele protagoniza uma coluna de jornal na qual faz duras diatribes à sociedade em geral; ele é um molestador de crianças. E o do lado, criou uma vacina que salvou vidas (by âncora de telejornal) no norte do país e publica poemas de temática pacifista em seu site pessoal; ele espanca a esposa freqüentemente. E eu, que apontei para essa dupla com o indicador sedento de cagüetagem? A-ha! Sintam-se à vontade para descobrir podres meus também. Divirtam-se. Apesar do teto de vidro não-blindado.