GAZETA RUSSA
10 de fevereiro de 2014
A Guerra Desconhecida
Há cem anos começava a Primeira Guerra Mundial, que para muitos na Rússia e no mundo permanece uma guerra desconhecida.
(Iaroslav Butakov)
Para boa parte das pessoas, a Primeira Guerra é muitas vezes retratada como uma chacina sem sentido. Ela fez nascer a revolução socialista de 1917 e resultou para a Rússia em perda de territórios. Será então necessário recordá-la? Sim, é necessário. No mínimo porque pelo menos cerca de dois milhões de nossos compatriotas deixaram suas vidas nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.
"Agora temos que intervir não apenas por causa do nosso país injustamente ofendido, mas para proteger a honra, a dignidade e a integridade da Rússia e sua posição entre as grandes potências", estava escrito no manifesto do imperador russo Nicolau no dia 20 de julho (2 de agosto pelo calendário gregoriano), em 1914, e publicado no dia seguinte à declaração de guerra à Rússia por parte da Alemanha.
Proteger a honra, a dignidade e a integridade. Estas não são palavras vazias. A agressão da Alemanha contra a Rússia foi realmente um fato histórico. Desde os anos 80 do século 19 que os pangermanistas tinham planos para desmembrar a Rússia. Em 1914, foi apresentado ao kaiser Guilherme 2º um relatório que recomendava limpar os Estados dos Balcãs, a Bielorrússia e a Grande Rússia a oeste da linha de Petrogrado-Smolensk para o reassentamento dos alemães. No verão de 1915, 1.347 professores alemães em congresso em Berlim assinaram um memorando afirmando que todo o território a oeste do rio Volga deveria ser entregue à colonização alemã. Assim, o Exército russo combateu naquela guerra acima de tudo pela liberdade e independência de sua pátria.
Anos mais tarde, ninguém menos que Winston Churchill sentiu que era seu dever recordar aos habitantes do Império Britânico e dos Estados Unidos a contribuição da Rússia para a vitória da Tríplice Entente (aliança militar entre o Reino Unido, a França e a Rússia). No início dos anos 1930, sob o nome de "A Guerra Desconhecida: Frente Oriental", saíram reunidos em um livro fragmentos do grande trabalho de Churchill inteiramente dedicado à Primeira Guerra Mundial. A palavra do título foi exata - desconhecida.
Na França, por exemplo, há um monumento aos soldados das brigadas russas especiais. Mas na Grécia e na Macedônia, onde, integrados nas forças multinacionais dos aliados, também lutaram as brigadas russas especiais, não existe nada do gênero até hoje. As proezas dos soldados russos nos Balcãs entre os anos 1916 e 1918 não estão registradas em lugar algum. Um filme e muitos livros foram feitos sobre os russos que morreram nos campos de batalha da França. Mas sobre as tropas russas na frente de Salônica existem apenas dois ou três artigos e nada mais.
Na Turquia, na ponta da península de Gallipoli, na saída para o estreito de Dardanelos, onde em 1915 aconteceu uma das batalhas da Primeira Guerra Mundial, ainda no tempo de Mustafa Kemal Atatürk foi erigido um enorme complexo memorial dedicado aos soldados turcos e britânicos. "Descansem em paz. Para nós não há diferença entre Johnny e Mehmet, que jazem juntos no nosso país", lê-se em um dos monumentos. Por que semelhante memoriais com o mesmo espírito não podem ser construídos nos locais onde batalhas bem maiores entre os exércitos russo e turco tiveram lugar na Primeira Guerra Mundial? Em Erzurum, Trebizonda ou Erzincan?
Para a Rússia, a guerra de modo algum terminou com a assinatura da paz de Brest. Ela continuou depois. No inverno de 1918-1919, as tropas soviéticas russas tomaram novamente as fronteiras ocidentais do antigo Império Russo. E a guerra com a Polônia em 1920 também tem tudo para ser considerada como uma continuação da Primeira Guerra Mundial.
Analisando em uma escala maior, toda esta guerra pode ser considerada apenas como a primeira fase ativa da Grande Guerra Patriótica dos Trinta Anos, que foi de 1914 a 1945. Nestes 32 anos, a Rússia combateu 14 exércitos em grandes guerras externas. Só em 1925 é que os últimos intervencionistas deixaram o solo russo (os japoneses da Sacalina do Norte). Em 1929 houve um conflito na estrada de ferro Leste-China. E já em 1937 começavam novos conflitos com o Japão no Extremo Oriente (o incidente de Blagoveschensk). Em seguida, são bem conhecidos os eventos até 1945.
A Guerra Patriótica não foi combatida para tomar terras estrangeiras, mas para garantir a independência nacional.
Fonte:
http://br.rbth.com/arte/2014/02/10/a_guerra_desconhecida_24091
Mais:
http://www.questia.com/library/407299/fateful-years-1909-1916-the-reminiscences-of-serge
http://www.youtube.com/watch?v=0-t2gN0nur8
10 de fevereiro de 2014
A Guerra Desconhecida
Há cem anos começava a Primeira Guerra Mundial, que para muitos na Rússia e no mundo permanece uma guerra desconhecida.
(Iaroslav Butakov)
Para boa parte das pessoas, a Primeira Guerra é muitas vezes retratada como uma chacina sem sentido. Ela fez nascer a revolução socialista de 1917 e resultou para a Rússia em perda de territórios. Será então necessário recordá-la? Sim, é necessário. No mínimo porque pelo menos cerca de dois milhões de nossos compatriotas deixaram suas vidas nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial.
"Agora temos que intervir não apenas por causa do nosso país injustamente ofendido, mas para proteger a honra, a dignidade e a integridade da Rússia e sua posição entre as grandes potências", estava escrito no manifesto do imperador russo Nicolau no dia 20 de julho (2 de agosto pelo calendário gregoriano), em 1914, e publicado no dia seguinte à declaração de guerra à Rússia por parte da Alemanha.
Proteger a honra, a dignidade e a integridade. Estas não são palavras vazias. A agressão da Alemanha contra a Rússia foi realmente um fato histórico. Desde os anos 80 do século 19 que os pangermanistas tinham planos para desmembrar a Rússia. Em 1914, foi apresentado ao kaiser Guilherme 2º um relatório que recomendava limpar os Estados dos Balcãs, a Bielorrússia e a Grande Rússia a oeste da linha de Petrogrado-Smolensk para o reassentamento dos alemães. No verão de 1915, 1.347 professores alemães em congresso em Berlim assinaram um memorando afirmando que todo o território a oeste do rio Volga deveria ser entregue à colonização alemã. Assim, o Exército russo combateu naquela guerra acima de tudo pela liberdade e independência de sua pátria.
Anos mais tarde, ninguém menos que Winston Churchill sentiu que era seu dever recordar aos habitantes do Império Britânico e dos Estados Unidos a contribuição da Rússia para a vitória da Tríplice Entente (aliança militar entre o Reino Unido, a França e a Rússia). No início dos anos 1930, sob o nome de "A Guerra Desconhecida: Frente Oriental", saíram reunidos em um livro fragmentos do grande trabalho de Churchill inteiramente dedicado à Primeira Guerra Mundial. A palavra do título foi exata - desconhecida.
Na França, por exemplo, há um monumento aos soldados das brigadas russas especiais. Mas na Grécia e na Macedônia, onde, integrados nas forças multinacionais dos aliados, também lutaram as brigadas russas especiais, não existe nada do gênero até hoje. As proezas dos soldados russos nos Balcãs entre os anos 1916 e 1918 não estão registradas em lugar algum. Um filme e muitos livros foram feitos sobre os russos que morreram nos campos de batalha da França. Mas sobre as tropas russas na frente de Salônica existem apenas dois ou três artigos e nada mais.
Na Turquia, na ponta da península de Gallipoli, na saída para o estreito de Dardanelos, onde em 1915 aconteceu uma das batalhas da Primeira Guerra Mundial, ainda no tempo de Mustafa Kemal Atatürk foi erigido um enorme complexo memorial dedicado aos soldados turcos e britânicos. "Descansem em paz. Para nós não há diferença entre Johnny e Mehmet, que jazem juntos no nosso país", lê-se em um dos monumentos. Por que semelhante memoriais com o mesmo espírito não podem ser construídos nos locais onde batalhas bem maiores entre os exércitos russo e turco tiveram lugar na Primeira Guerra Mundial? Em Erzurum, Trebizonda ou Erzincan?
Para a Rússia, a guerra de modo algum terminou com a assinatura da paz de Brest. Ela continuou depois. No inverno de 1918-1919, as tropas soviéticas russas tomaram novamente as fronteiras ocidentais do antigo Império Russo. E a guerra com a Polônia em 1920 também tem tudo para ser considerada como uma continuação da Primeira Guerra Mundial.
Analisando em uma escala maior, toda esta guerra pode ser considerada apenas como a primeira fase ativa da Grande Guerra Patriótica dos Trinta Anos, que foi de 1914 a 1945. Nestes 32 anos, a Rússia combateu 14 exércitos em grandes guerras externas. Só em 1925 é que os últimos intervencionistas deixaram o solo russo (os japoneses da Sacalina do Norte). Em 1929 houve um conflito na estrada de ferro Leste-China. E já em 1937 começavam novos conflitos com o Japão no Extremo Oriente (o incidente de Blagoveschensk). Em seguida, são bem conhecidos os eventos até 1945.
A Guerra Patriótica não foi combatida para tomar terras estrangeiras, mas para garantir a independência nacional.
Fonte:
http://br.rbth.com/arte/2014/02/10/a_guerra_desconhecida_24091
Mais:
http://www.questia.com/library/407299/fateful-years-1909-1916-the-reminiscences-of-serge
http://www.youtube.com/watch?v=0-t2gN0nur8