Há um colega meu que é o que se pode chamar de rematado cafajeste. Que
Don Juan, Casanova, Seu Quequé, Vadinho, Jece Valadão que nada, ele
sim que é O Cafa.
Para analogia didática e botequinesca de como é a relação do dito cujo com as fêmeas, imaginem um usuário-padrão de palitos de dente. Pega um, usufrui, descarta, pega outro, usufrui, descarta, pega dois juntos, usufrui... Sem esquecer os desagradáveis extras: em local público, emitindo ruídos e com a mão em concha em frente à boca.
Um dia, porém, como se resultado de uma roleta russa, ele inventou de apostar em, er, algo sério. E que horror (terrir?) essas expressõezinhas - algo sério, alma gêmea, cara-metade, azaração, pintou um clima -, não acham? À meia-noite levarei sua breguice. Escusado dizer que, paralelo e não obstante a isso, a rotina de affaires do predador continuaria. Arranjou uma moça cobaia, etc etc.
Um dia, porém [2], a amada-para-apresentar-à-mamãe descobre as parcerias e consórcios de seu rapaz. Talvez com a ajuda de uma dessas revistas de mulherzinha, numa reportagem de 4 páginas intitulada Dicas para saber se ele trai você. "The perfect sky is torn", reza um trecho da bonitinha Torn, antiga canção hit da bonitona australiana Natalie Imbruglia.
Ele, artista das fugas, mestre das desculpas esfarrapadas, que sempre farejava o momento certo para aplicar a saída pela esquerda, profissional que jamais havia experimentado o que é ser capturado, perdeu sua invencibilidade de Carmen Sandiego logo para uma qualquer que escrevia poesia (?) em agendinha da Ivete Sangalo. Ela contou para amigas que marcaria uma conversa com o saltador olímpico de cerca e daria por encerrado o romance. Mas fuxico é brasa que se espalha. Rumores da crise chegaram a conhecidos do casal. Alertaram o sujeito sobre o teor do colóquio. Ele foi lá com a resignação de um condenado preparando o pescoço para o cepo. Daí, não sei os detalhes, parece é que a garota, novata na área de traições, não soltou uma recriminação ou ofensa sequer. Apenas caiu num choro inconsolável, quase pluvial, paradoxalmente conformado e desesperado, entrecortado por inócuos "por quê?" e "como?". Não é que o femeeiro, de longa data e de crachá, testemunha oscular da escória, sentiu-se um traste?
Constrangimento de iniciante. Explico. Sacam os fãs incondicionais de guerra? Alguns deles não suportam olhar para um botão de sangue que brota do dedo em acidente durante trabalho manual com estilete. Como eles não se comportariam ao lidar com corpos desmembrados por obuses, crianças 40% estraçalhadas por granadas e fileiras de bárbaros desfigurados por tiros de M16? Bem melhor ser entusiasta bélico (seja o conflito justo ou não) sentado no sofá e assistindo à Dança dos Famosos. Tentem não enxergar ironia aqui. Da mesma maneira, eu, apreciador de churrascos, não preciso me envolver no cruento cotidiano de um matadouro. Pois o atleta da testosterona, fanfarrão quando o assunto era sua desenvoltura multitarefa, além das táticas para manter casos simultâneos e ocultar delitos eróticos, ele não passava de um fuleiro estrategista de gabinete. Nunca antes na história desse país ele fora posto à prova no front das infidelidades e suas conseqüências. E ficou mal, vejam só. Ferido gravemente. Sem companheiros de batalha que lhe trouxessem a dobradinha maca & cigarro. As enganadas ainda não tinham a carga dramática de uma vítima, para ele eram meras abstrações, que nem as estatísticas da clássica frase erroneamente atribuída ao bigodón Stalin. Tive o azar (roleta russa [2]?) de ser escolhido por ele para bancar o homem-divã. E foi assim, em forma de desabafo, que ouvi o enredo.
Gato escaldado, dali em diante tornou-se mais precavido e menos descarado em suas aventuras poligâmicas. Provavelmente, não tanto por querer respeitar a turma feminina quanto por evitar reincidir na condição de estelionatário de consciência pesada pós-flagra. Embora eu suspeite que um biltre consiga acostumar-se até ao fardo da sensação ruim, claramente rumando para a insensibilidade pura e simples. Ele já tem uma nova e apaixonada-para-toda-a-vida namorada oficial.
Para analogia didática e botequinesca de como é a relação do dito cujo com as fêmeas, imaginem um usuário-padrão de palitos de dente. Pega um, usufrui, descarta, pega outro, usufrui, descarta, pega dois juntos, usufrui... Sem esquecer os desagradáveis extras: em local público, emitindo ruídos e com a mão em concha em frente à boca.
Um dia, porém, como se resultado de uma roleta russa, ele inventou de apostar em, er, algo sério. E que horror (terrir?) essas expressõezinhas - algo sério, alma gêmea, cara-metade, azaração, pintou um clima -, não acham? À meia-noite levarei sua breguice. Escusado dizer que, paralelo e não obstante a isso, a rotina de affaires do predador continuaria. Arranjou uma moça cobaia, etc etc.
Um dia, porém [2], a amada-para-apresentar-à-mamãe descobre as parcerias e consórcios de seu rapaz. Talvez com a ajuda de uma dessas revistas de mulherzinha, numa reportagem de 4 páginas intitulada Dicas para saber se ele trai você. "The perfect sky is torn", reza um trecho da bonitinha Torn, antiga canção hit da bonitona australiana Natalie Imbruglia.
Ele, artista das fugas, mestre das desculpas esfarrapadas, que sempre farejava o momento certo para aplicar a saída pela esquerda, profissional que jamais havia experimentado o que é ser capturado, perdeu sua invencibilidade de Carmen Sandiego logo para uma qualquer que escrevia poesia (?) em agendinha da Ivete Sangalo. Ela contou para amigas que marcaria uma conversa com o saltador olímpico de cerca e daria por encerrado o romance. Mas fuxico é brasa que se espalha. Rumores da crise chegaram a conhecidos do casal. Alertaram o sujeito sobre o teor do colóquio. Ele foi lá com a resignação de um condenado preparando o pescoço para o cepo. Daí, não sei os detalhes, parece é que a garota, novata na área de traições, não soltou uma recriminação ou ofensa sequer. Apenas caiu num choro inconsolável, quase pluvial, paradoxalmente conformado e desesperado, entrecortado por inócuos "por quê?" e "como?". Não é que o femeeiro, de longa data e de crachá, testemunha oscular da escória, sentiu-se um traste?
Constrangimento de iniciante. Explico. Sacam os fãs incondicionais de guerra? Alguns deles não suportam olhar para um botão de sangue que brota do dedo em acidente durante trabalho manual com estilete. Como eles não se comportariam ao lidar com corpos desmembrados por obuses, crianças 40% estraçalhadas por granadas e fileiras de bárbaros desfigurados por tiros de M16? Bem melhor ser entusiasta bélico (seja o conflito justo ou não) sentado no sofá e assistindo à Dança dos Famosos. Tentem não enxergar ironia aqui. Da mesma maneira, eu, apreciador de churrascos, não preciso me envolver no cruento cotidiano de um matadouro. Pois o atleta da testosterona, fanfarrão quando o assunto era sua desenvoltura multitarefa, além das táticas para manter casos simultâneos e ocultar delitos eróticos, ele não passava de um fuleiro estrategista de gabinete. Nunca antes na história desse país ele fora posto à prova no front das infidelidades e suas conseqüências. E ficou mal, vejam só. Ferido gravemente. Sem companheiros de batalha que lhe trouxessem a dobradinha maca & cigarro. As enganadas ainda não tinham a carga dramática de uma vítima, para ele eram meras abstrações, que nem as estatísticas da clássica frase erroneamente atribuída ao bigodón Stalin. Tive o azar (roleta russa [2]?) de ser escolhido por ele para bancar o homem-divã. E foi assim, em forma de desabafo, que ouvi o enredo.
Gato escaldado, dali em diante tornou-se mais precavido e menos descarado em suas aventuras poligâmicas. Provavelmente, não tanto por querer respeitar a turma feminina quanto por evitar reincidir na condição de estelionatário de consciência pesada pós-flagra. Embora eu suspeite que um biltre consiga acostumar-se até ao fardo da sensação ruim, claramente rumando para a insensibilidade pura e simples. Ele já tem uma nova e apaixonada-para-toda-a-vida namorada oficial.