domingo, 16 de novembro de 2014

Tsingtao

O cerco de Tsingtao [31/10/1914 a 7/11/1914] marcou a colisão de duas políticas seguidas por motivos políticos inteiramente internos. Como um teatro de sombras, o cerco apenas refletia outras preocupações mais importantes para os combatentes. A Alemanha tinha fundado sua colônia na China como parte da campanha de propaganda de Tirpitz, para construção da frota de batalha germânica. Tirpitz não podia confessar a um Reichstag receoso que ele pretendia desafiar a Marinha Real. Ele tinha problemas em explicar como uma grande frota alemã iria prejudicar a França ou a Rússia em uma guerra. Encontrou aliados no lobby colonial, argumentando que a prosperidade econômica germânica exigia um grande império colonial.

Depois das primeiras semanas da guerra, [o governador] Meyer-Waldeck decidiu que mais nenhum navio passaria pela rede aliada, que se apertava. Ele preparou a cidade para o sítio, esperando que a vitória na Europa o livraria das forças esmagadoras que se reuniam contra ele. Os alemães lançaram minas navais e terrestres, cercas de arame farpado e limparam os campos de fogo.

Os alemães tinham muitos suprimentos, mas teriam que ser cuidadosos com a munição (a carga anual de recompletamento de munição estaria para chegar em setembro).

Desde os estágios de planejamento, o estado maior do exército japonês abandonou todos os limites: mostrariam a precisão e cuidado do exército. Suprimentos e potência de fogo fluíram de forma abundante, de forma a manter as baixas pequenas. A nação iria admirar o aperfeiçoamento das técnicas militares japonesas, apagando as memórias dos banhos de sangue contra a Rússia em 1905.

O estado maior escolheu o General de Divisão Mitsuomi Kamio para o comando, um oficial conhecido mais pela cautela do que por seu brilho, ordenando-lhe que não se arriscasse a sofrer um revés: tinha que mostrar uma vitória exemplar e podia pedir qualquer coisa que precisasse.

Em 27 de agosto, o Segundo Esquadrão, sob o comando do Vice-Almirante Sadakichi Kato, começou o bloqueio a Tsingtao. A inteligência naval britânica suspeitava que o esquadrão germânico de cruzadores da Ásia Oriental já tinha zarpado, mas a Marinha japonesa não se arriscou. Uma frota moderna, de dois dreadnoughts, um cruzador de batalha e dois encouraçados pré-dreadnoughts reforçaram o Segundo Esquadrão, preparado para o combate contra todo o Esquadrão Germânico. A frota tomou três pequenas ilhas costeiras como pontos de observação e começou um cuidadoso processo de varredura de minas.

Em 30 de agosto, o clima piorou. Tsingtao, a "Riviera do Oriente", orgulhava-se de ter outonos suaves e secos. O de 1914 foi um dos mais úmidos na história e até os dias de hoje, pois tufões fora de época encharcaram toda a península. Naquela noite a tempestade forçou o contratorpedeiro japonês Shirotaye contra a costa, fazendo-o encalhar em uma ilha costeira. A tripulação escapou, mas o Jaguar, apoiado pelas baterias costeiras, saiu do porto e o destruiu.

A dois de setembro, os japoneses começaram a desembarcar em Lungkou, na parte norte da península. Quatro companhias de infantaria de marinha, apoiadas por uma companhia de metralhadoras do exército, por sua vez reforçada por marinheiros, rumaram para terra. Espalharam-se pela praia e não encontraram os alemães. Um batalhão de engenharia veio a seguir, construindo um píer flutuante e dois embarcadouros de pedra em 24 horas. Um regimento de cavalaria seguiu e, então, um regimento de infantaria, que reincorporou a companhia de metralhadoras destacada anteriormente. Neste momento o clima caprichoso tinha inundado a praia e uma cena de pesadelo era visível no caos de lama, arrebentação, chuva, vento e ruído. Os animais tropeçavam ao puxar os carroções atolados, caixotes eram levados para o mar e afundavam, controladores de praia histéricos xingavam os soldados exaustos.

Um hidroavião da marinha sobrevoou Tsingtao no dia 5, chocando os alemães, que não esperavam aeroplanos. O piloto relatou a presença do cruzador Austro-Húngaro, cinco canhoneiras, um contratorpedeiro e vários vapores.

Moradores ingleses começaram a formar forças voluntárias de autodefesa, liberando unidades do exército. O exército inglês reuniu uma pequena contribuição para o comando de Kamio: um batalhão de infantaria de linha desembarcaria com a artilharia de sítio japonesa, seguido por duas companhias de infantaria hindus.

Em 13 de setembro a cavalaria japonesa esbarrou no posto avançado alemão em Tsimo, na borda do protetorado. Os espantados germânicos fugiram depois de uma curta escaramuça. Os nipônicos tomaram Kiautschou no dia seguinte, cortando a ferrovia de Shantung. Excelentes estradas germânicas ligavam Tsingtao a estes pontos.

A sabedoria de Kamio em prever as intenções alemãs derivava de uma inteligência militar superior. Ambos os lados recrutavam mão-de-obra chinesa, e tentavam organizar os coolies da área como espiões. Alguns oficiais japoneses se disfarçavam como coolies, chegando mesmo a trabalhar nas linhas germânicas. O regimento de cavalaria japonês deslocou-se para patrulhar o lado mais distante (de terra) do porto, tornando o escape ou a entrada em Tsingtao muito difícil. A opinião pública chinesa, de certa forma, apoiava os japoneses, um sentimento que aumentava de forma mais marcante à medida que a derrota germânica se tornava iminente.

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Em 25 de outubro, toda a artilharia de sítio japonesa relatou estar pronta e em posição. Planejando um grande bombardeio, Kamio ordenou que nenhuma peça abrisse fogo até que cada uma delas tivesse sua dotação completa de munição, de 1.200 granadas. Nenhuma peça revelaria sua posição ao inimigo até que todas o fizessem. Ele queria que cada peça disparasse 80 granadas por dia. O estado maior planejava um bombardeio de sete dias, mas ele insistia em um suprimento para quinze dias. Para o ataque final, os engenheiros japoneses formaram pelotões de assalto equipados com granadas de fuzil e tubos de bambu cheios de explosivos (como os torpedos Bangalore, para limpar os alambrados).

Com as baterias terrestres de Tsingtao obviamente em ruínas, a artilharia de sítio mudou, em dois de novembro, os alvos para os redutos e arame farpado que os apoiavam. Naquela noite, os sitiantes cavaram sapas mais 300 metros para frente. No dia seguinte, algumas baterias obliteraram a geradora de eletricidade, enquanto a maior parte continuou a arrebentar os alambrados e esmagar os redutos. Os alemães começaram a abandonar os redutos, pois os tetos começaram a desabar. Naquela noite, os sitiantes cavaram a sua segunda paralela avançada de assalto. Na alvorada do dia 4 de novembro, uma companhia de infantaria japonesa, reforçada por um pelotão de engenheiros, atacou a estação de bombeamento de água. Ela caiu facilmente, resultando em 21 prisioneiros e os defensores tiveram que passar a se virar com água de poços. Dia após dia, a frota tinha martelado as baterias de costa até arruiná-las, enquanto as baterias de sítio arrebentavam o arame.

Meyer-Waldeck viu o fim se aproximar. Em 6 de novembro ele ordenou ao Taube para seguir para a China com seus últimos despachos. Os chineses enviaram os despachos para a Alemanha. Agora, sem alvos, a artilharia de sítio esmagava os pequenos pedaços de arame ou alvenaria abandonada que ainda podia encontrar.

Avançando pelo buraco no centro alemão, as forças japonesas se espalharam. Uma companhia de infantaria carregou até o topo da colina Iltis. Um holofote iluminou um tenente alemão reunindo seus homens com a espada na mão, no momento em que o capitão japonês subia o morro, liderando seus homens, também com a espada na mão. Piscando, os dois homens olharam um para o outro. Então, em uma incrível paródia de combate feudal, os dois oficiais lutaram um duelo de esgrima entre suas tropas. A espada de samurai provou ser muito superior à espada cerimonial de parada; o comandante japonês derrotou o seu oponente e os alemães se renderam.


Fonte:
http://www.grandesguerras.com.br/artigos/text01.php?art_id=95

Mais:
http://www.youtube.com/watch?v=ksdjeGD_4Z4