O
post anterior foi uma homenagem à maravilhosa e eterna Jane Austen, uma
das minhas obsessões literárias, um dos meus modelos de perfeição em
linguagem escrita.
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Foi
também uma homenagem aos amigos e aos inimigos com os quais vivi durante os
loucos e inesquecíveis derradeiros anos da década de 90, os últimos
suspiros do fascinante e assustador século XX. Acho que, pelas
referências, dava para perceber que eu contava situações ocorridas por
volta de 1999-2000.
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Qual não foi minha surpresa ao saber ontem do falecimento
de um dos personagens emblemáticos daquele período, o professor Itamar
Filgueiras. Foi o que me motivou a digitar esta edição extraordinária.
Figura famosa no ensino de Português no Ceará. Fui aluno dele em 2000.
Lembro sua característica bata - um par de pincéis atômicos no bolso -,
seu cabelo à Franz Kafka, sua volumosa pança eclesiástica/tamborística,
seu nariz de tucano, suas anedotas, sua voz profunda de locutor da era
de ouro do rádio anunciando uma música de Emilinha Borba e orações
coordenadas sindéticas. Estou em visita de feriadão na casa dos meus
pais. Encontrei o primo Roger e sua filhinha de poucos meses
(parabéns!). Encontrei o quase centenário vô Antonino e comentei com ele
a morte do ilustre docente. O bode velho, com a habitual grosseria que o
torna tão adorável, apenas observou o quanto alguns sujeitos caem fácil
nas garras da Indesejada. Não fala isso, vô, Deus castiga, protestei.
Olha a blasfêmia, moleque, reagiu. Saí correndo, para escapar do
bracinho de espaguete que desenhava no ar uma bengalada. Deixei-o
conversando sozinho, "Rapaz, me alembrei agora de um jogo da Copa da Suécia, nessa época minha véia inda era viva..." e bla bla bla.
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Também no
texto anterior, mencionei rapidamente o descartável grupo Sugar Ray,
autor de dois megahits executados à exaustão no rádio e na TV. Sofreram
superexposição e encheram o saco de muita gente. No Laranjato, sempre
havia alguém cantarolando-os, assoviando-os. Procurem pelo outro sucesso
deles, Someday. Tenho certeza de que o reconhecerão de imediato. "And fade away",
diz uma parte da letra, que reflete sobre a passagem do tempo. Cedo ou
tarde, esse será o destino de todos nós. Feliz Páscoa.