Imagino um intelectual que dançasse o moonwalk. Logo depois do aperto serelepe no saco, ele sai deslizando discósta
e pisa a travessa dentada de um ancinho. Claro que o cabo imediatamente
se ergue e bate com violência nele, provocando-lhe uma dor cavernosa ao
longo da coluna vertebral.
Gostaria de ver um intelectual ser desmoralizado, num típico final de episódio do Scooby-Doo. A mente brilhante devidamente amarrada com embira, Fred Jones vem, arranca a máscara de monstro do antagonista e diz: "Pensou que engabelaria a todos com esse papo de dialética hegeliana com abordagem deleuziana epistemológica hermenêutica cisgênero digressonormativa pilombêutica aplicada à novela A Usurpadora, hein?", no que o vilão retruca: "E eu teria conseguido, se não fossem vocês!"
Se vocês tiverem o azar de comparecer a um evento voltado para o público intelectual - festa estranha com gente esquisita -, testemunharão que lástima. Na entrada do prédio construído com financiamento da SBPC em parceria com o CNPq, diante do tapete vermelho, do toldo e do porteiro de libré, surge um fuscão preto. De dentro do exíguo veículo, saem 15 intelectuais, com ternos de tweed, óculos remendados com esparadrapo, gravatas-borboleta, pagers à cintura, canetas muitas canetas, bottons do Circo Garcia, cachimbos de fazer bolhinha de sabão, línguas-de-sogra, sapatos enormes, narizes postiços que buzinam e suspensórios. Um desavisado cumprimenta um dos recém-chegados e recebe um choque de consideráveis amperes. Um outro aproxima-se do Prof. Intélio, para elogiar-lhe a orquídea na lapela, e é atingido no olho esquerdo por uma rajada de soda cáustica. Quanto riso, quanta alegria, mais de mil intelectuais no salão. Arremesso de tortas, corrida de monociclos, girafinhas de bexiga, campeonato de pogo stick, revólveres que disparam uma bandeirinha na qual se lê **Bang!**. Um geômetra está tranqüilamente sorvendo um copo de suco de laranja e de repente nota uma aranha de plástico em um cubinho de gelo. Perto de uma suntuosa mesa de iguarias, ouve-se um "É pavê ou pacumê?". Uma orquestra executa, a sangue frio, sucessos de John Cage.
A seleção mirim de intelectuaizinhos, além de colecionar selos raros e brindes de Kinder Ovo, sofre bullying no colégio. Os que sobrevivem e não superam os traumas tornam-se franco-atiradores problemáticos ou vocalistas de bandas tipo Tediohead e Loser Manos.
Intelectuais apresentam programas soníferos e pretensamente descolados na TV Cultura, e cuja audiência é representada por um traço na aferição do IBOPE. Embora eu desconfie que o blog aqui, em termos de platéia, esteja na mesma situação.
Intelectuais adoram palpitar sobre filosofia, pintura, escultura, arquitetura, literatura, partitura, saracura e saravá, curupira e Carajás. Lembrem-se da clássica frase do ramo publicitário: "Não requer prática, tampouco habilidade."
Intelectuais mostrando sua biblioteca - os 10 mil volumes atrás dos quais eles tentam esconder a burrice e a insegurança - em casa para as visitas são iguais 1) aos adolescentes aloprados disputando quem tem o ding-a-ling maior; 2) ao povo de Orkut com fotos exibindo bíceps, tríceps e às vezes - os mais depravados - até fórceps.
Intelectuais, maçantes e previsíveis que são, vão falar que provavelmente a mulher do sujeito corneou-o com um(a) fã de Jacques Derrida, o que explicaria a suposta birra contra a categoria.
Quando intelectuais iniciam a costumeira torrente, análise de letra do Arrigo Barnabé, Museu Guggenhein, Bienal do Vazio, discotecagem acompanhada de declamação de T.S. Eliot, Escola de Frankfurt, teatro antiteatro de Beckett, fluxo de consciência, desconstrução, estética da incomunicabilidade e performance de nudez conceitual, é hora de tomar medidas drásticas.
Intelectuais são tão tapados e cabeça-de-macaúba que não sabem a diferença entre uma sátira e um lactobacilo vivo.
Gostaria de ver um intelectual ser desmoralizado, num típico final de episódio do Scooby-Doo. A mente brilhante devidamente amarrada com embira, Fred Jones vem, arranca a máscara de monstro do antagonista e diz: "Pensou que engabelaria a todos com esse papo de dialética hegeliana com abordagem deleuziana epistemológica hermenêutica cisgênero digressonormativa pilombêutica aplicada à novela A Usurpadora, hein?", no que o vilão retruca: "E eu teria conseguido, se não fossem vocês!"
Se vocês tiverem o azar de comparecer a um evento voltado para o público intelectual - festa estranha com gente esquisita -, testemunharão que lástima. Na entrada do prédio construído com financiamento da SBPC em parceria com o CNPq, diante do tapete vermelho, do toldo e do porteiro de libré, surge um fuscão preto. De dentro do exíguo veículo, saem 15 intelectuais, com ternos de tweed, óculos remendados com esparadrapo, gravatas-borboleta, pagers à cintura, canetas muitas canetas, bottons do Circo Garcia, cachimbos de fazer bolhinha de sabão, línguas-de-sogra, sapatos enormes, narizes postiços que buzinam e suspensórios. Um desavisado cumprimenta um dos recém-chegados e recebe um choque de consideráveis amperes. Um outro aproxima-se do Prof. Intélio, para elogiar-lhe a orquídea na lapela, e é atingido no olho esquerdo por uma rajada de soda cáustica. Quanto riso, quanta alegria, mais de mil intelectuais no salão. Arremesso de tortas, corrida de monociclos, girafinhas de bexiga, campeonato de pogo stick, revólveres que disparam uma bandeirinha na qual se lê **Bang!**. Um geômetra está tranqüilamente sorvendo um copo de suco de laranja e de repente nota uma aranha de plástico em um cubinho de gelo. Perto de uma suntuosa mesa de iguarias, ouve-se um "É pavê ou pacumê?". Uma orquestra executa, a sangue frio, sucessos de John Cage.
A seleção mirim de intelectuaizinhos, além de colecionar selos raros e brindes de Kinder Ovo, sofre bullying no colégio. Os que sobrevivem e não superam os traumas tornam-se franco-atiradores problemáticos ou vocalistas de bandas tipo Tediohead e Loser Manos.
Intelectuais apresentam programas soníferos e pretensamente descolados na TV Cultura, e cuja audiência é representada por um traço na aferição do IBOPE. Embora eu desconfie que o blog aqui, em termos de platéia, esteja na mesma situação.
Intelectuais adoram palpitar sobre filosofia, pintura, escultura, arquitetura, literatura, partitura, saracura e saravá, curupira e Carajás. Lembrem-se da clássica frase do ramo publicitário: "Não requer prática, tampouco habilidade."
Intelectuais mostrando sua biblioteca - os 10 mil volumes atrás dos quais eles tentam esconder a burrice e a insegurança - em casa para as visitas são iguais 1) aos adolescentes aloprados disputando quem tem o ding-a-ling maior; 2) ao povo de Orkut com fotos exibindo bíceps, tríceps e às vezes - os mais depravados - até fórceps.
Intelectuais, maçantes e previsíveis que são, vão falar que provavelmente a mulher do sujeito corneou-o com um(a) fã de Jacques Derrida, o que explicaria a suposta birra contra a categoria.
Quando intelectuais iniciam a costumeira torrente, análise de letra do Arrigo Barnabé, Museu Guggenhein, Bienal do Vazio, discotecagem acompanhada de declamação de T.S. Eliot, Escola de Frankfurt, teatro antiteatro de Beckett, fluxo de consciência, desconstrução, estética da incomunicabilidade e performance de nudez conceitual, é hora de tomar medidas drásticas.
Intelectuais são tão tapados e cabeça-de-macaúba que não sabem a diferença entre uma sátira e um lactobacilo vivo.