Falar do tal (19)68?
Eu voooou, por que não, por que nãããão...
Aquele período foi a grande cloaca com cheiro de sovaco de hippie que pariu a versão moderna da atual fauna de cretinos que tanto inspira meus dotes satíricos.
A meninada de colégio - chamá-los de estudantes soaria forçado demais - que, com atitude na veia podicrê, aproveitava a hora do recreio para atirar pedra no pelotão de choque ou quem sabe ficar tatuado com ferraduras de ginetes da guarda montada. Os músicos altamente politizados e engajados, cada um preocupado em valorizar a sigla MPB, "Meu Próprio Benefício". Os fãs de Sartre, o filósofo das multidões (aos que não lembram, era um francês que parecia um bulldog com síndrome de Down). A mulherada totalmente heróica e prafrentex, adornada com colares de miçanga, muito cônscia sim senhor a sacudir suas trancinhas sioux e a exigir seus direitos fundamentais: tomar pílula anticoncepcional, usar minissaia, coçar a virilha em público e deixar o buço crescer. Os intelectuais, que assumiam a dianteira das passeatas, reuniam-se em barzinho da moda a bebericar whisky adulterado e a discutir Gramsci, OPEP, os rumos da humanidade e besteiróis similares, sempre munidos de seus kits contendo óculos de grau com armação grossa, echarpe, boina, camiseta com pintura de Roy Lichtenstein, cavanhaque postiço, cigarro meio caído na boca ("in God-ard we trust") e postura blasé comprada no Beco da Poeira. Os negros com os refrões de praxe sobre reparação histórica. A galera universitária, antenada e militante como de costume, com sua admiração pelos regimes cubano e soviético, suas reivindicações e palavras de ordem com odor mais kitsch que coral choroso grunhindo música da Legião Urbana em velório de adolescente. Todos eles surgiram como brotoejas na pele de uma época mundana e sem futuro. E seus herdeiros andam por aí.
Entendo o auê midiático que explora a efervescência desse passado recente. Se infidelidades de atores, aventuras sexuais não-ortodoxas de futebolistas e o traseiro avantajado e disforme de uma dançarina de funk carioca têm seu espaço no noticiário, por que não? Por que nãããão...? E haja memorialismo festivo em torno da histrionice visual, sonora e ideológica da deslumbrada espécie fajuta por natureza e rebelada por cacoete.
E não vejo qual seria a graça de abordar aqui o pretenso saldo positivo e as conquistas - wow, meu São Bregônio! - dessa era turbulenta. Já existe uma ruma de gente pelo mundo fazendo isso, sob o signo da hipérbole.
68? Não, obrigado.
51, isso sim que é uma boa idéia.
Eu voooou, por que não, por que nãããão...
Aquele período foi a grande cloaca com cheiro de sovaco de hippie que pariu a versão moderna da atual fauna de cretinos que tanto inspira meus dotes satíricos.
A meninada de colégio - chamá-los de estudantes soaria forçado demais - que, com atitude na veia podicrê, aproveitava a hora do recreio para atirar pedra no pelotão de choque ou quem sabe ficar tatuado com ferraduras de ginetes da guarda montada. Os músicos altamente politizados e engajados, cada um preocupado em valorizar a sigla MPB, "Meu Próprio Benefício". Os fãs de Sartre, o filósofo das multidões (aos que não lembram, era um francês que parecia um bulldog com síndrome de Down). A mulherada totalmente heróica e prafrentex, adornada com colares de miçanga, muito cônscia sim senhor a sacudir suas trancinhas sioux e a exigir seus direitos fundamentais: tomar pílula anticoncepcional, usar minissaia, coçar a virilha em público e deixar o buço crescer. Os intelectuais, que assumiam a dianteira das passeatas, reuniam-se em barzinho da moda a bebericar whisky adulterado e a discutir Gramsci, OPEP, os rumos da humanidade e besteiróis similares, sempre munidos de seus kits contendo óculos de grau com armação grossa, echarpe, boina, camiseta com pintura de Roy Lichtenstein, cavanhaque postiço, cigarro meio caído na boca ("in God-ard we trust") e postura blasé comprada no Beco da Poeira. Os negros com os refrões de praxe sobre reparação histórica. A galera universitária, antenada e militante como de costume, com sua admiração pelos regimes cubano e soviético, suas reivindicações e palavras de ordem com odor mais kitsch que coral choroso grunhindo música da Legião Urbana em velório de adolescente. Todos eles surgiram como brotoejas na pele de uma época mundana e sem futuro. E seus herdeiros andam por aí.
Entendo o auê midiático que explora a efervescência desse passado recente. Se infidelidades de atores, aventuras sexuais não-ortodoxas de futebolistas e o traseiro avantajado e disforme de uma dançarina de funk carioca têm seu espaço no noticiário, por que não? Por que nãããão...? E haja memorialismo festivo em torno da histrionice visual, sonora e ideológica da deslumbrada espécie fajuta por natureza e rebelada por cacoete.
E não vejo qual seria a graça de abordar aqui o pretenso saldo positivo e as conquistas - wow, meu São Bregônio! - dessa era turbulenta. Já existe uma ruma de gente pelo mundo fazendo isso, sob o signo da hipérbole.
68? Não, obrigado.
51, isso sim que é uma boa idéia.