Teve a típica infância/aborrecência de aspirante a Nerdson Jr. do final
do século XX quem divagava lendo sobre os cursos do Instituto Universal
Brasileiro - que tinha propaganda em tudo que era revista em quadrinhos
-, desmontava relógio de pulso e de parede, pirava com o Pense Bem
(antes de dissecá-lo para conferir o que tinha dentro), torrava formigas armado com uma lupa
no jardim, queria ter um gerador de Van der Graaf, um
turco autômato jogador de xadrez, um pato de Vaucason ou um teremim como
brinquedo, estudou a física do bumerangue, sonhava imitar a experiência do Benjamim Franklin com a
pipa, tinha um carrinho de corrida cujo controle remoto um belo dia
começou a pegar uma estação FM,
colecionava metros de cabo coaxial, decorou o simples e grudento jingle
da Eletrônica Apolo, nas feiras de ciências inventava marmotas que
explodiam/fediam/queimavam/davam choque, leu O Homem Que Calculava e desistiu na metade de Uma Breve História Do Tempo,
brincava com ímã, fez trabalhos sobre o cubo de Rubik e a fita de Möbius, ganhou um Dynavision de primeiro video game, subia no
telhado para apontar sua antena véia ordinária para a parabólica do
vizinho na esperança de captar alguma sobra, discava códigos malucos em
telefone público, mexia adoidado na sintonia da TV procurando canal UHF
(e aí descobriu a MTV), adorava as cavilações do Professor Pardal e do
Dr. Emmett Brown, não perdia sequer um episódio das séries O Professor (com o japinha, lembram?) e O Mundo De Beakman
que passavam no canal 5 - e ousava repetir as experiências -, ensinou
aos parentes do longínquo interior sem energia elétrica como ligar a
televisão numa bateria Moura para assistir à Copa de 94, curtia manual
de eletrônica que era vendido em banca de jornal, enfim, quem teve gambiarras tecnológicas em geral fazendo parte da versão miniatura da
vida.